quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Nepal - Dia 11 (Phokara e Kathmandu)

Hoje assisti ao nascer do sol a reflectir a sua imensa luz sobre os Himalaias.

Em bom rigor poderia terminar por aqui o registo de mais um dia em território nepalês, porque um dia que bem cedo se iniciou - 6 horas da manhã - permite um avistamento de tamanha beleza não precisaria de muito mais que pudesse torná-lo de alguma forma ainda melhor.

Contudo, a minha "missão" é transformar esse e os restantes momentos vividos numa experiência literária, ainda que reconhecidamente modesta, que permita a que a lê percepcionar o melhor possível as sensações que resultam da vivência pessoal de uma viagem que, até ao momento, se tem revelado  absolutamente inolvidável.

Nessa medida o melhor será mesmo começar por referir que a vinda ao Nepal, ainda que de curta duração, não estava inicialmente prevista tendo surgido a possibilidade da sua inclusão, com um custo adicional que claramente justificava essa opção, na certeza de que a probabilidade de, num futuro mais ou menos imediato, agendar umas férias neste território não seria propriamente exequível.

A favor, a possibilidade de conhecer um novo país, em concreto, uma cidade mítica, a capital Kathmandu.

Contra, o facto de não haver certeza absoluta da situação da cidade, nomeadamente dos seus principais pontos de interesse, em consequência do fortíssimo sismo ocorrido no ano de 2015.

A verdade é que a opção se revelou totalmente acertada embora, curiosamente, a grande surpresa tenha sido a visita à cidade de Pokhara.

Se o dia de véspera já antevera a enorme beleza natural deste local, nada nos prepara para a imagem que se nos depara ao ter a possibilidade de ver o nascer do sol sobre os Himalaias, nomeadamente sobre uma das suas maiores montanhas, o Annapurna.

A partir de um terraço situado no monte Sarangkot, a cerca de 1400 mts de altitude, a imagem que vai surgindo aos nossos olhos à medida que o sol vai nascendo é inacreditavelmente bela.

Aos poucos o majestoso, silencioso, sagrado e até mesmo assustador Annapurna vai-se revelando, juntamente com a sua neve branca que, durante uns momentos, assume um tom rosado, parecendo que aqueles 8000 metros de altitude se erguem tão próximos de nós não parecem maiores do que a montanha a partir da qual presenciamos tão belo espectáculo da natureza.

Cada novo minuto é uma nova revelação e até as nuvens parecem querer ajudar a compor o memorável momento que se vivia, guardando para mais tarde o encerrar das "cortinas", como se a montanha fosse afinal um animal selvagem que apenas se deixa ver quando o próprio assim o entende.

Era então tempo de deixar aquele local e aquelas imagens impossíveis de descrever com a fiabilidade que o momento exigiria.

A despedida em beleza de Pokhara aproximava-se não sem antes podermos participar em mais um momento místico, num templo dedicado ao Deus Vishnu, o Deus protector, tendo tocado na estátua em sinal de respeito e sido, em seguida, brindado com o toque de tinta (tika) no centro da testa que, como se fora uma bênção, representa para os hindus a fonte da energia, a terceira visão.

Agora sim era tempo de nos despedirmos de Pokhara, um experiência que não nos poderia ocorrer no momento da decisão de fazer incluir ou não o Nepal no roteiro de viagem.

Dispensarei as referências à longa viagem de regresso, sabendo-se de antemão que os 200 kms a que me refiro estão longe de ser percorridos num curto espaço de tempo.

À chegada à capital que, diga-se, tem 2,5 milhões de habitantes, isto é, pouco menos de metade da totalidade da população do Nepal, revestia-se de alguma ansiedade uma vez que o tempo disponível para a conhecer era relativamente escasso, sobretudo tendo em conta que o sol se põe relativamente cedo.

Ainda assim foi possível visitar dois dos principais marcos culturais da cidade de Kathmandu, o tempo hindu de Pashupati, datado do século IV d.c., onde se fazem igualmente rituais de cremação, e onde é possível visualizar templos dedicados a Shiva, Deus da criação e da destruição, e Vishnu, anteriormente referido.

É também neste local que se podem encontrar dezenas de macacos, autênticos donos de todo aquele espaço, que reagem agressivamente se confrontados com um olhar por parte daquele que lhe sucedeu na evolução, e os santos, figuras humanas, dignas de postais ilustrados, que vivem na mais absoluta indigência e que se vestem e pintam de uma forma que apela ao mais profundo misticismo destes locais.

Noutro local da cidade a visita seguinte determinou a mudança de religião para o budismo no templo de Bouddhanath, onde se ergue ao centro uma imponente Stupa, edifício totalmente maciço onde existe sempre no seu interior uma relíquia, seja um osso, seja um livro sagrado.

Este edifício do século VI d.c. ficou parcialmente destruído com o terramoto, estando agora na fase final de reconstrução.

Trata-se de um local que é maioritariamente frequentado por monges tibetanos, fugidos da perseguição chinesa no Tibete, que ali formaram nos tempos mais recentes uma forte comunidade.

É tempo de nos despedirmos do Nepal, local a que apetece voltar um dia mais tarde para melhor o conhecer, e ir ao encontro de um território, novamente em solo indiano, que faz parte da história de portugal, e que remete para o ano de 1510 e ao almirante Afonso de Albuquerque.

Não sem antes repetir: hoje vi o sol nascer sobre os Himalaias.













Sem comentários:

Enviar um comentário