Em bom rigor poderia terminar por aqui o registo de mais um dia em território nepalês, porque um dia que bem cedo se iniciou - 6 horas da manhã - permite um avistamento de tamanha beleza não precisaria de muito mais que pudesse torná-lo de alguma forma ainda melhor.
Contudo, a minha "missão" é transformar esse e os restantes momentos vividos numa experiência literária, ainda que reconhecidamente modesta, que permita a que a lê percepcionar o melhor possível as sensações que resultam da vivência pessoal de uma viagem que, até ao momento, se tem revelado absolutamente inolvidável.

A favor, a possibilidade de conhecer um novo país, em concreto, uma cidade mítica, a capital Kathmandu.

A verdade é que a opção se revelou totalmente acertada embora, curiosamente, a grande surpresa tenha sido a visita à cidade de Pokhara.
Se o dia de véspera já antevera a enorme beleza natural deste local, nada nos prepara para a imagem que se nos depara ao ter a possibilidade de ver o nascer do sol sobre os Himalaias, nomeadamente sobre uma das suas maiores montanhas, o Annapurna.

Aos poucos o majestoso, silencioso, sagrado e até mesmo assustador Annapurna vai-se revelando, juntamente com a sua neve branca que, durante uns momentos, assume um tom rosado, parecendo que aqueles 8000 metros de altitude se erguem tão próximos de nós não parecem maiores do que a montanha a partir da qual presenciamos tão belo espectáculo da natureza.

Era então tempo de deixar aquele local e aquelas imagens impossíveis de descrever com a fiabilidade que o momento exigiria.
A despedida em beleza de Pokhara aproximava-se não sem antes podermos participar em mais um momento místico, num templo dedicado ao Deus Vishnu, o Deus protector, tendo tocado na estátua em sinal de respeito e sido, em seguida, brindado com o toque de tinta (tika) no centro da testa que, como se fora uma bênção, representa para os hindus a fonte da energia, a terceira visão.

Dispensarei as referências à longa viagem de regresso, sabendo-se de antemão que os 200 kms a que me refiro estão longe de ser percorridos num curto espaço de tempo.
À chegada à capital que, diga-se, tem 2,5 milhões de habitantes, isto é, pouco menos de metade da totalidade da população do Nepal, revestia-se de alguma ansiedade uma vez que o tempo disponível para a conhecer era relativamente escasso, sobretudo tendo em conta que o sol se põe relativamente cedo.
É também neste local que se podem encontrar dezenas de macacos, autênticos donos de todo aquele espaço, que reagem agressivamente se confrontados com um olhar por parte daquele que lhe sucedeu na evolução, e os santos, figuras humanas, dignas de postais ilustrados, que vivem na mais absoluta indigência e que se vestem e pintam de uma forma que apela ao mais profundo misticismo destes locais.
Noutro local da cidade a visita seguinte determinou a mudança de religião para o budismo no templo de Bouddhanath, onde se ergue ao centro uma imponente Stupa, edifício totalmente maciço onde existe sempre no seu interior uma relíquia, seja um osso, seja um livro sagrado.

Trata-se de um local que é maioritariamente frequentado por monges tibetanos, fugidos da perseguição chinesa no Tibete, que ali formaram nos tempos mais recentes uma forte comunidade.
É tempo de nos despedirmos do Nepal, local a que apetece voltar um dia mais tarde para melhor o conhecer, e ir ao encontro de um território, novamente em solo indiano, que faz parte da história de portugal, e que remete para o ano de 1510 e ao almirante Afonso de Albuquerque.
Não sem antes repetir: hoje vi o sol nascer sobre os Himalaias.
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