Entre Nova Deli e Jaipur são cerca de 235 kms o que, numa qualquer cidade europeia demorariam a percorrer, no máximo, cerca de 3 horas por auto-estrada.
Esse é precisamente o tempo que ocupam os primeiros 100 kms da viagem, sendo boa parte desse tempo passado no trânsito para sair de Nova Deli. Ou seja, os referidos 235 kms demoram qualquer coisa como 6 horas de viagem, de carro e por auto-estrada.
Entre as muitas obras que ocupam boa parte das faixas de rodagem em Nova Deli, o absoluto descontrolo no tráfego onde circulam simultâneamente milhares de carros, milhares de tuk-tuk, milhares de motas e, claro está milhares de pessoas que atravessam as estradas com a maior das descontracções.
Numa das ocasiões e porque à entrada de cada estado as viaturas comerciais têm de pagar uma taxa, o condutor (e todos os outros condutores que ali paravam) atravessou "nas calmas" 8 faixas de rodagem (a certo ponto são 16 faixas....) para pagar a dita taxa, regressando com a mesma tranquilidade de quem, de facto, deve acreditar em Ganesh, Shiva ou qualquer um dos milhares de deuses a quem os indianos prestam devoção.
De ora em diante a noção de trânsito passará certamente a ser outra, valendo no caso o facto da paisagem nunca se tornar monótona, tal é a diversidade que nos invade a cada novo quilometro.
O segundo conceito que se torna absolutamente relativo é o da noção de pobreza.
Nesse aspecto Jaipur torna mais evidente o muito reduzido nível de vida de boa parte dos indianos que sobrevivem (será forçado dizer que vivem) em condições sub-humanas, rodeados de enormes quantidades de lixo e de uma espécie de jardim zoológico ao ar livre.

De todo este "reino animal" são precisamente estas últimas que prosperam melhor (embora algumas pareçam ter menos sorte na vida de tão escanzeladas que são) porque, sendo considerado um animal divino, não acabam os seus dias num qualquer prato de restaurante nem seque servem para matar a fome a quem, afinal de contas, parece bem necessitado de comer.
A imagem de vacas a passear calmamente pela estrada ou simplesmente a "pastar" no lixo é recorrente e faz jus à fama.

Às vacas fica reservado o "papel" de fornecer o leite para beber, fazer manteiga ou queijo.
O terceiro conceito que se desmancha, por assim dizer, ao tomar contacto com a realidade local é de uma certa noção de felicidade, ainda que forçada pelas circunstâncias.
De facto não deixa de ser comovente ver meninos a brincar na rua ou nos telhados das suas "casas" lançando papagaios ao vento (que em bom rigor nem corre), como que indiferentes ao seu presente e mais ainda ao mais do que inevitável futuro de miséria.
Ao mesmo tempo percebe-se que quase todos têm o seu negócio particular, de dimensões tão exíguas que nem o epíteto de micro-empresa poderão ter, mas que cada um mantém para seu sustento, isento de ambições, como se aquilo se bastasse para ter o necessário para cada novo dia.
Não posso afirmar isto com total convicção e muito menos colocar-me na pele destas pessoas, mas posso pelo menos pensar - inocentemente, admito - que assim possa ser. Torna, pelo menos, mais "fácil" olhar para tamanha pobreza sem sentimento de "culpa" por sermos a outra face de um mundo que é, demasiadas vezes, demasiado injusto.
A cidade de Jaipur encontra-se rodeada por fortificações ancestrais que protegiam a cidade das invasões mongóis. Em cada um desses fortes é possível desfrutar de uma vista fantástica sobre a cidade que entretanto, tal como se verifica em quase toda a Índia, cresceu desmesuradamente, sendo hoje em dia os fortes e respectivas montanhas apenas testemunhas de um passado grandioso.
Não sendo um dia dedicado a visitas fica o registo de um jantar com direito a música tradicional que, mesmo "cheirando" a coisa para turista ver, não desilustra e sobretudo não pode deixar-nos influenciar por preconceitos desnecessários, aqueles mesmo de que voluntariamente nos "despimos" quando olhamos para tudo aquilo que está nos antípodas da atracção turística.
Fica, portanto, prometido o olhar sobre Jaipur para o quarto dia.
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