terça-feira, 4 de outubro de 2016

Índia - Dia 3 (Jaipur)

O terceiro dia de visita trouxe a possibilidade de passear pelas principais referências históricas, culturais e, por inerência, também turística, da cidade de Jaipur.
Esta cidade de 6,8 milhões de habitantes tem com referência a segunda maior montanha da Índia (embora de incomparável dimensão com a mais famosa de todas, os Himalaias), na qual imperam três fortificações interligadas por 12 kms de muralhas, impecavelmente conservadas, que ainda hoje parecem tão impenetráveis como o eram no tempo das invasões mongóis.

Uma dessas fortificações e a principal atracção turística de Jaipur corresponde ao Amber Fort, cuja imponência "esmaga" os nossos sentidos, sendo impossível uma sensação de comparação com o mosteiro de Potala no Tibete pela forma como se ergue pela montanha como se dela fizesse parte.

O Amber Fort fica situado num dos extremos da cidade, dentro de uma cidadela cujos edifícios originais incluindo as fundações do próprio Forte remontam ao século XI.

Supostamente o acesso ao seu interior deveria ter ocorrido montado na garupa de um elefante facto que se verificou ser impossível por coincidir com as festividades locais, altura que os passeios de paquiderme são suspensos, não sem alguma desilusão pessoal pelo facto.

No interior do Amber Fort, embora despido de conteúdo, reina a riqueza dos mármores, dos frescos nas paredes, o rendilhado esculpido na pedra e até, pasme-se, uma sala decorada com espelhos abaulados especialmente vindos do país na Europa que hoje em dia se chama de Bélgica, algo surpreendente se pensarmos que a encomenda foi feita no século XV...

Neste palácio de Reis e marajás viviam para além do soberano, as suas muitas mulheres e ainda mais concubinas, e tudo está desenhado para albergar os quartos das ditas senhoras, respeitando exemplarmente o recato/reclusão que lhes era imposto e o local de trabalho do próprio soberano.

Os homens, esses, ficavam à porta da fortaleza, posto que o seu interior apenas poderiam circular aqueles a quem o destino retirou a masculinidade, essas quase curiosidades humanas, denominadas de eunucos.

A vista das muralhas do Forte é o que se espera e se antecipa, chega até onde a vista alcança.

Como em quase tudo na Índia também este Forte está dedicado a uma divindade, Shila Devi, existindo no seu interior um templo ao qual apenas se pode aceder descalço e sem qualquer objecto de cabedal.

O que se passa "lá dentro" corresponde aqueles momentos que se tornam difíceis de expressar por palavras, quanto mais por escrita.

O som de um tambor que não se percebe de onde emerge, mas que garantidamente não emana de uma gravação, vai subindo de intensidade acompanhando uma desenfreada é absolutamente caótica marca de devoção, com oferendas à divindade, flores que são atiradas pelo ar, em direcção a estátua que se ergue por detrás de um pano bordeaux, que rapidamente se fecha.

Os visitantes, crentes ou não, são presenteados com uma marca de tinta vermelha no meio da testa, representando a terceira visão, conferindo boa sorte ao seu portador, e com uma espécie de bolo de açúcar com leite que lembra muito curiosamente o doce de leite. Saboroso, portanto.

Infelizmente não é possível fotografar no seu interior, mas de pouco serviria porque não poderia nunca passar as sensações que se desfrutam no seu interior.

É hora de seguir caminho e sair do Forte e da cidadela o local onde, diga-se, se avistam mais turistas.

Sobre este aspecto importa referir que a sensação que se tem em certos momentos na Índia é de que seremos nós próprios os únicos turistas ali presentes.

Nada mais falso. A questão é que o intenso calor, a anarquia do tráfego mas igualmente uma percepção de insegurança (falsa, na realidade) afasta os turistas dos habituais passeios a pé pela cidade, refugiando-se atrás de milhentas viaturas de turismo e dos respectivos guias.

Contudo, pessoalmente, a vida de uma qualquer cidade não se resume às suas atracções turísticas, dela fazendo parte integrante as pessoas que nela vivem o que, no caso da Índia, é impossível ignorar, tal é o movimento frenético em cada esquina, nas incontáveis pequenas lojas, no comércio que pode ir de um barbeiro de rua até grandes lojas de joalharia e tapeçaria.

Por isso não poderia, em consciência, deixar de circular ao ritmo da própria passada pelas ruas estreitas, apinhadas de gente (e bastante lixo, já terei feito perceber....), e sentir tudo isto, os sons, os cheiros, a música - e, acreditam, os indianos gostam muito de cantar - ou seja tudo aquilo que não estará normalmente num roteiro turístico.

Diga-se, no entanto, que esta "ousadia" está longe se ser tarefa fácil, sobretudo se duas ou três crianças decidirem "juntar-se" a uma comitiva para a qual não foram convidadas, "reclamando" uma boa acção no valor de 10 rupias (menos de 15 cêntimos....), rapidamente se percebendo que a nossa boa-vontade teve um efeito multiplicador do número de potências beneficiários da nossa caridade.

Não se pense, contudo, que as referências turísticas de esgotam nas fortificações nas montanhas de Jaipur.

Destacam-se ainda o belíssimo palácio Jal Mahal que emerge das águas do lago artificial onde se encontra estacionado quase no centro e que mesmo não sendo visitável (só o seria por barco) é uma vista incontornável da cidade.

Num outro local da cidade ficam situados duas outras referências de Jaipur, o palácio da cidade, local imponente, a residência dos Reis de Jaipur, incluindo o actual (a Índia sendo uma república constitucional tem, apesar disso, um rei, ainda que totalmente despojado de poderes), albergando igualmente o museu da cidade, que mesmo não correspondendo exemplarmente à noção que vulgarmente temos de museu (uma vez mais há que adaptar os conceitos ao local) permite ter uma percepção sobre as roupas usadas pelo marajá Sawai Man Singh II, fundador de Jaipur, no século XVII.

Por fim destaque para um local denominado Jantar Mantar, que longe de designar um sítio onde se possa fazer a última refeição do dia, corresponde antes de mais a um espaço onde se encontra, situado um observatório astronómico, onde tudo o que tenha qualquer relação com a astrologia, astronomia e, claro está, a determinação das horas se encontra representado em volumosas peças de arquitectura que impressiona tanto pela precisão dos seus instrumentos como pela sensação de modernidade de uma construção que, afinal de contas, foi edificada no século XVIII.

Neste roteiro seguir-se-à a cidade de Agra, e ainda que apenas reservado para o dia 5, Agra, mesmo não parecendo, rima com Taj Mahal.




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