segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Porto - Dia 3

O terceiro e último dia de visita à cidade do Porto determinava uma espécie de mudança de cenário por via da "troca" entre a denominada zona histórica da cidade, com um ritmo em constante conexão com a proximidade do Douro e das duas margens que o tocam e a zona mais nova cidade, cujo êxito central é claramente dominado pela gigantesca avenida da Boavista que liga a rotunda com esse mesmo nome e o mar alguns kilómetros mais à frente.

Contudo, e em bom rigor, não haveria de ser exactamente assim o início do dia posto que "faltava" ainda completar uma visita iniciada no primeiro dia ao Convento da Serra do Pilar, actualmente parte integrante de uma estrutura militar e que se ergue de forma imponente sobre o Douro e as duas margens.

Trata-se de uma interessante igreja e em especial a sua cúpula sob a qual bem ao centro decorrem as cerimónias religiosas e não num altar num dos topos, facto que talvez seja justificado por se tratar de um edifício circular.

Rotunda da Boavista
Seguidamente a viagem seguiu os seus passos para a rotunda da Boavista onde se destacam manifestamente duas referências: a imponente estátua que alude às invasões napoleónicas com o seu leão que esmaga a águia opressora e, num dos lados, a fabulosa obra de arte que é a Casa da Música.

De acordo com a minha percepção sobre o significado (ou diversos significados) de arte cabe a sua maior ou menor capacidade de não deixar ninguém indiferente.

Casa da Música








A Casa da Música consegue exemplarmente esse desiderato, sendo um marco arquitectónico da cidade do Porto, mas uma referência cultural de todo o país, que justifica o usufruto pelo exterior mas igualmente uma visita ao seu interior, se possível num dos muitos concertos que aí têm  lugar anualmente. 

Casa da Música
O passo seguinte foi a "descoberta" da Fundação de Serralves num dupla vertente, isto é, visita às exposições de arte moderna e aos seus jardins que fazem lembrar os jardins da Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa ou o exotismo dos jardins do Palácio de Montserrat em Sintra.

Relativamente às exposições aí patentes importa ter presente o conceito de "mente aberta", ou seja, estamos perante conceitos de arte moderna, de matriz experimental com som ambiente a condizer com o resto.

Fundação Serralves
E o resto é isso mesmo, um desafio permanente aos sentidos, à nossa capacidade de reagir perante uma quase provocação mas que não deixa de ser absolutamente coerente inclusivamente com a própria arquitetura do espaço do arquiteto Siza Vieira.

Não direi que será para todos, mas arte é isso mesmo, não pode nem deve ser unânime.

Fundação Serralves
Os jardins amplos, muito bem tratados e aqui e ali com manifestações de arte moderna, é um local onde apetece passar varias horas e que merece inteiramente uma visita que, pessoalmente, já tardava.

O almoço que se lhe seguiu tinha como "desígnio" um local onde se servisse a famosa iguaria portuense - a francesinha - e, normalmente, o local escolhido passa pelo restaurante Cufra, situado mais ou menos a meio da avenida da Boavista, aliás bem próximo da Fundação Serralves.

Contudo e talvez por ser segunda feira ou feriado este restaurante encontrava-se encerrado pelo que o "plano B" passou pelo não menos famoso "Capa Negra" na rua do Campo Alegre, embora pessoalmente entenda ficar uns pontos abaixo do Cufra.
Fundação Serralves

Não será certamente uma refeição "light" mas não poderia deixar passar a ocasião desta espécie de sandes cujo molho faz toda a difererença em relação ao nosso conceito de sandes.

O dia continuou com um passeio pela zona do Castelo do Queijo (fortificação actualmente pertencente ao corpo de fuzileiros) que marca uma espécie de termo da cidade do Porto quando esta cidade e o mar se encontram.

E porque tudo tem necessariamente um fim, também a viagem estava destinada a terminar como começou, isto é, no lado oposto, na zona de Gaia, bem junto ao final do rio quando este se junta do mar, na zona da foz.

Foz do Douro

Uma zona de grande beleza, uma reserva natural protegida.

O sol de verão começou simbolicamente a pôr-se no horizonte, anunciando que a viagem como o próprio dia haviam chegado a fim.









domingo, 14 de agosto de 2016

Porto - Dia 2

Se o primeiro dia foi "reservado" à zona ribeirinha da cidade quer do lado de Gaia quer do lado do Porto - a Ribeira - já o segundo dia tinha como destino a parte alta da cidade e, por isso mesmo, simbolicamente o atravessamento entre as margens foi feito pelo tabuleiro superior da ponto D. Luís I, com a sua vista arrebatadora muito embora, diga-se, não faltem algumas imagens desoladoras de edifícios em ruína.

Uma vez chegados "à outra margem" deparamo-nos com os vestígios da muralha fernandina, igualmente visíveis noutros pontos da cidade, mas claramente uma imagem reduzida da sua extensão original.

Bem perto da muralha fica a igreja de Santa Clara que, segundo se refere nos guias, será das mais bonitas do Porto. Contudo, tal informação terá de fixar guardada no imaginário de cada um de nós uma vez que se encontra fechada para obras não obstante o facto de bem ao lado da sua porta constar um edital que anuncia o fim das obras para Setembro....de 2015.

No lado oposto à esta igreja fica a Sé do Porto, mirando toda a cidade.

Tratando-se de um monumento símbolo da cidade não é, contudo, aquele que possa ser considerado como o "mais bonito" no seu interior. A sua austeridade e relativa pouca riqueza decorativa retiram algum do esplendor que seria expectável num monumento com estas características.

A partir deste local descesse pelas pitorescas ruas do monte da Sé até se chegar à rua das Flores onde fica situado aquele que foi considerado - com toda asubjectividade que isso acarreta - o melhor museu em Portugal, o Museu (e respectiva igreja) da Misericórdia do Porto.

Trata-se, sem sombra de dúvida, de um belíssimo museu, cujo ex-libris é o quadro da escola flamenga intitulado "Fons Vitae" ou Fonte da Vida, uma imponente obra é uma referência ao nível, por exemplo, dos painéis de São Vicente no museu de Arte Antiga em Lisboa.

Creio, pelo reduzido número de visitantes no momento em que eu próprio o fiz,que se trata de um espaço que ainda carece de ser "descoberto" pelos turistas de outras nacionalidades mas também por parte dos portugueses.

Segue-se uma subida até a estação de comboios de São Bento, cujo hall de entrada justifica a sua fama por apresentar a suas paredes repletas de enormes azulejos alusivos aos descobrimentos e ao infante D. Henrique em particular. Um belíssimo espaço.

Ali bem perto e após nova subida encontra-se a igreja paroquial de Santo Ildefonso, com as suas paredes em azulejo azul com temas necessariamente de índole religioso mas a necessitarem de uma intervenção de restauro.

Os dois locais seguintes embora nada tenham em comum apresentavam as mesma caracteristica, isto é, encontravam-se encerrados ao público.

O primeiro dos locais corresponde ao famoso Café Magestic cuja fachada exterior antecipa a riqueza da decoração do interior mas que infelizmente ficará por confirmar presencialmente.

O outro local igualmente fechado seria o o popular mercado do Bolhão, o animado mas algo decadente ponto de encontro dos diferentes pregões com que cada vendedor anuncia aquilo que tem para oferecer.

Quase nas traseiras deste mercado fica situada a Capela das Almas também ela ricamente decorada com azulejo azul, mas também ela encerrada ao público.

Aqui chegados impõe-se uma reflexão: nunca percebi e julgo que não chegarei a perceber por faltar que o explique, o motivo pelo qual este tipo de locais nomeadamente de culto se encontram não raras vezes encerrados ao público, abrindo quase exclusivamente para as respectivas cerimónias religiosas.

Não faz aparentemente sentido este distanciamento relativamente a uma procura culturalmente interessada. Se o caso se prende com os custos associados à vigilância haverá certamente maneiras mais ou menos inteligentes de assegurar fontes de receitas decorrentes da procura destes espaços.

As cidades têm orgulho nos seus monumentos e naquilo que eles podem proporcionar enquanto factor de desenvolvimento económico. Fechar as portas por sistema é "convidar" todos aqueles que procuram melhor conhecer a cidade e as suas igrejas a expressar a sua decepção nos diferentes meios que tornam este mundo casa vez mais global.

Após uma pausa para o almoço seguiu-se nova passagem pela Praça da Liberdade em direção à Avenida dos Aliados, ladeado por imponentes edifícios de singular beleza destacando-se no seu topo o imponente edifico da câmara municipal do Porto, com a estátua de Almeida Garrett em frente.

Nas suas traseiras fica a igreja da Trindade, cuja fachada antecipa o anterior, facto que não foi possível comprovar por se encontrar....fechada.

Se esta igreja (entre diversas outras que não serão referidas) se encontrava encerrada, o mesmo não se pode dizer das igrejas do Carmo e das Carmelitas que têm a particularidade - diria singular - de estarem literalmente pegadas uma na outra, lado-a-lado e com estilos perfeitamente distintos, sendo a do Carmo mais rica do que a das Carmelitas.

A poucos metros deste local fica a livraria "do momento", a livraria Lello e Irmao, cuja afluência de público obrigou à cobrança de uma entrada que, contudo, pode ser descontada na compra de um livro.

A associação desta livraria à saga do Harry Potter e o recente restauro exterior (o interior também já precisava) faz com que seja extremamente difícil circular no seu interior, nomeadamente na famosa escadaria onde quase toda a gente faz questão de tirar uma fotografia.

Em abono da verdade deve, ainda assim e com toda a justiça, salientar-se o facto de se tratar de uma da mais bonitas livrarias do mundo é isso, só por si, já justifica a visita.

Atravessando literalmente a rua fica um dos outros símbolos do Porto, a igreja mas sobretudo a torre dos Clérigos com os seus 76 metros de altura, visitáveis, permitindo uma desafogada vista de 360 graus sobre a cidade, se bem que para que tal aconteça se tenha de penar por uma longa escadaria, com inúmeras paragens "para deixar passar" aquelas que tendo terminado a visita pretendem agora descer.

Tem igualmente uma exposição subordinada â figura de Cristo que justifica a opção pelo bilhete conjunto.

O último ponto de visita correspondia à igreja de Nossa Senhora da Vitória, apenas visitável por marcações e em grupo, motivo pelo qual não foi possível conhecer o respectivo interior embora conste como sendo das mais belas da cidade do Porto. Não poderei, lamentavelmente, atestar tal facto nestas linhas.

Após um curto descanso no apartamento após uns longos 13kms de caminhada era chegada a hora de jantar e a escolha recaiu numa refeição de peixe num restaurante em Matosinhos que bem conheço - o Cais 51 - que uma vez mais não me desiludiu e que recomendo vivamente, inclusive pela simpatia do dono e do à vontade do trato com os Clientes.

O terceiro dia será passado noutra zona da cidade.

Porto - Dia 1

Embora tenha estado por diversas vezes no Porto por motivos profissionais e até uma ou duas vezes num contexto mais pessoal não posso, contudo, afirmar conhecer verdadeiramente a cidade do Porto.

Por isso, nada melhor do que um fim-de-semana alargado é uma agenda bem preparada para poder desfrutar convenientemente desta bela cidade.
Ponte D. Luís I

O facto de estarmos a meio de Agosto, isto é, em pleno verão e com a cidade repleta de turistas não constitui claramente uma vantagem no momento de escolha do local para ficar nem no que toca às visitas às principais atracções.

Por isso mesmo, a melhor forma de evitar algumas "surpresas" é, como quase sempre faço, marcar adiantadamente.

Não sendo uma cidade muito grande é, contudo, uma cidade de geografia irregular - excepto nas zonas ribeirinhas - o que implica algum esforço na "arte de caminhar".

Contudo, a existência de diversas pontes permite igualmente que a escolha do apartamento não tenha de ser necessariamente no Porto mas, como foi o caso, em vila nova de Gaia, mesmo junto à ponte D. Luís I, opção que se revelou muito acertada, em termos de custos mas igualmente de usufruto de uma das melhores vistas sobre a cidade e o rio.

E já que estamos do lado de Gaia então um dos pontos obrigatórios passa por visitar uma das famosas caves do vinho do Porto.

Aqui a dificuldade é a escolha, face à enorme variedade de marcas famosas.

No meu caso a escolha recaiu sobre as Caves Calém, uma das mais antigas do Porto. Mesmo admitindo que a visita não varie significativamente das restantes opções, justifica plenamente essa opção, com direito à tradicional prova de vinhos no final embora, pessoalmente, não seja um grande apreciador deste ancestral vinho doce.

Já do lado da Ribeira seguiu-se a visita à lindíssima igreja de São Francisco e o respectivo, embora relativamente modesto, museu e catacumbas, com uma riqueza incomum de talha dourada que injustamente não pode ficar devidamente registada em foto, por ser proibido. 

Bom, proibido mas nada que não se consiga....

Esta questão do "direito" a tirar fotografias é, aliás, um fenómeno que tenho alguma dificuldade em compreender. Se nalguns lados é possível fazê-lo sem restrições (excepto o uso de flash) noutros, com características precisamente iguais, pelo contrário e sem que se perceba exactamente porquê o registo fotográfico é vedado logo à entrada.

Melhor seria que se fizesse como se faz noutras latitudes em que o "direito" à fotografia tem um preço simbólico. Querem uma forma de angariar fundo? Aqui está uma. A fotografia é uma forma de milhares de pessoas levarem a outros uma imagem do que viram levando, potencialmente, a que outros o queiram ver no futuro.

Palácio da Bolsa
O palácio da Bolsa foi a etapa seguinte que, por apenas permitir visitas guiadas, justifica a aquisição prévia do respectivo bilhete.

Trata-se de um edifício situado nas antigas ruínas do convento de São Francisco, ou seja, nas traseiras da igreja com o mesmo nome e alberga actualmente a Associação Empresarial Portuense.

É um espaço de referência no Porto e nem que fosse apenas pela possibilidade de desfrutar do respectivo salão árabe já mereceria inteiramente a visita.

Palácio da Bolsa
Nenhuma viagem pré-programada deverá ser tão "fundamentalista" que não se se permita um ou outro  improviso e, por isso, mesmo estando o tempo a convite e por ser ali relativamente perto, seguiu-se uma visita aos jardins do palácio de cristal, um dos ex-libris da cidade, embora se deva referir que o Porto parece tratar tão "bem" o pavilhão com o nome maior do seu desporto - Rosa Mota - como Lisboa trata o espaço equivalente - o pavilhão Carlos Lopes - ou, dito de outra forma, estão ambos ao abandono e num processo de degradação confrangedor. 

Ribeira
Bem pelo contrário os jardins estão bem cuidados e justificam o passeio, ainda que não sem o esforço de uma subida considerável. Passeio é passeio.

Visita ao Porto sem uma passagem pela Ribeira é uma paragem para refrescar com uma bebida na praça com o mesmo nome é quase impensável, embora deva referir que este espaço parece actualmente uma zona um pouco "para turista ver" e, de facto, eles parecem gostar pois estava a abarrotar deles.

O dia haveria de terminar com a degustação de petiscos na zona ribeirinha de Gaia, onde não faltando oferta especialmente destinada a turístas, aconselha-se a um referência prévia de quem melhor conheça o local. Foi precisamente o que aconteceu, tendo a sugestão - acertada, diga-se - recaído na "Taberninha do Manoel" mesmo ao lado das caves Cálem.

Foi, por assim dizer, terminar onde começou, após quase 14kms de caminhada.