domingo, 10 de junho de 2012

Ensaio sobre as convicções

Octávio Paz dizia que “Quando morre um velho, arde uma biblioteca.”.

Esta frase ganha um particular relevo numa época em que se torna relativamente “fácil” a opção mais ou menos descarada pela ausência de ideais e, não menos importante, de intérpretes desses mesmos ideais.

Nesse sentido, a minha consideração pessoal para individualidades como o Prof. Adriano Moreira, o Dr. Mário Soares, Manoel de Oliveira, Eduardo Lourenço ou José Hermano Saraiva – entre (não muitos) outros – adquire uma confessa simbologia à luz dos princípios que procuro transpor para mim próprio e reflectir naqueles que me rodeiam.

Não está sequer em causa a necessidade de concordância integral com as respectivas ideologias ou mesmo com as suas posições sobre os mais variados temas da nossa Sociedade sejam eles actuais, passados e futuros.

Corresponde, antes de mais, ao justo reconhecimento pelas suas vidas, pela coerência das suas posições e, sobretudo pela capacidade de manter uma intervenção cívica ao longo dessa mesma vida, incluindo durante períodos da nossa história em que o “convite” ao conformismo era por demais evidente e, porventura, “aconselhável” face às consequências desfavoráveis que daí advinham.

A verdade, porém, é que mesmo nos dias de hoje em que os “combates” são manifestamente outros, estas personalidades persistem em pautar as suas intervenções pelo mesmo sentido critico que sempre os norteou, espelhando uma lucidez que as suas provectas idades poderiam fazer diminuir ou, pelo menos, perspectivar uma redução ao nível do discernimento.

Bem pelo contrário, continua a ser um conforto sentir que no meio de um marasmo labiríntico ao nível social, politico e cultura, podemos ainda ter o privilégio de contar com a opinião de quem, no essencial, sempre procurou reflectir e estimular a reflexão precisamente sobre esses temas.

É como um farol que nos aponta o local que distingue a passagem segura assente na firmeza dos ideais e na necessidade de os perseguir insistentemente ou numa rota de colisão com uma espécie de destino trágico que estamos ainda a tempo de evitar.

A dúvida que persiste é, porém, qual o real alcance dessas intervenções num contexto em que a existência de “nuvens de fumo” permanentes não têm outro objectivo que não seja o de que “orientar” as pessoas para uma lógica de abandono das causas pelas quais estas e muitas outras personalidades tiveram de lutar ao longo da História.

O fim dos feriados do 5 de Outubro e do 1º de Dezembro são, a título de exemplo, a imagem do “apagão” anunciado à nossa memória colectiva, reduzindo a relevância de tais datas a meros enunciados de um qualquer livro escolar ou enciclopédico.

A capacidade de ser a formiga que caminha no sentido contrário do carreiro não é mais do que em determinados momentos de que a lógica da maioria não é necessariamente aquela que é a mais adequada ou, no mínimo, a via para se perceber que para chegar a um determinado destino pode haver mais do que um caminho, ainda que porventura mais longo.

E assim chegados a uma aparente encruzilhada histórica temos diante de nós duas alternativas possíveis, a de seguir para onde nos queiram levar ou a de prestarmos a maior homenagem possível a estas individualidades e conduzir os nossos próprios destinos. Assim vão as cousas.

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