terça-feira, 11 de setembro de 2018

A caminho de Glasgow / Air an t-slighe gu Glaschu

A fantástica Ilha de Skye ficou para trás e, como em qualquer viagem que se preze, não é ainda o tempo para retrospectivas do que ficou visto ou ficou por ver, o tempo é um ditador e o alinhamento da viagem não se presta a revoluções.

O destino seguinte não seria, porventura, daqueles que seria por si mesmo apelativo em função de quaisquer referências culturais relevantes mas, porque a cultura popular também é ela própria uma forma de cultura, era incontornável "aderir" a uma das muitas referências iconográficas da Escócia, uma espécie de herói dos tempos modernos, não porque seja de origem escocesa ou pelos seus grandes feitos, mas sim porque quis o destino boa parte das imagens que percorrem o imaginário dos fãs do feiticeiro Harry Potter terem sido precisamente filmadas nesta região.

Um desses locais é a localidade de Glenfinnan que tem, para além de um monumento de homenagem ao já anteriormente referido Bonni Prince Charlie, um viaduto onde passa, literalmente, o comboio que no filme haverá de levar os aprendizes de feiticeiro à escola de Hogwarts.

Tudo está montado para ser lembrado como tal. Apesar da distancia considerável a que passa o dito comboio faz questão de apitar préviamente à sua chegada, antecipando a emoção daqueles que por alí se encontram prepositadamente para esse efeito, lançando fumo branco durante o caminho, envergando as mesmas cores que o fizeram involuntáriamente famoso, a ele e ao aqueduto.

Diga-se que a "emoção" dura escassos minutos e por isso mesmo é tempo de seguir em frente passando pela localidade de Fort William, uma pequena e pacata vila onde é possivel passear pela sua principal avenida e apreciar as lojas à falta de motivos maiores para ali permanecer por muito mais tempo.

O caminho até Glasgow faz-nos passar por duas maravilhas naturais escocesas, Glencoe e Loch Lomond.


O primeiro destes locais, Glencoe, é um vale verdejante, ladeado por montanhas onde polulam caminhantes mais ou menos organizados e que desagua num dos muitos lagos da Escócia, o Loch Leven. Diz-se que será um dos locais mais bonitos de toda a Escócia. Por mim não faço escolhas, é bonito, unico e incomparável. É assim que melhor se aprecia cada local.





O Loch Lomond fica situado no Parque Nacional de Trossachs e faz a fronteira entre as Highlands e as Lowlands da Escócia, no qual "flutuam" inúmeras ilhas, quase sempre de pequenas dimensões mas bastande arborizadas.

É mais um cenário idilico que se percebe ser bastante apreciado para passeios de barco e mesmo para veranear nas suas margens devido à água sempre calma (e doce).

Dali a Glasgow são cerca de 23kms coisa pouca portanto e que se faz com relativa rapidez.

Desembarcados nesta cidade é tempo de descansar no hotel e escolher onde jantar, o que em si mesmo dá direito a uma anotação de viagem propria, mas isso ficará para o dia seguinte.




O último dia na Escócia / An latha mu dheireadh ann an Alba

Regressados ao ponto de partida não era ainda exatamente o tempo de retomar as visitas ao que ficara por visitar no final do primeiro dias uma vez que, estando o carro disponivel, havia que desfrutar disso mesmo e fazer alguns kilometros para visitar a Abadia de Dunfermline, uma espécia de panteão nacional dos heróis escoceses.

Um local muito aprazível, não tanto por essa caracteristica de panteão que, diga-se não é assim tão visivel por via da acção dos tempos, mas por se tratar de um local de fato bonito e que justificou a visita.

Era tempo de regressar a Edimburgo, devolver o carro após quase 2500kms ou o seu equivalente em milhas, sempre conduzidos do "lado errado", mas felizmente sem quaisquer problemas.

Por isso mesmo o primeiro ponto de visita seria aquele que ficara inacabado por causa de Sua Alteza Real a raínha de Inglaterra (e da Escócia).

O palácio de Holyrood bem no extremo oposto do Royal Mile de Edimburgo é um museu repleto de referências históricas da Escócia, particularmente à Queen Mary cuja história de vida (e de morte) está precisamente ligada à ascensão de uma antepassada da Raínha Isabel II, muito apropriadamente a da Raínha Isabel I, prima da dita Queen of the Scots, do qual resultaria a união do reino, logo após a sua cabeça ter literalmente rolado por via de uma acusação de tentativa de assassinato da sua prima.

Tudo impecavelmente decorado é um marco na cidade, que não pode ser esquecido, mesmo que tenhamos de adiar para o fim.

Para o final do dia ficaria o passeio pelo jardim da cidade de uma ponta à outra, detendo-nos particularmente numa curiosa fonte a Ross Foutain, em tons de azul e dourado.

E o fim é isso mesmo, o terminar de uma viagem, em que ainda muito ficou por ver, alguns (muitos) castelos, caminhadas pelos campos verdejantes. Mas as viagens são também isso, ficar algo por ver para um dia poder regressar.

domingo, 9 de setembro de 2018

A fantástica Ilha de Skye / An t-Eilean Sgitheanach mìorbhaileach

A manhã deste novo dia começou, em bom rigor, a ser preparada de véspera, com a escolha do que haveria de ser o pequeno-almoço do dia seguinte, para o qual fomos desde logo "avisados" que não seriam bem-vindos telemóveis, hábitos a que nós, como convidados mesmo que pagantes, devemos aceitar e sobretudo respeitar.

Terminado o belíssimo repasto matinal, o dono daquela B&B, um austríaco de nascença mas radicado há largos anos naquela ilha fez questão, com todo o gosto notava-se, de nos aconselhar os melhores locais de visita, porventura não tão turisticos como o próprio fez questão de frisar.

Conscientes de que dificilmente poderiamos dar com todos aqueles locais ou que alguns implicariam longas caminhadas para as quais não nos encontrávamos minimanente preparados, partimos, pois, em direção à Kilt Rock e Mealt Falls, uma extraordinária "parede" da qual se tem uma visão lateral e de onde escorre, como o próprio nome indica, uma queda de água que se afunda num longo precipício.

O passo seguinte, bem mais a norte, eram as ruinas de um castelo local de Duntulm, de facto apenas uma pequena imagem do que terá sido, mas que valia sobretudo pela paisagem deslumbrante, palavra aqui tantas vezes repetida, sobre os campos verdes, onde pastam incontáveis ovelhas e aqui e acolá as "famosos" vacas tipicas escocesas, com a sua proeminante franja, pelagem longa e desgrenhada, de raça Highland Cattle.

Dali seguimos, um pouco mais a sul para o Skye Museum of Island Life, um conjunto impecavelmente conservado de casario tipico daquela ilha há cem anos atrás, de onde se chega a pé até a um cemitério onde descansa mais uma das figuras icónicas da Escócia, Flora MacDonald, com a sua impecável cruz celta, famosa por ter ajudado o Principe Charles Edward Stuart a fugir dos ingleses, disfarçando-o de mulher tendo daí ganho o nome pelo qual haveria de ficar na história como Bonnie Prince Charlie.


A Escócia é tudo isto e algo mais, repleto de mitos, lendas e personagens inesquecíveis, tornados herois nacionais sobretudo pela sua resistência ao invasor inglês.

Ainda mais a sul era tempo de saborear a tradicional e mais famosa bebida escocesa, o whisky, e isso teria de acontecer nos seus tradicionais pubs, mais concretamente o mais antigo pub da ilha, mais exatamente de 1790, onde se saboreou um fabuloso Talisker, um dos mais afamados whiskys locais, cuja distileria fica também na ilha. O local do pub parece saido de um filme, num pequeno casario em fila com o mar pela frente. 

Seguimos para um outro local incrivel, com vistas que não param de surpreender, "obrigando" a uma caminhada que se faz com prazer, o Neist Point Lighthouse, ao qual se chega depois de muitas cruvas, em estradas apertadas onde quase sempre só cabe um carro de cada vez (existem diversos pontos de paragem para deixar passar quem se aproxima, ritual que é respeitado religiosamente).

Era chegado o tempo de literalmente embarcar rumo à main land, mais extamente no porto de Armadale, um dos diversos locais onde o ferry faz essa ligação, mas como não o faz a todo o momento e todo o dia, havia que chegar a horas do ultimo a partir.

O tempo agora parecia mesmo escocês, chuvia ligeiramente e o sol dava lugar às nuvens negras, nada que afligisse ou diminuisse a fantástica passagem pela Ilha de Skye, à qual dá vontade de regressar na certeza de que muito ficou por ver.

De Armadale chega-se a Mallaig, local onde se haveria de jantar e ficar nessa noite.