domingo, 5 de agosto de 2018

O mais famoso lago da Escócia e a chegada à llha de Skye / An loch as ainmeile ann an Alba agus a 'tighinn dhan Eilean Sgitheanach

Se alguma referência instantânea a generalidade das pessoas terá sobre a Escócia é de que neste local existe um lago famoso que esconde um gigantesco monstro que apenas alguns terão visto, muitos julgam ter visto, mais ainda não viram mas quiseram fazer crer o contrário e esmagadora maioria que tem uma relação com o assunto exclusivamente relacionada com o facto de já terem um dia olhado para o lago à procura de não se sabe bem o quê.

A Escócia é muito isto, uma história feita de combates, heróis, mitos e lendas e o Loch Ness é um exemplo acabado de algo que há muito deixou de ser uma mera curiosidade para ter tornar numa imagem de marca que arrasta multidões até aquele imenso local, pois não se pense que este lago é coisa pequena.

Pelo contrário é um enorme lago, com uma profundidade que nalguns locais atinge quase 230 metros de profundidade, ou seja, quase o dobro da profundidade do Mar do Norte. Por isso mesmo é também um lago muito escuro e de águas geladas, onde consta que pouca vida por ali resistirá quanto mais um monstro centenário mas que, pelos vistos, prescinde de um parceiro ou parceira para se perpetuar no tempo.

O que mais impressiona o no Loch Ness é o seu enquadramento, rodeado de montanhas verdejantes, por ali apetece simplesmente parar para contemplar a natureza, a beleza daquele lago e tudo o que o rodeia e sim, por vezes olhar mais firmemente para as suas águas na esperança de naquele dia podermos ser nós e, presumo, muita gente mais, a presenciar uma das raras e fugazes vindas à superficial do seu mais famoso habitante.

É uma espécie de postura agnóstica relativamente à lenda, isto é, por principio não acredito, mas não digo a 100% que não exista. Para bem do animal talvez seja melhor assim, pois estou certo que o ser humano terá todo o interesse em estuda-lo morto, para a região será sempre preferível que nunca se saiba sob pena das pessoas perderem o interesse naquele local, uma vez que afinal de contas o que não falta pela Escócia são lagos e alguns deles também têm direito ao seu próprio monstro.

Mas o melhor enquadramento para poder desfrutar do lado no seu esplendor é visitando mais um dos seus míticos castelos, um dos tais que tem o seu charme no facto de se encontrar em semi-ruínas, mas cuja localização é demasiado perfeita para ser verdade.

Trata-se do Urquhart Castle, que remonta ao século XIII, situado numa das margens do Loch Ness. Ali se travaram grandes batalhas em defesa da Escócia e o que dele resta é uma pequena imagem do que terá sido em tempos. Vale pela localização e pelas vistas soberbas.

 Seguiu-se um almoço na vila e seguir a todo o "vapor" para um outro castelo, sob pena de quando lá chegássemos já se encontrar fechado.

Quando olhamos para o Eilian Donan Castle, ficamos com a sensação de já ter visto aquele local num outro momento qualquer. Talvez num filme, ou num postal ilustrado ou sobretudo numa qualquer busca online para locais "must see in Scotland".

Este castelo é absolutamente idílico. Situado numa rocha na confluência dos lagos Duich e Long tem tudo aquilo que o nosso imaginário retém - sem nunca se tornar num preconceito - sobre a Escócia: grandes lagos e castelos fabulosos. Não se trata de serem grandes. Não é o seu tamanho que impressiona, mas sim o seu enquadramento, a sua beleza exterior quase sempre superior em larga escala ao seu próprio interior.

São locais que ficam na nossa memória por isso mesmo.

Os dois castelos ficavam agora para trás e o caminho seguia com grande ansiedade para um local relativamente ao qual vínhamos carregados de referencias de pessoas amigas que por ali haviam estado antes, uma das diversas ilhas que guardam o território escocês, a Ilha de Skye.

Há duas formas de aceder a esta ilha, por terra através de uma ponte mais a norte ou por ferry com diversas ligações à "main land" ou a outras ilhas. O opção foi entrar pela ponte e partir em direcção à capital, Portree, à procura de local onde ficar.

E este, convém dizer-se, pode ser um verdadeiro problema. Não existem muitos hotéis nesta ilha, existem sim muitos dos tradicionais "Bed and Breakfast", uma espécie de alojamento local, em casas particulares. Simplesmente, fosse do facto de ser fim-de-semana ou por se tratar de um dos locais mais visitados na Escócia, quase sempre as placas que as anunciam - e são às dezenas - tinha também por baixo indicado "No vacancies".

Por momentos parecemos destinados a dormir no carro ou ter de pagar muito mais por uma noite do que o apertado orçamento permitiria até que finalmente uma placa anunciava que por ali ainda havia local para dormir. Não sendo dos locais mais em conta para se ficar também não se diga que era por um valor irrazoável e por isso por ali ficámos, tendo sido desde logo avisados de que naquela casa não se andava de sapatos posto que deveriam ficar à entrada. Cumprido o formalismos era tempo de assentar.


O final de tarde antes de jantar foi aproveitado para conhecer melhor aquela pequena vila portuária, muito pitoresca, sem grandes referencias arquitectónicas mas sobretudo a imagem do que afinal aquela ilha haveria de revelar no dia seguinte.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Em direcção a norte / A 'dol gu tuath


Embora a Escócia esteja longe de ser um território com uma relação histórica (e até na actualidade) que se diga, sem qualquer hesitação, ser plenamente amistosa com o seu vizinho britânico, a verdade é que boa parte do território escocês está, em certa medida, "colonizado" pela presença inglesa, nomeadamente nas residências da monarca, sejam a titulo oficial - em Edimburgo, no Holyrood Palace - ou na distante casa de férias em Balmoral, precisamente o próximo local de visita.


Trata-se de um extenso terreno cujo palácio nem sequer impressiona pela dimensão ou mesmo beleza arquitetonica, mas que permite a quem o visite precisamente aquilo que provavelmente Sua Alteza ambiciona quando ali se desloca: tranquilidade. 

Tudo parece calmo por ali, o imenso relvado ladeado de árvores centenárias ou às diversas estufas onde se cultiva desde a mais bela flor ao proprio sustento do palácio, tudo impecavelmente tratado por mãos experimentadas.

O palácio, excepção feita a um hall, não é visitável o que em si mesmo não é necessáriamente frustrante por, muito provavelmente, não ser o cenário habitual dos museus mas apenas uma casa habitável e ocasionalmente habitada pela monarca daquelas paragens.

O caminho de volta leva-nos à beira de um rio, tranquilo como tudo o resto, cujas margens são enfeitadas de pedras arredondadas pelo ciclo das águas. Apetece por ali ficar mais tempo, mas o tempo não o permite. Temos as highlands pela frente.

A direcção ao norte faz-se por um conjunto montanhoso em plenas Terras Altas da Escócia, onde o cinema de encarregou de tornar famosos os muitos clãs por ali existentes, facilmente reconheciveis pela sua indumentária, o tradicional kilt, mas pelos nomes invariávelmente começados por Mac seguido do nome de familia.

O Cairgnorm National Park é um idilico local montanhoso que é necessário, sem qualquer sacrificio, diga-se, para chegar ao norte da Escócia. Montanhas verdes, aqui e acolá bastante arborizadas, convidam ao trekking para o qual não iamos preparados. Aqui e acolá um lago, não dos tais famosos da Escócia, mas apenas parte do cenário montanhoso, pequenas vilas e até algumas destilarias do mais famoso néctar escocês, o wisky, trilhos de sky encerrados por força das circunstâncias, isto é, por ser Verão e muito certamente abundante vida selvagem que não parece gostar de se dar a ver e ser vista.

É, em fim, o caminho imprescindivel para chegar o destino seguinte, a cidade de Inverness, onde mais se nota uma tendência que se começa a percepcionar com a entrada nas Terras Altas, o predominio do gaélico, uma impronunciável lingua que está para o inglês como o Basco está para o Espanhol, ou seja, nada a ver, mas o exemplo acabado das profundas diferenças culturais entre os dois povos vizinhos, que partilham a mesma raínha, mas com pouco mais em comum.


Inverness é uma pacata cidade, com o rio Ness a criar uma fronteira natural entre as duas margens da cidade, onde, no seu ponto mais alto, se ergue um castelo agora convertido em tribunal e se destacam uma ou outra igreja e a zona velha da cidade, sem tráfego automóvel, onde é possivel passear e melhor ainda beber uma das muitas cervejas locais, quanto mais não seja para reservar o proximo local de dormida, ainda mais a norte.

A opção de seguir caminho até ao extremo norte da Escócia não estava originalmente nos planos, mas a informação recolhida de que nesse local é possivel vislumbrar um dos mais extraordinários eventos da natureza, as auroras boreais, conduziu a essa opção ainda que não fosse certo que o sonho se pudesse converter em realidade por não ser esta a época propricia a tais fenómenos, o que normalmente ocorre a partir do mês de Outubro.

A verdade é que parecia desperdicio estar ali tão perto e não tirar partido dessa (remota) possibilidade, sob pena de arrependimento posterior sem qualquer remédio ou solução.

Fomos aconselhados pelo dono do local onde fizeramos a reserva dessa noite a jantar numa pequena localidade chamada Helmsdale onde supostamente serviriam um excelente prato de fish and chips, uma espécie de "prato-mais-famoso-da-Escócia" consumido praticamente em todo o lado, quase sempre pomposamente como "traditional" ou até mesmo "the best".

Sobre comida importa "gastar" algumas linhas para deixar claro que falar em cozinha tradicional escocesa é uma quase hiperbole, uma vez que as ementas estão longe de ser abundantes em comidas que facilmente apelidariamos de tipicas, e em que essa expressão quer dizer quase sempre Haggis, Fish and Chips, Stuffed Potato, Salmão e pouco mais.

Aliás a ausência de uma variedade razoável de diferentes peixes é talvez mesmo uma desilusão num país quase todo ele rodeado por mar e com diversos e importantes portos que pescam ali pelo mar do Norte, esse mesmo que nos acompanha no percurso até ao dito restaurante, vendo-se ao longe as gigantescas plataformas petroliferas, que fazem da Escócia um importante produtor do "ouro negro" ainda que isso não se reflicta no preço do combustivel que, tal como quase tudo o resto, está longe de ser "em conta".

A verdade é que o sugestionado restaurante não desiludiu e de facto as famosas Fish and Chips eram bastante boas, num restaurante verdadeiramente familiar e que, por isso mesmo, fica para a posteridade o seu nome: La Mirage.

Percebe-se a dupla razão para nos aconselharem a por ali jantar é que por ali mesmo a oferta é bem menor e, já se sabe, encerra a cozinha cedo.

O mesmo se podera dizer dos locais onde ficar, por isso foi um verdadeiro achado o local escolhido, situado numa fazendo com 43 acres - no Reino Unido para além da moeda local tudo é diferente do que se passa no Continente, sejam as medidas de distância, de altura, de velocidade, etc. - cuja cons
trução remonta ao século XVIII, mais exatamente de 1753, agora transformada numa espécie de turismo rural, propriedade de uma família, o que tornou a recepção e a manhã do dia seguinte bastante "friendly".

Antes de nos deitarmos era preciso dar cumprimento ao motivo que alí nos havia levado, as auroras boreais, mas porque de facto não era tempo delas ou o céu estava demasiado claro (apesar de ser meia-noite) e com algumas nuvens a verdade é que nada se viu, ficando apenas o consolo de nos termos deslocado onde verdadeiramente termina a Escócia, a vila de John O'Groats.

A noite ia já longa. O dia seguinte era de regresso mais a sul e a um lago em particular.