quinta-feira, 13 de abril de 2017

Picos da Europa - Santiago de Compostela e Cabo Finisterra

No primeiro dos textos sobre este roteiro desde logo se afirmava que o título destinado a identificar esse mesmo roteiro surgiria em qualquer caso a identificação de "Picos da Europa" ainda que os caminhos nos levassem a outra região autónoma, no caso vertente a região da Galiza.

Assim foi com a chegada a Santiago de Compostela, imponente e monumental cidade da Galiza, conhecida em particular por dois motivos: a magnífica catedral e os muitos caminhos pedestres que levam a essa mesma catedral, num misto de devoção religiosa mas também de desafio pessoal de percorrer centenas de quilómetros para chegar a um local cujo simbolismo ultrapassa e muito a própria fé de quem até ali caminha.

Mas Santiago de Compostela é muito mais do que a catedral, é um local repleto de pequenas, médias e grandes igrejas, edifícios históricos, tornando esta cidade num local de peregrinação sobretudo cultural, imperdível para quem se deslumbra com a riqueza cultural de uma cidade como Santiago, independentemente da maior ou menor fé de cada pessoa.

Lamentavelmente a fachada da catedral encontrava-se integralmente em obras bem como algumas partes do seu interior, nomeadamente o seu impressionante altar (apenas parcialmente), algo que parece suceder sempre em alguma parte a quem tem por hábito de viajar ao ponto de se achar que se tratará de uma espécie de "má-sorte" quando, afinal de contas, será apenas e tão-somente fruto das circunstâncias.

Santiago de Compostela merece ser visitada, vista com atenção, sentida na plenitude.

Simbolicamente a viagem iria terminar no fim da terra, ou no local que era também o sítio onde os Caminhos de Santiago também terminavam, ou seja, o Cano Finisterra, o tal "fim da terra", onde o mar inunda a terra e nos faz sentir pequenos perante a dimensão da imagem que o horizonte nos coloca. 

Somos um mundo pequeno, cheio de vida e cultura, oceanos, vida. Há que aproveitar todos os momentos. Este novo roteiro foi mais um passo nesse sentido.

Picos da Europa - Oviedo, Lugo e Santiago de Compostela

O fundamental dos Picos da Europa ficou para trás, iniciando-se o necessário regresso, não sem antes procurar conhecer melhor algumas cidades de pelo meio, oportunidade que manifestamente não surge todos os dias e, por isso mesmo, mal pareceria se não fosse aproveitada.

A primeira dessas cidades, Oviedo, é uma cidade moderna com um centro histórico considerável, dominado, como acontece em tantas cidades de Espanha, em pela sua imponente catedral, com uma riqueza de talha dourada incomum, mas igualmente por ser pontuada por diversas obras de arte espalhadas um pouco por todo o lado, normalmente representativas de figuras humanas e tamanha natural que impressionam pelo seu realismo.

Não sendo uma cidade espectacular é, ainda assim, um local que justifica a opção pela visita.

Para se chegar a Lugo existem três opções, cada uma delas com uma distância mas, sobretudo, uma duração considerável, pelo que a opção recaiu por aquela que se apresentava menos longa, e que tinha a particularidade feliz de acompanhar em boa parte do percurso a faixa costeira mais a norte da península ibérica, o mar cantábrico, permitindo desfrutar de paisagem impressionante até o caminho nos "convidar" a dirigir-mo-nos para o interior em direcção precisamente a Lugo.

Esta cidade igualmente moderna, tem no seu interior uma muralha impecavelmente conservada em toda a sua distância de 2kms, naturalmente percorridos, que transmitem a quem a visita sentimentos mistos.

Porquê? Porque seria de esperar que o interior de tal muralha fosse quase totalmenente preenchido por edifícios de relativa antiguidade, facto que não sucede.

Se, por um lado existe um considerável número de edifícios de relevância histórica, nomeadamente uma catedral com uma configuração incomum a verdade é que partilham este espaço com edifícios contemporâneos de gosto muito duvidoso, facto que não estraga o positivo da visita a esta cidade mas não deixa de ser algo que choca um pouco à vista.

É, ainda assim, uma cidade agradável e simpática.

O caminho segue para Santiago de Compostela, não pelos famosos caminhos mas pelas estradas de Espanha e aí, admito, a expectativa é bastante elevada. Veremos se se confirma.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Picos da Europa - Gijon e Oviedo

Poderia dizer-se que uma viagem sem imprevistos não será uma viagem e talvez seja mesmo assim, ainda que não resulte desta assunção um compromisso com uma espécie de complexo de fatalismo.

Contudo, admitindo que a sua ocorrência, seja por acaso do destino ou fatalidade, a verdade é que tais momentos, como por exemplo a avaria de um dos carros, colocam à prova a capacidade de improviso mas igualmente e consequência desta mesma capacidade, a necessidade de manter o animo de forma a que a famosa expressão de "férias estragadas" não tenha qualquer alcance pratico.

Neste aspecto a ausência de um roteiro fixo e, em particular, de uma pré-marcação de hotéis permite a necessária adaptação à nova realidade sem o compromisso - normalmente oneroso - de estar obrigatoriamente num dado local num dado momento.

Por isso mesmo a visita à cidade de Gijon não estando inicialmente planeada acabou, fruto da circunstâncias, de se tornar num local de passagem "obrigatória", em prejuízo de outras duas localidades, de menor expressão, não ficando comprometida qualquer passagem relevante deste roteiro.

Gijon é uma cidade costeira cuja principal beleza reside, precisamente na extensa baía com praia que banha está cidade, de traça moderna, aqui e acolá pontuada por alguns pontos de interesse, não existindo verdadeiramente uma "zona histórica" que, pelo menos em teoria justifique um desvio a este local.

Nessa medida após uma caminhada pela cidade era tempo de nos dirigirmos à cidade de Oviedo.

Não havendo propriamente nada de particularmente relevante que resulte deste dia ou da cidade visitada, é oportuno, como noutras circunstâncias, entreter o tempo falando dos hábitos e costumes locais de "nuestros hermanos" nossos vizinhos, mas claramente distantes em quase tudo o resto.

Desde logo nos horários, seja de abertura de qualquer loja (quase sempre depois das 10h) ou à "famosa" hora da sesta que, em termos práticos encerra grande parte das lojas e empresas entre as 13h e as 16h, algo aparentemente impensável em terras lusas.

Outro aspecto que varia consideravelmente é a alimentação "típica" local. Não é que não exista, mas basicamente consiste em variações de qualquer coisa com presunto, ou "jamon", espécie de palavra omnipresente em qualquer ementa.

De resto o menu "típico" inclui um primeiro prato que mais parece um segundo tal a quantidade de comida, o segundo prato propriamente dito e, finalmenente, a sobremesa. Café, sim, mas quase sempre de qualidade que não dispensa o açúcar.

É também necessário referir que de um modo geral os espanhóis almoçam e jantam relativamente tarde face aos hábitos portugueses.

Finalmente quanto ao factor humano os espanhóis são relativamente simpáticos e afáveis, sendo normalmente fácil a comunicação em "portunhol", quase sempre compreendido pelos nossos interlocutores sem qualquer necessidade de um esgar de sorriso cinico resultante de uma eventual calinada ingénua.

Amanhã, é tempo de conhecer Oviedo e algo mais. 

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Picos da Europa - Posada de Valdeon, Cain, Fuente Dé

A Vila de Posada de Valdeon é o típico local cuja tranquilidade é claramente a imagem de uma terra habituada a isolar-se do resto do mundo quando a neve é suficientemente alta para nem se entrar nem dela se conseguir sair.

Esta característica nota-se pela ausência de qualquer agitação durante o dia ou durante a noite, como se por estes lados não houvesse pressa para iniciar ou concluir cada novo dia, onde até o sol apenas surge no horizonte algumas horas depois de nascer, "escondendo-se" literalmente atrás das montanhas que formam uma espécie de fronteira natural desta pequena terra.

Curiosamente o destino seguinte, sendo ainda mais pequeno, era consideravelmente mais agitado, e com toda a propriedade.

Trata-se da localidade de Cain, não tanto pela população em si mesmo, mas pelo facto de dali se dar início a um percurso pedestre cuja distância a percorrer de ida e volta depende de cada um dos caminhantes e, diga-se, são muitos e de todas as idades, mas facilmente se percebe porquê.

Cain é banhado pelo rio Cares que é possível acompanhar, conforme referido, ao longo de um impressionante percurso, a espaços entrecruzado por pequenas pontes, num cenário absolutamente idílico, quase sempre em caminhos escavados dentro de rocha no sopé das montanhas que se erguem lado a lado como se fossem os guardiões da longínqua garganta que as separa.

Tudo o resto é maravilhoso à vista é um desafio profundo aos sentidos e à noção de beleza natural que, mais uma vez, parecem difíceis de descrever em breves palavras sem recorrer a ornamentações de estilo para melhor fazer entender este local e ainda assim correr o risco de pecar por escasso.

Concluídos os 7,7 kms que haveríamos de percorrer era tempo de dirigir-mo-nos a outra localidade, Fuente Dé, cuja "fama" deriva da existência neste local de um teleférico que se ergue no ponto mais alto a 900mts de altura, insuficientes, contudo, para se dizer que coincidem com a altura máxima da montanha, posto que esta se ergue uns bons metros mais acima.

Neste local a neve, mesmo não em abundância, permitiu os habituais "jogos" indiferentes ao gelar das mãos que atiram bolas uns contra os outros, como que lembrando que nem todas diversões carecem de corrente eléctrica para garantir o comprazimento de quem por momentos regressa a uma certa infância por vezes tão esquecida.

Era agora hora de descer naquele teleférico que se eleva tão alto que dificilmente entusiasmará quem tenha aversão a alturas, como que anunciando a despedida simbólica dos Picos da Europa.

A viagem, essa, há-de continuar.

domingo, 9 de abril de 2017

Picos da Europa - Cangas de Onis, Covadonga, Bulnes e Posada de Valdeon

A Historia descreve os feitos heróicos de um guerreiro tornado Rei - Pelayo - na reconquista da Península ibérica aos mouros, a partir de um local situado nas Astúrias, de seu nome Covadonga.

Este evento histórico associado à lenda do aparecimento da virgem tornaram este local num dos mais movimentados marcos de peregrinação dos fiéis da religião católica.

A ele nos dirigimos bem cedo após deixar para trás a pacata, embora bem animada durante o dia, vila de Cangas de Onis, opção que se revelou totalmente acertada face ao movimento que ali se instala a partir de certa hora, numa fusão de turismo com devoção.

No alto ergue-se a magnífica catedral, no seu tom rosa avermelhado que, diga-se, é bem mais impressionante vista por fora do que propriamente pela riqueza do seu interior.

Bastante próximo fica a Cova da Virgem, local onde se crê tenha ocorrido a dita aparição, a que se acede através de um túnel que desemboca numa imagem ricamente decorada da Virgem, numa espécie de altar improvisado com algumas - poucas - cadeiras destinadas à oração.

Verificando-se ser impossível visitar os lagos de Covadonga por carro devido à "concorrência" da Semana Santa, optou-se por um pequeno bus unicamente afecto ao nosso igualmente pequeno grupo, que nos leva em pouco mais de meia hora aos ditos Lagos, dois mais precisamente, num dos momentos altos da viagem, tão bela é a paisagem que rodeia os lagos para além da beleza natural dos mesmos. 

Não se tratou, portanto, de uma boa ou má opção mas apenas de uma contingência.

Duas horas depois era então tempo de nos dirigirmos a Bulnes onde um teleférico (bem caro, por sinal) nos eleva a 2200 metros de altura a um local onde podemos efectuar breves caminhadas em direcção às poucas casas e ainda menos habitantes que ainda existem naquele local. 

A vista, essa, é difícil de descrever, por palavras e ainda menos de forma escrita, porventura evidência de uma verdadeira incapacidade para tal por parte do autor destas linhas mas, quero crer, por não ser possível sem falsear a realidade descrever a beleza de tudo aquilo que se vê, entre montanhas pontiagudas - ou não fossem estes os Picos da Europa - com traços de neve que tarda em desaparecer apesar do calor fora do comum para o mês de Abril ou por serem demasiado altas para que chegue a tornar-se pelas leis da física em água, e paredes que fazem a delicia de alpinistas ou verdadeiras gargantas que separam cada pico.

O destino final era agora Posada de Valdeon, não sem antes percorrer uma estrada ziguezagueante denominada de Desfiladero de los Breyos, cujas montanhas literalmente se debruçam sobre essa mesma estrada, configurando uma beleza anacronicamente assustadora, mas que nunca cansa a vista apesar do desafio constante para quem conduz.

O dia termina, portanto, em Posada de Valdeon, onde há-de começar amanhã.

sábado, 8 de abril de 2017

Picos da Europa - Leon e Cangas de Onis

Aviso prévio, o roteiro que se há-de seguir a tantos outros será sempre precedido por um mesmo título, adoptando adequadamente o nome de "Picos da Europa" por ser, afinal de contas, esse e não outro o objectivo de mais um trajecto que nos levará ao ponto mais a norte de Espanha e da Península Ibérica.

Significa isto que nem sempre os locais mencionados nesse mesmo trajecto se situarão necessariamente na região das Astúrias, havendo de passar por outra região autónoma dos nossos amigos, para uns, ou arqui-inimigos, para outros, "vizinhos" espanhóis.

A segunda nota prévia a que fará sentido aludir é que a região dos "Picos da Europa" não fica próxima, nem a ela se chega de avião, pelo que o meio mais adequado para percorrer os quase 900 kms de distancia será por meio de automóvel.

Para isso, como não podia deixar de ser, é necessário duas coisas: levantar cedo e espírito forte para interiorizar que até ao destino serão necessárias umas 8 ou 9 horas de condução, consoante os tempos de paragem e, claro está, o tempo necessário ao repasto pelo meio, vulgo almoço.

No caso vertente optou-se igualmente por aproveitar esse mesmo almoço para conhecer a cidade de Leon, ou Leão conforme nos é ensinado na escola, centro ancestral da história dos reinos de Espanha, juntamente com Castela, Navarra e Aragão.

Esta bonita cidade tem como ponto central a magnífica catedral que, apesar de bastante danificada durante um incêndio nos anos sessenta do século passado, parece não querer demonstrar que algumas das suas características são afinal mais recentes do que parecem, destacando-se a sua nave central mas, sobretudo, os 1800 m2 de vitrais absolutamente divinos, que conferem um colorido interior digno de ser visitado.

A cidade de Leon apresenta-se como uma mistura entre a antiguidade e a modernidade, com uma população bastante jovem que também ela contrasta nas ruas pela sua animação e mesmo indiscrição com os preparativos da Semana Santa em Espanha, como se também neste aspecto o sagrado e o profano andassem de mãos dadas.

A partir de Leon toda a paisagem muda radicalmente como se de uma fronteira natural se tratasse, momento em que as verdes planícies dão lugar às montanhas como que anunciando que o destino do roteiro se aproximava a cada novo quilometro percorrido.

O trajecto inicial termina em Cangas de Onis, antecâmara ou Porta de Entrada dos Picos da Europa, etapa seguinte deste roteiro.