terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Roteiros - O charme de Cascais

Devolvendo os caminhos destes roteiros a geografias não muito distantes da cidade de Lisboa, pareceria improvável senão mesmo inaceitável não incluir nos mesmos parte daquilo que uma das mais belas vilas de Portugal tem para oferecer, situada no preciso local onde termina a não menos conhecida marginal de Lisboa, esse pedaço de estrada que acompanha o imenso oceano atlântico entre a foz do Tejo e a dita vila, que já se percebeu, dá pelo nome de Cascais.

 

Apreciar aquele imenso mar que banha a vila de Cascais, o seu charme e elegância ou a possibilidade de passear pelas suas ruas seria em si mesmo um convite a um roteiro que poderia dispensar a visita a locais culturais pré-determinados e, diga-se, será precisamente isso que atrai tantos turistas a este local, e nem se diga que será por se tratar de uma zona acessível a todas as carteiras, algo que já nem é novo nem recente, posto que já os nossos reis a frequentavam durante os seus períodos de férias.
 

Mas como estes roteiros não "vivem" sem referências museológicas não fará sentido terminar este dia por aqui, como se aquilo que antes se referiu se bastasse a si mesmo para o objectivo subjacente a estas linhas.

 

Por isso mesmo o roteiro teve início numa curiosidade pessoal, dita desta forma por corresponder a um local pelo qual tantas vezes havia passado, admirado a sua beleza exterior e intrigado pelo seu interior.

 

Refiro-me ao Museu Condes Castro de Guimarães, situado no denominado Quarteirão dos Museus - uma interessante forma de organização cultural bastante comum noutros quadrantes - onde emerge um imponente palácio de cor amarela, ladeado por um riacho e por um bonito jardim onde, aliás, podemos encontrar os túmulos da família que dá o nome ao palácio e que durante anos ali viveu.

 


Importante mesmo era então matar a curiosidade sobre o seu conteúdo e, diga-se, esse mesmo conteúdo é inteiramente merecedor de uma visita.


 


Trata-se de um espaço que é o resultado da vontade dos seus ilustres e abastados donos em dispor de uma coleção de obras de arte que, ainda que não obedecendo a um critério facilmente associado a único período ou estilo é, antes de mais, a expressão de um extremo bom gosto, a que não falta sequer um bonito órgão de igreja cuja instalação "obrigou" à eliminação do primeiro andar da sala de estar, demonstração clara de uma certa ostentação que deveria fazer as delícias de quem visitava, noutros tempos e noutro contexto bem distinto, aquela família.

 


Hoje em dia o espaço é gerido por uma fundação e, ironia do destino, debate-se com alguns problemas financeiros que impedem algumas obras de conservação do espaço, nomeadamente ao nível do telhado.

 

Admito perfeitamente que o facto de para muita gente este espaço ser muito mais associado à curiosidade exterior do próprio palácio sem uma percepção de que o mesmo é visitável acabe por afastar muitos turistas, nacionais ou não o que, a confirmar-se, constitui naturalmente um sério revês à sustentabilidade futura deste belo museu. Espera-se que não.


 


Bem perto deste museu podemos encontrar dois espaços que se encontram de certa forma interligados e que justificam ambos a curiosidade da visita.


 


Refiro-me em primeiro lugar à Casa de Santa Maria, um exemplo da arquitetura do mestre Raúl Lino, autor da mesma, situada na confluência do oceano com o riacho anteriormente referido.

 


Não sendo especialmente rica em decoração - não tem qualquer "recheio" - é particularmente interessante em função dos seus azulejos e pinturas de parede e, sobretudo, no andar superior uns tectos decorados ao estilo de algumas igrejas, com belíssimas pinturas que tornam este espaço numa descoberta que merece ser visitado.


 

Um pouco mais ao lado encontramos o Farol de Santa Maria de onde podemos observar o oceano em todo o seu esplendor e bravura, razão fundamental para existência deste mesmo farol, com a sua ancestral função de alerta das embarcações que ainda hoje por ali navegam, cruzando o mar em direção ao rio Tejo.

 

Não muito distante deste local a proposta deste novo roteiro passa pela visita à denominada "Casa das Histórias", espaço dedicado exclusivamente à artista Paula Rêgo, que desde logo apela aos sentidos por via da forma invulgar da respectiva arquitectura cuja inconvencionalidade acaba por ser coerente com a própria obra desta pintora.


 


Devo, contudo, confessar que o número de obras alí expostas deixa um certo travo de desilusão, por ser manifestamente pouco vasto, tendo em conta o volume da referida obra, algo que creio estar relacionado com a perda de apoios estatais à Fundação que suporta este museu.


 

Ainda assim é possível observar um conjunto de obras - todas elas subordinadas às ditas "histórias" - bastante interessante e sem dúvida representativas da forma peculiar de abordar essas mesmas histórias. 

 

Feitas as visitas programadas e porque o dia era sobretudo reservado a curiosidades assim haveria de acabar ao sabor de um excelente Irish Coffee num bar em plena marina de Cascais, que chama atenção por lembrar outras paragens, nomeadamente os típicos bares ingleses, quer na sua típica apresentação exterior quer sobretudo pelo seu ambiente interior, de seu nome John Bull que, segundo nos informam, faz agora meio século que ali se instalou.


 


Haveremos de voltar a Cascais noutro contexto, mas sempre com o mesmo objectivo, conhecer e dar a conhecer um novo roteiro.