Devolvendo os caminhos destes roteiros a
geografias não muito distantes da cidade de Lisboa, pareceria improvável senão
mesmo inaceitável não incluir nos mesmos parte daquilo que uma das mais belas
vilas de Portugal tem para oferecer, situada no preciso local onde termina a
não menos conhecida marginal de Lisboa, esse pedaço de estrada que acompanha o
imenso oceano atlântico entre a foz do Tejo e a dita vila, que já se percebeu,
dá pelo nome de Cascais.
Apreciar aquele imenso mar que banha a vila
de Cascais, o seu charme e elegância ou a possibilidade de passear pelas suas
ruas seria em si mesmo um convite a um roteiro que poderia dispensar a visita a
locais culturais pré-determinados e, diga-se, será precisamente isso que atrai
tantos turistas a este local, e nem se diga que será por se tratar de uma zona
acessível a todas as carteiras, algo que já nem é novo nem recente, posto que
já os nossos reis a frequentavam durante os seus períodos de férias.
Mas como estes roteiros não "vivem"
sem referências museológicas não fará sentido terminar este dia por aqui, como
se aquilo que antes se referiu se bastasse a si mesmo para o objectivo
subjacente a estas linhas.
Por isso mesmo o roteiro teve início numa
curiosidade pessoal, dita desta forma por corresponder a um local pelo qual
tantas vezes havia passado, admirado a sua beleza exterior e intrigado pelo seu
interior.
Refiro-me ao Museu Condes Castro de
Guimarães, situado no denominado Quarteirão dos Museus - uma interessante forma
de organização cultural bastante comum noutros quadrantes - onde emerge um
imponente palácio de cor amarela, ladeado por um riacho e por um bonito jardim
onde, aliás, podemos encontrar os túmulos da família que dá o nome ao palácio e
que durante anos ali viveu.
Importante mesmo era então matar a
curiosidade sobre o seu conteúdo e, diga-se, esse mesmo conteúdo é inteiramente
merecedor de uma visita.
Trata-se de um espaço que é o resultado da
vontade dos seus ilustres e abastados donos em dispor de uma coleção de obras
de arte que, ainda que não obedecendo a um critério facilmente associado a
único período ou estilo é, antes de mais, a expressão de um extremo bom gosto,
a que não falta sequer um bonito órgão de igreja cuja instalação
"obrigou" à eliminação do primeiro andar da sala de estar,
demonstração clara de uma certa ostentação que deveria fazer as delícias de
quem visitava, noutros tempos e noutro contexto bem distinto, aquela família.
Hoje em dia o espaço é gerido por uma fundação e, ironia do destino, debate-se com alguns problemas financeiros que impedem algumas obras de conservação do espaço, nomeadamente ao nível do telhado.
Admito perfeitamente que o facto de para
muita gente este espaço ser muito mais associado à curiosidade exterior do
próprio palácio sem uma percepção de que o mesmo é visitável acabe por afastar
muitos turistas, nacionais ou não o que, a confirmar-se, constitui naturalmente
um sério revês à sustentabilidade futura deste belo museu. Espera-se que não.
Bem perto deste museu podemos encontrar dois
espaços que se encontram de certa forma interligados e que justificam ambos a
curiosidade da visita.
Refiro-me em primeiro lugar à Casa de Santa Maria, um exemplo da arquitetura do mestre Raúl Lino, autor da mesma, situada na confluência do oceano com o riacho anteriormente referido.
Não sendo
especialmente rica em decoração - não tem qualquer "recheio" - é
particularmente interessante em função dos seus azulejos e pinturas de parede
e, sobretudo, no andar superior uns tectos decorados ao estilo de algumas
igrejas, com belíssimas pinturas que tornam este espaço numa descoberta que
merece ser visitado.
Um pouco mais ao
lado encontramos o Farol de Santa Maria de onde podemos observar o oceano em
todo o seu esplendor e bravura, razão fundamental para existência deste mesmo
farol, com a sua ancestral função de alerta das embarcações que ainda hoje por
ali navegam, cruzando o mar em direção ao rio Tejo.
Não muito distante deste local a proposta
deste novo roteiro passa pela visita à denominada "Casa das
Histórias", espaço dedicado exclusivamente à artista Paula Rêgo, que desde
logo apela aos sentidos por via da forma invulgar da respectiva arquitectura
cuja inconvencionalidade acaba por ser coerente com a própria obra desta
pintora.
Devo, contudo, confessar que o número de
obras alí expostas deixa um certo travo de desilusão, por ser manifestamente
pouco vasto, tendo em conta o volume da referida obra, algo que creio estar
relacionado com a perda de apoios estatais à Fundação que suporta este
museu.
Ainda assim é possível observar um conjunto
de obras - todas elas subordinadas às ditas "histórias" -
bastante interessante e sem dúvida representativas da forma peculiar de
abordar essas mesmas histórias.
Feitas as visitas programadas e porque o dia
era sobretudo reservado a curiosidades assim haveria de acabar ao sabor de um
excelente Irish Coffee num bar em plena marina de Cascais, que chama atenção
por lembrar outras paragens, nomeadamente os típicos bares ingleses, quer na
sua típica apresentação exterior quer sobretudo pelo seu ambiente interior, de
seu nome John Bull que, segundo nos informam, faz agora meio século que ali se
instalou.
Haveremos de voltar a Cascais noutro contexto, mas sempre com o mesmo objectivo, conhecer e dar a conhecer um novo roteiro.