quarta-feira, 29 de março de 2017

Roteiros - Pelos caminhos dos Orgãos de Soberania

Tradicionalmente o cidadão tende a olhar para os locais representativos dos órgãos de soberania como encontrando-se num patamar de inacessibilidade que, aliás, é transposto de forma ainda mais significativa para a forma como nos relacionamos com aqueles que curiosamente escolhemos para nos representar.

Ora não querendo entrar em matérias cuja natureza não remete directamente para a lógica dos roteiros importa, nesse caso, procurar dar a conhecer a circunstância de que, de facto, quase todos os locais onde os referidos órgãos de soberania têm assento são visitáveis.





Não vale isto por dizer que o acesso a tais locais é imediato e não requer alguma demanda da parte de quem esteja interessado em conhecer estes espaço, posto que em quase todos os casos é necessário agendamento prévio, na medida em que como parece mais ou menos óbvio mais do que locais em funcionamento permanente, são sobretudo locais onde não seria razoável admitir ser possível circular sem qualquer controlo de segurança.

Assim sendo o roteiro de hoje há-de circular entre a Presidência da República e o Parlamento.

No primeiro dos casos, o mais emblemático dos locais visitáveis corresponde ao famoso Palácio de Belém, carregado de simbolismo de tantas são as vezes que nos habituamos a ver aquele local na televisão e por onde passam quase diariamente as mais altas individualidades quer de Portugal quer dos países com que Portugal tem relações.

Trata-se de um belíssimo palácio, ricamente decorado, cheio de simbolismo e onde são notórias as marcas que cada presidente deixou por ali ficar, não obstante quase nenhum deles escolher este local para propriamente habitar, como aliás o poderiam fazer de pleno direito.

Não sendo possível a recolha de fotografias no seu interior - o que se estranha, por se tratar de um dos locais mais fotografados e filmados de todo o país - teremos de nos ficar pelo mero exercício de sugestão visual, algo que não será necessário em relação aos igualmente belos jardins, cuidadosamente tratados, sempre vigiados pelos agentes da autoridade.

No final da visita ao Palácio sugere-se igual visita pelo Museu da Presidência, o qual fica precisamente no mesmo espaço, local onde se encontram guardadas as memórias de mais de 100 anos de regime presidencial, nomeadamente as inúmeras e ímpares recordações que cada um dos Chefes de Estado recebeu de oferta de seus homónimos ou de outros representantes de Estado.

Numa outra zona bem distinta fica o outro pólo da Presidência da República, mais exactamente em Cascais, no Palácio da Cidadela desta cidade, uma fortificação onde hoje funciona em paralelo uma pousada, mas onde é igualmente possível visitar um palacete do tempo dos Reis, que funcionava então como casa de férias, e que assim continuou já depois da implantação da república.

Tendo caído em desuso durante o período do Estado Novo veio a ser recuperado já em anos recentes, sendo o acervo actual quase todo constituído por obras que integravam as reservas de outros museus, nomeadamente o Museu Nacional de Arte Antiga.

Não se julgue, contudo, que a harmonia e a coerência do espaço ficam a perder com esta aparente falta de ligação dos objectos a esse mesmo espaço, pois em momento algum essa situação transparece a quem visita o palácio.

Diga-se, a propósito, que o Palácio da Cidadela de Cascais parece ao olhar de quem o visita, como facilmente habitável, e com razão na medida em que é muito frequente ser a residência temporária da personalidades quando em visita a Portugal.

Por fim, o roteiro pelos órgãos de soberania passará, inevitavelmente, pela casa da Democracia, o Parlamento, antigo convento, convertido em local de representação dos cidadãos através dos deputados eleitos para esse fim, ainda que nem sempre de forma evidente.

Sendo a entrada livre, como não podia deixar de ser, a visita percorre todos os espaços emblemáticos do Parlamento, incluindo a possibilidade de, por breves momentos, nos sentarmos nos mesmos locais que durante a semana são ocupados pelos deputados.

É um espaço muito distinto e cheio de elegância, destacando-se os famosos "Passos Perdidos" e uma espécie de hemiciclo mais pequeno, onde normalmente funcionam as comissões, mas curiosamente porventura mais interessante do que o local mais conhecido do Parlamento, aquele que diariamente entra pelas televisões.

Podemos "acusar", como se refere inicialmente, os órgãos de soberania de algum afastamento em relação aos cidadãos, mas o afastamento dos cidadãos em relação aos espaços que esses mesmos órgãos ocupam só pode ser imputado a quem podendo visita-los não o faz por opção própria. E é pena que assim seja.













segunda-feira, 27 de março de 2017

Roteiros - Um olhar pela Estrela

Existe um tipo de turismo para quem, como eu, procura de forma organizada locais que marcam uma qualquer cidade que, porventura, estará fora das cogitações da generalidade dos visitantes mas não estarão ausentes de uma certa curiosidade quase voyeurista de quem se habituou a caminhar por essas mesmas cidades à procura das suas principais marcas, mas igualmente daquilo que as distingue das demais.

Trata-se, por assim dizer, de um turismo alternativo, menos evidente certamente, que vai buscar a identidade histórica de cada local ao local onde repousam as suas grandes figuras, isto é, aos seus cemitérios.

Existem, pelo menos, duas referencias na Europa deste tipo de locais que se tornaram igualmente pontos de peregrinação para quem pretende antes de mais apreciar o contexto histórico deste tipo de locais ao invés de os julgar pelo seu carácter aparentemente mórbido.

Um desses locais é o cemitério "Père Lachaise" em Paris sendo o outro o Wiener Zentralfriedhof, o cemitério central de Viena, onde podemos encontrar referencias culturais da historia de cada um destes países, devidamente sinalizadas através de um mapa que nos guia por estes quase intermináveis espaços, quais cidades onde já ninguém vive.

Outros exemplos de cemitérios famosos são aqueles que guardam a memória daqueles que morreram em guerras, sendo normalmente espaços ajardinados que impressionam pela sua dimensão e pelo numero incontável e indistinto de cruzes que sinalizam as igualmente incontáveis mortes causadas pela ação auto-destruidora do Homem.

A região da Normandia é, neste especto, um dos melhores exemplos desta marca que envergonha, ou deveria envergonhar, todo o ser humano.

Tendo-me distanciado geograficamente da cidade de Lisboa importa a ela voltar fazendo a ponte sobre este mesmo tema, na medida em que também é possível encontrar um local que, embora de dimensões consideravelmente menores, apresenta uma contextualização histórica que justifica a visita a um cemitério, no caso vertente o cemitério dos Prazeres.

Este local é um verdadeiro ponto de encontro da memoria cultural, arquitectónica e politica de Portugal, onde é possível verificar que ali jazem grandes vultos da arte, seja qual for a sua forma, inúmeros registos de políticos da maior relevância histórica, seja no período da monarquia seja na forma seguinte, a republicana (entre os quais mais recentemente do Dr. Mário Soares), quase todos eles sob autenticas obras-primas de arquitetura, com a assinatura de alguns dos mais relevantes arquitectos de Portugal, não faltando inúmeras referencias à Maçonaria que, até ali, desperta a curiosidade sobre a simbologia associada ao "secretismo" sempre associado a esta organização.

Bem perto deste local encontramos um dos ex-libris da capital, a Basílica da Estrela, um imponente local católico, cujo interior impressiona pela sua dimensão e beleza dos seus mármores e pinturas, ao estilo barroco e neoclássico embora tenha sido construído no ultimo quartel do século XVIII, onde não falta um grande órgão e até mesmo o famoso presépio de Machado de Castro.

No exterior (e no interior) a imponente cúpula destaca-se no conjunto arquitectónico geral.

Mesmo em frente à Basílica existe um pequeno mas bastante rico jardim, "decorado" com variadas espécies arbóreas, cujas longas raízes antecipam a sua vetustez e onde também não falta o lago central onde se banham algumas aves características destes espaços, onde em tempos não muito distantes não era possível circular sem as necessárias cautelas devido a uma frequência menos adequada deste espaço, algo que aparentemente já não se verifica atualmente.


Como não podia deixar de ser a sugestão gastronómica termina o presente roteiro e, por isso, mesmo o restaurante Bota Velha, bem junto à Basílica, serve petiscos bons e variados a um custo simpático.