Existe um tipo de turismo para quem, como eu, procura de forma organizada locais que marcam uma qualquer cidade que, porventura, estará fora das cogitações da generalidade dos visitantes mas não estarão ausentes de uma certa curiosidade quase voyeurista de quem se habituou a caminhar por essas mesmas cidades à procura das suas principais marcas, ma
s igualmente daquilo que as distingue das demais.

Trata-se, por assim dizer, de um turismo alternativo, menos evidente certamente, que vai buscar a identidade histórica de cada local ao local onde repousam as suas grandes figuras, isto é, aos seus cemitérios.
Existem, pelo menos, duas referencias na Europa deste tipo de locais que se tornaram igualmente pontos de peregrinação para quem pretende antes de mais apreciar o contexto histórico deste tipo de locais ao invés de os julgar pelo seu carácter aparentemente mórbido.

Um desses locais é o cemitério "Père Lachaise" em Paris sendo o outro o Wiener Zentralfriedhof, o cemitério central de Viena, onde podemos encontrar referencias culturais da historia de cada um destes países, devidamente sinalizadas através de um mapa que nos guia por estes quase intermináveis espaços, quais cidades onde já ninguém vive.
Outros exemplos de cemitérios famosos são aqueles que guardam a memória daqueles que morreram em guerras, sendo normalmente espaços ajardinados que impressionam pela sua dimensão e pelo numero incontável e indistinto de cruzes que sinalizam as igualmente incontáveis mortes causadas pela ação auto-destruidora do Homem.

A região da Normandia é, neste especto, um dos melhores exemplos desta marca que envergonha, ou deveria envergonhar, todo o ser humano.

Tendo-me distanciado geograficamente da cidade de Lisboa importa a ela voltar fazendo a ponte sobre este mesmo tema, na medida em que também é possível encontrar um local que, embora de dimensões consideravelmente menores, apresenta uma contextualização histórica que justifica a visita a um cemitério, no caso vertente o cemitério dos Prazeres.
Este local é um verdadeiro ponto de encontro da memoria cultural, arquitectónica e politica de Portugal, onde é possível verificar que ali jazem grandes vultos da arte, seja qual for a sua forma, inúmeros registos de políticos da maior relevância histórica, seja no período da monarquia seja na forma seguinte, a republicana (entre os quais mais recentemente do Dr. Mário Soares), quase todos eles sob autenticas obras-primas de arquitetura, com a assinatura de alguns dos mais relevantes arquitectos de Portugal, não faltando inúmeras referencias à Maçonaria que, até ali, desperta a curiosidade sobre a simbologia associada ao "secretismo" sempre associado a esta organização.

Bem perto deste local encontramos um dos ex-libris da capital, a Basílica da Estrela, um imponente local católico, cujo interior impressiona pela sua dimensão e beleza dos seus mármores e pinturas, ao estilo barroco e neoclássico embora tenha sido construído no ultimo quartel do século XVIII, onde não falta um grande órgão e até mesmo o famoso presépio de Machado de Castro.
No exterior (e no interior) a imponente cúpula destaca-se no conjunto arquitectónico geral.

Mesmo em frente à Basílica existe um pequeno mas bastante rico jardim, "decorado" com variadas espécies arbóreas, cujas longas raízes antecipam a sua vetustez e onde também não falta o lago central onde se banham algumas aves características destes espaços, onde em tempos não muito distantes não era possível circular sem as necessárias cautelas devido a uma frequência menos adequada de
ste espaço, algo que aparentemente já não se verifica atualmente.

Como não podia deixar de ser a sugestão g
astronómica termina o presente roteiro e, por isso, mesmo o restaurante Bota Velha, bem junto à Basílica, serve petiscos bons e variados a um custo simpático.
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