domingo, 29 de maio de 2011

Sementes de violência

Esta semana um tribunal português tomou decisão que, a avaliar pelas reacções que tenho tido ocasião de ler e do meu próprio entendimento, deve ser considerada como bastante corajosa.

Trata-se da decisão de colocar em prisão preventiva dois dos jovens que estiverem envolvidos na “realização” de uma absurda cena de violência juvenil sobre uma jovem de 13 anos.

Não me deterei em analisar o “argumento” deste “filme” de mau gosto nem tão pouco a avaliar o perfil psicológico dos seus “interpretes”, na medida em que creio que a vitima real desta inusitada violência e passividade talvez não seja, noutras circunstâncias, tão inocente como possa resultar do visionalmento isolado deste evento.

Parece-me sobretudo interessante perceber como é que se chega até aqui e como é que, no meu entender, a Sociedade deve lidar com este tipo de situações.

A este tipo de situações foi atribuido uma denominação própria, um estrangeirismo denominado “bullyng”.

De uma forma ou de outra qualquer um de nós que frequentou a escola deparou-se em determinado momento com alguma forma de “bullyng” seja sobre si próprio ou sobre um colega, ainda que o termo utilizado não fosse necessáriamente este.

Não só o termo não seria o mesmo como as suas repercussões estiveram durante muitos anos longe de ser as actuais.

Quando surge uma qualquer nova noticia deste género é normal situarem-se as suas origens num espaço que se situa a montante do mesmo, ou seja, nas escolas.

É, então, frequente aludir-se à ausência de autoridade das escolas e dos professores em particular, bem como da insegurança que nelas se vive, fruto de uma insuficiente vigilância por parte das autoridades policiais.

Admito perfeitamente que qualquer deste factos contribua para o problema. No entanto, não é a verdadeira génese do mesmo.

O verdadeiro problema é o da desagregação familiar e da ausência de valores essenciais que têm, em primeira linha, de ser transmitidos pelas famílias.

Na parte final do século transacto e naturalmente no presente “assistiu-se” a uma transferência integral por parte de muitas (demasiadas) familias do dever de educar e de socializar para as escolas, por indisponibilidade ou incapacidade de o fazerem dentro das suas próprias casas.

Acontece que a escola não é nem nunca foi o elemento primário de educação ou de socialização.

A escola é, isso sim, um veículo primordial de ensino e de aquisição de competências e, não menos importante, um mecanismo auxiliar da integração social dos jovens, ajudando a promover hábitos de cidadania, urbanidade e respeito pelos outros.

Mas este último papel deve ser, repito, um complemento ao “trabalho de casa” que cada um de nós deve realizar relativamente aos nosso filhos.

O problema, tal como referi anteriormente, é que a escola está muitas vezes a desempenhar sozinha esse papel, numa espécie de trapezista sem rede, sabendo que se falhar não tem outra resposta a dar.

Se juntarmos a este facto uma menor capacidade dos próprios professores em lidarem com este tipo de situações percebemos de forma mais correcta os motivos pelos quais existem tantas e tantas situações de opressão entre alunos ou “bullyng” conforme lhe queiram chamar.

Como deve o Estado reagir perante estas situações? Com firmeza, certamente!

Todos os jovens que se coloquem à margem deste tipo de comportamentos devem ser protegidos contra todos aqueles que fazem precisamente o contrário.

Nesse sentido, entendo que ao Estado cumpre o papel fundamental de os proteger. E como? Fazendo dos prevaricadores um exemplo para os demais face às consequências negativas que os seus comportamentos acarretam para os próprios.

É meu entendimento que não será pelo encarceramento pura e simples que a questão se resolve porque ao Estado também incumbe garantir uma segunda oportunidade, mesmo para aqueles que dificilmente a merecem.

A criação de recintos de natureza prisional em que haja a obrigação de frequência de aulas com os mesmos curriculos que as demais escolas e o reforço da necessidade de interiorização das mais elementares regras de civismo, incluindo o trabalho comunitário, não deixaria de congregar quase todos os efeitos desejados, ou seja, o cumprimento de uma pena efectiva e ao mesmo tempo a consciencialização pessoal da necessidade de se optar por comportamentos uteis para com a sociedade que nos rodeia.

O sentimento de impunidade em função da menoridade prevaleceu durante muitos anos. A coragem da decisão deste juiz pode ter sido – esperamos todos – o incio do fim desse sentimento. Assim vão as cousas.

domingo, 22 de maio de 2011

TV Rural

Os momentos de campanha eleitoral são férteis em trazer à ordem do dia alguns temas que são transversáis à disputa política ao longo dos anos mas que, por algum motivo, teimam em não ter qualquer modificação do seu estado inicial.

Um desses temas é o da regionalização.

Embora reconheça que é hoje um assunto com menor fulgor não deixa, ainda assim, de ser tema comum a boa parte das intervenções politicas dos autarcas quando estes se juntam aos respectivos lideres partidários na sua demanda pelos votos.

Por estranho que possa parecer este até será um daqueles temas em que parece haver uma certa convergência entre as forças partidárias.

Ora se assim é então porque não se evoluiu já para uma reorganização da configuração do actual modelo?

Creio que o motivo é exactamente essa convergência.

Infelizmente não se verifica em Portugal uma capacidade de criar entendimentos alargados sobre temas relativamente aos quais todos parecem estar de acordo, mas que por conveniências meramente partidárias se obrigam a divergir.

E porque é que isto acontece?

O actual modelo de organização administrativa do país criou um sem-número de Concelhos e Freguesias que na prática mais do que representarem qualque mais-valia para os cidadãos onde estão inseridos constituem polos locais de intervenção politica dos partidos que a eles concorrem.

Por este motivo não tardaram em surgir ao longo dos anos uma espécie de “barões” locais que eleição após eleição foram cimentando a sua posição pessoal criando não raras vezes (demasiadas vezes) situações de manifesto benefício pessoal dos cargos que ocupam.

Naturalmente que nem sempre será este o caso, mas sem dúvida que este é um dos motivos principais pelo qual o processo de regionalização não “ata nem desata”.

Ou seja, qualquer reorganização administrativa implicaria forçosamente uma redução drástica de autarquias e, por arrastamente, a extinção de numerosos cargos politicos.

Bastará ver por exemplo as reacções inflamadas da Associação Nacional de Municípios e a sua homóloga das freguesias quando se verifica alguma decisão do poder central que de alguma forma retire parcelas do Orçamento que lhes estariam destinadas.

A meu ver Portugal só teria a ganhar com uma regionalização que permitisse fundamentalmente as seguintes situações:

Em primeiro lugar a supressão de muitos dos actuais Concelhos e respectivas freguesias, englobando-os em circunscrições mais amplas e de maior dimensão demográfica que por seu turno incorporariam uma nova região administrativa ela própria mais vasta do que os actuais Distritos.

Em segundo lugar e decorrente da primeira estas novas regiões passariam a estar dotadas de mecanismos legislativos e financeiros próprios que determinariam a sua capacidade de auto-organização e (espera-se) a sua sustentabilidade e desenvolvimento.

O endividamento de grande parte das autarquias decorre em boa parte do esbanjamento de dinheiros públicos em obras de "fachada" mas também por via da impossibilidade de gestão de um orçamento local próprio que teria necessariamente em conta as necessidades locais, para as quais o poder central não estará certamente tão "sensibilizado".

Cada nova região teria competências, por exemplo, para gerir as suas necessidades ao nível da assistência hospitalar e dos demais cuidados de saúde, do parque escolar e até da justiça, cortando o “cordão umbilical” com o poder central.

A questão é que também aqui reside a “chave” pelo qual a regionalização não avança.

É que parece demasiado evidente que os sucessivos governos não parecem muito interessados em “distribuir” aquela que é, na prática, uma função que ela desempenha de acordo com o seu próprio interesse, eventualmente em função da “côr” partidária de uma determinada Câmara Municipal ou Junta de Freguesia.

Por isso mesmo é muito comum ouvirmos a expressão de que “não é o tempo oportuno” para se falar de regionalização.

Em suma, o que se verifica em bom rigor é que todos querem a regionalização, mas aparentemente poucos estarão disponiveis para abdicar da sua quota-parte de poder.

Enquanto assim for continuaremos alegremente a “viver” com uma divisão administrativa mais vasta e complexa que a alemã cuja dimensão é incomensurávelmente maior do que a nossa e, pois claro, com os niveis de desenvolvimento que todos conhecemos.

Há uns anos atrás parecem haver condições para a conclusão deste processo pela via política.

Infelizmente optou-se por “perguntar” aos portugueses o que é que pensavam deste assunto e estes mesmos portugueses perante a incapacidade de decidirem em consciência sobre as vantagens ou desvantagens da regionalização fizeram (os poucos que foram votar) aquilo que seria previsivel, isto é, votaram naquilo que os   respectivos partidos diziam.

O resultado foi o que se sabe e por isso só nos resta esperar que um dia seja “oportuno”. Assim vão as cousas.

domingo, 15 de maio de 2011

Lloyds de Londres

Visita ao Lloyds de Londres em 11 de Maio de 2011









Touro lindo


Parece que a nova temporada de touradas terá começado recentemente.

Não me refiro às lides que todos os dias nos consomem a paciência e os rendimentos, cujos protagonistas são os políticos, as troikas, e afins.

Falo naturalmente das touradas a sério, aquelas que metem touros e toureiros.

Devo confessar, sem quaisquer reservas que sou um profundo opositor deste triste espectáculo.

Fundamentalmente não vejo qualquer forma de justificar a manutenção de uma forma de barbárie pública bem ao jeito dos velhos circos romanos, onde se sacrificavam seres humanos e animais para gáudio dos espectadores.

Verdade seja dita todos sabemos que hoje já não se sacrificam vidas humanas (pelo menos desta forma), mas parece-me que a evolução não terá sido suficientemente completa ao ponto de também se ter conseguido eliminar formas de “espectáculo” cujo objectivo único é o “divertimento” geral à custa de animais.

Esta questão não é certamente nova e tem produzido porventura tantos apologistas do fim das touradas como defensores das mesmas.

Os argumentos pro-tourada são, diga-se, fascinantes.

Um dos referidos argumentos remete para a tradição portuguesa das touradas.

Ora há quem diga – e com razão – que as tradições já não são o que eram o que não quer dizer outra coisa que nada existe de tão imutável que não possa ser objecto de uma revisão geracional, fruto da mudança dos tempos e dos costumes.

Se nos tempos dos Maias haveria a tradição de efectuar sacrifícios humanos em nomes dos deuses presumo que, mesmo que esta civilização não se tivesse extinguido, esta tradição já teria cessado.

Por outro lado verificamos que os nossos vizinhos espanhóis começam paulatinamente a restringir ou mesmo impedir as touradas e não se diga que esta não era também uma sua tradição.

Não é, pois, certamente, esta a argumentação correcta.

Refere-se igualmente a importância económica das touradas.

Não nego que este “espectáculo” tenha uma dimensão económica, nas (poucas) regiões onde ainda subsiste, que seja desprezável.

Entendo, contudo, que não é um argumento suficiente. E porquê?

Porque o desenvolvimento local não pode ser sustentado em rituais que são no essencial um retrocesso civilizacional, pelo que os mesmos meios que são canalizados para estas exibições gratuitas de violência, nomeadamente para pagar somas chorudas a toureiros podem perfeitamente ser canalizados para outras actividades igualmente geradoras de riqueza e oportunidades de negócio.

Por fim, aquela que me parece a melhor das justificações será aquela que remete para uma espécie de auto-satisfação do próprio animal.

Com base nesta teoria que tem tanto de absurda como de ridícula, o touro teria uma espécie de auto comprazimento pelo simples facto de lhe espetarem uma série de farpas no lombo porque desse facto resulta uma descompressão do seu estado de congestão ou algo do género.

A libertação pela dor ou o fundamentalismo explicado aos animais.

Em Barrancos anualmente vivia-se uma “festa” porque num determinado fim-de-semana se realizava uma tourada improvisada onde se fazia (e faz) uma lide daquilo que se convencionou chamar de “touros de morte”.

Nessa ocasião gerou-se ao longo de vários anos uma romaria mediática a esta localidade não tanto pelas festas locais mas sim porque nesses fins-de-semana se violava objectivamente uma lei que impedia a prática dos “touros de morte” em Portugal.

Bem ao jeito da nossa forma de estar os poderes políticos depressa criaram um regime de excepção para as festas de Barrancos, afastando deles próprios o incómodo de terem de lidar com a “rebeldia” popular, com direito a televisão e tudo.

Não tardou até que outras populações passassem também eles a invocar um qualquer direito ancestral convertido em direito divino para justificar o regime de excepção relativamente aos “touros de morte”.

É o espelho de um país cuja celeridade em exigir os seus presuntivos direitos só tem paralelo na incapacidade em reconhecer as suas obrigações.

Não duvido que a “festa brava” continue a ser justificada por cá mais uns bons anos assente nestes e noutros pressupostos de natureza insondável.

O que dificilmente será alguma vez justificável será a manutenção no nosso país de uma “arte” indigna de uma sociedade civilizada. Assim vão as cousas.

domingo, 8 de maio de 2011

Carta aberta a José Manuel Fernandes

Exmo. Sr. José Manuel Fernandes,

Sou leitor assíduo do jornal que Vexa. trabalha e no qual já desempenhou funções de direcção.

Tenho, contudo, reparado que Vexa. parece utilizar a coluna de página inteira que lhe está destinado para, semanalmente, fazer passar aquelas que são de forma bastante evidente as suas próprias convicções politicas.

Nem está em causa igualmente o direito à opinião que Vexa. como eu próprio dispomos de livremente expor as nossas opiniões.

Sucede porém que Vexa. não é um cidadão qualquer.

O senhor é um jornalista, com direito a uma coluna de opinião semanal no jornal que dirigiu no passado.

Diz-se (ou dizia-se) que o bom jornalismo é aquele que é por natureza isento.

Ora, constato que as crónicas de Vexa. nada têm de isentas.

Logo Vexa. que há não muito tempo falava em plena Assembleia da República em fenómenos de “constrangimentos” da liberdade informativa pelo actual Governo.

Admitindo que tal possa ser pontualmente verdade, parece-me que Vexa. é o exemplo acabado de alguém que utiliza em seu próprio proveito um espaço de opinião, sem qualquer forma de constrangimento.

Sem constrangimento e, acrescento, sem qualquer hipótese de contraditório.

Neste nosso país à beira-mar plantado sempre faltou o pudor de se assumir publicamente uma linha editorial mais ou menos ligada a um determinado partido.

Bem pelo contrário, invoca-se gratuitamente a independência jornalística para, não raras vezes, se agir de forma precisamente contrária a essa suposta independência.

Seria, portanto, bem mais claro aos olhos das pessoas – como eu – que semanalmente lêem a sua coluna que Vexa. assumisse de forma frontal o seu mais do que manifesto apoio ao actual líder da oposição.

Dessa forma evitar-se-ia sermos confrontados com crónicas que parecem fazer crer que o Dr. Mário Soares passou a ser apoiante do Dr. Pedro Passos Coelho.

De tanto procurar um mesmo objectivo Vexa. perdeu a objectividade.

Recuando um pouco mais no baú das minhas memórias, recordo-me também que Vexa. patrocinou a maior e mais mal explicada tentativa da nossa história contemporânea de colocar dois órgãos de soberania em rota de colisão.

Digo patrocinou porque o jornal que Vexa. dirigia nessa altura foi o veículo necessário para fazer passar a mensagem que o “dono” do Palácio de São Bento estaria a escutar o “dono” do Palácio de Belém.

Ajudou, portanto, a criar uma espécie de guerra palaciana.

Por isso digo e repito que Vexa. não é um cidadão qualquer.

Tudo junto permite dar razão a todos aqueles que entendem que a independência do “seu” jornal durante o seu “reinado” não era mais do que uma força de expressão sem qualquer significado prático perante uma linha editorial marcadamente anti-governamental.

Não julgue Vexa. que entendo que o “seu” jornal deveria enveredar por uma qualquer motivação seguidista. Não.

É igualmente criticável quem de forma indisfarçada pretende fazer-nos ver aquilo que mais ninguém parece ver

Não duvido, pelo sua experiência, que Vexa. ignore o poder que tem em mãos quando escreve os seus monólogos de sexta-feira e por isso mesmo não tenho qualquer sombra de dúvida que os mesmos são conduzidos de forma objectiva e premeditada.

Irei, como até agora, continuar a ser leitor do “seu” jornal, mas lamento informar que a sua última crónica (somadas à quase totalidade das anteriores) afastou irremediavelmente este “seu” leitor.

Ser independente do poder político é ser equidistante a esse mesmo poder. Não é de certeza agir sistematicamente contra ele, mesmo que pouco ou nada se possa dizer em seu abono. Assim vão as cousas.

domingo, 1 de maio de 2011

Der Philosoph

Que a imagem dos políticos não é genericamente favorável aos olhos da opinião pública, já todos sabemos.

Que esse julgamento nem sempre é justo também é uma realidade.

Existe, contudo, uma estirpe de agentes políticos que recolhem uma quase unanimidade das opiniões.

Falo dos políticos ressabiados.

Tais políticos são em geral aqueles que “chegam” à política de forma genericamente mal explicada, normalmente mais assente no seu percurso académico do que em qualquer experiência ao serviço da causa pública.

Em bom rigor é nesse preciso momento que se inicia a “desconfiança” com que são vistos pelas pessoas, beneficiando ao mesmo tempo de uma certa margem de manobra para causar o chamado efeito-surpresa, logo que a respectiva acção política ganhe alguma visibilidade, desde que essa visibilidade seja adquirida de forma notoriamente positiva.

O problema é quando se conclui pela manifesta impreparação ou incapacidade para o exercício das funções que lhe estavam destinadas, situação da qual resulta normalmente um protagonismo individual pelos motivos errados.

Ao longo dos últimos anos tenho acompanhado de forma interessada, embora distante, o “percurso” político do Dr. Manuel Maria Carrilho, personalidade que considero perfeitamente enquadrável no referido grupo dos políticos ressabiados.

O Dr. Manuel Maria Carrilho surge à frente do pelouro da cultura pela mão do Eng. António Guterres, sem qualquer registo prévio de uma actividade política reconhecida ou reconhecível, com um currículo ligado sobretudo à filosofia, ciência nobre e ancestral embora caída um pouco em desuso nos tempos actuais.

É certo que a pasta da cultura é normalmente a “ovelha negra” de qualquer ministério, sendo aquela a que normalmente menos importância se dá o que, politicamente falando, não quer dizer outra coisa que não seja a que recebe a menor fatia do orçamento de Estado.

Por isso mesmo não é tarefa fácil dar visibilidade às políticas culturais levadas a cabo pelo respectivo responsável pela pasta, a menos que esse responsável se chame Pedro Santana Lopes e resolva construir uma obra faraónica chamada CCB (note-se que nada tenho contra este espaço cultural de excelência).

O Dr. Manuel Maria Carrilho conseguiu de certa forma contornar a falta de visibilidade do seu pelouro, dando-se a conhecer por via da sua personalidade, nomeadamente por uma certa sobranceria intelectual que pauta as suas intervenções públicas.

Uma vez fechado o ciclo dos governos do Eng. António Guterres, o Dr. Manuel Maria Carrilho não perdeu muito tempo até procurar para si um novo desafio, impondo-se como candidato do PS à Câmara de Lisboa, desafio este que viria a perder, não sem antes ter dado mostras de uma manifesta falta de educação, que ficou exposta aos olhos da opinião pública quando “resolveu” deixar o seu principal rival de mão estendida após um debate televisivo que não lhe havia corrido nada bem.

O Dr. Manuel Maria Carrilho passou a ser, na prática, um problema para o seu próprio partido, uma vez que a sua necessidade de protagonismo não tinha muito claramente uma correspondência junto do eleitorado.

Talvez por esse mesmo motivo foi-lhe concedida a possibilidade de se mudar de armas e bagagens para a cidade-luz, acompanhado da respectiva família, para desempenhar o papel de Embaixador da Unesco.

Dessa passagem não se reconhece qualquer actividade digna de registo (o seu próprio site omite qualquer referência concreta a este período), mas fica marcada por um crescente posicionamento público contra as posições assumidas pelo líder do seu próprio partido, posições essas que terão contribuído ou não – dependendo de quem acredita em coincidências – para a sua saída do referido cargo.

Desde essa altura o tom critico das suas intervenções cresceu exponencialmente e com um destinatário perfeitamente definido, atrás referido.

Quando se “esperava” que o Dr. Manuel Maria Carrilho surgisse como a alternativa ao Eng. José Sócrates no último congresso ou, no mínimo, que se constituísse com a voz incómoda do partido, eis que o próprio primou pela sua ausência ao mesmo tempo que surgia nas televisões reafirmando os seus pontos de vista.

É por demais evidente que o Congresso do PS não se prestava a criar espaço para possíveis alternativas à actual liderança, contudo, é precisamente nestes momentos que se marcam posições que no futuro poderão recolher dividendos.

O Dr. Manuel Maria Carrilho optou pela via mais fácil, aquela que impede uma exposição pessoal da sua incapacidade de mobilização, que ele intimamente não ignora mas que jamais reconhecerá.

Goste-se ou não, o Dr. Marcelo Rebelo de Sousa, o Dr. Pacheco Pereira e mesmo o Dr. Pedro Santana Lopes são excelentes exemplos de figuras públicas que dominam perfeitamente a relação com o público e têm perfeita consciência da dimensão do seu “auditório” e das repercussões das posições que assumem.

O Dr. Manuel Maria Carrilho jamais terá essa capacidade porque, no fundo, o Dr. Manuel Maria Carrilho gosta sobretudo de se ouvir a ele próprio. Assim vão as cousas.