Que a imagem dos políticos não é genericamente favorável aos olhos da opinião pública, já todos sabemos.
Que esse julgamento nem sempre é justo também é uma realidade.
Existe, contudo, uma estirpe de agentes políticos que recolhem uma quase unanimidade das opiniões.
Falo dos políticos ressabiados.
Tais políticos são em geral aqueles que “chegam” à política de forma genericamente mal explicada, normalmente mais assente no seu percurso académico do que em qualquer experiência ao serviço da causa pública.
Em bom rigor é nesse preciso momento que se inicia a “desconfiança” com que são vistos pelas pessoas, beneficiando ao mesmo tempo de uma certa margem de manobra para causar o chamado efeito-surpresa, logo que a respectiva acção política ganhe alguma visibilidade, desde que essa visibilidade seja adquirida de forma notoriamente positiva.
O problema é quando se conclui pela manifesta impreparação ou incapacidade para o exercício das funções que lhe estavam destinadas, situação da qual resulta normalmente um protagonismo individual pelos motivos errados.
Ao longo dos últimos anos tenho acompanhado de forma interessada, embora distante, o “percurso” político do Dr. Manuel Maria Carrilho, personalidade que considero perfeitamente enquadrável no referido grupo dos políticos ressabiados.
O Dr. Manuel Maria Carrilho surge à frente do pelouro da cultura pela mão do Eng. António Guterres, sem qualquer registo prévio de uma actividade política reconhecida ou reconhecível, com um currículo ligado sobretudo à filosofia, ciência nobre e ancestral embora caída um pouco em desuso nos tempos actuais.
É certo que a pasta da cultura é normalmente a “ovelha negra” de qualquer ministério, sendo aquela a que normalmente menos importância se dá o que, politicamente falando, não quer dizer outra coisa que não seja a que recebe a menor fatia do orçamento de Estado.
Por isso mesmo não é tarefa fácil dar visibilidade às políticas culturais levadas a cabo pelo respectivo responsável pela pasta, a menos que esse responsável se chame Pedro Santana Lopes e resolva construir uma obra faraónica chamada CCB (note-se que nada tenho contra este espaço cultural de excelência).
O Dr. Manuel Maria Carrilho conseguiu de certa forma contornar a falta de visibilidade do seu pelouro, dando-se a conhecer por via da sua personalidade, nomeadamente por uma certa sobranceria intelectual que pauta as suas intervenções públicas.
Uma vez fechado o ciclo dos governos do Eng. António Guterres, o Dr. Manuel Maria Carrilho não perdeu muito tempo até procurar para si um novo desafio, impondo-se como candidato do PS à Câmara de Lisboa, desafio este que viria a perder, não sem antes ter dado mostras de uma manifesta falta de educação, que ficou exposta aos olhos da opinião pública quando “resolveu” deixar o seu principal rival de mão estendida após um debate televisivo que não lhe havia corrido nada bem.
O Dr. Manuel Maria Carrilho passou a ser, na prática, um problema para o seu próprio partido, uma vez que a sua necessidade de protagonismo não tinha muito claramente uma correspondência junto do eleitorado.
Talvez por esse mesmo motivo foi-lhe concedida a possibilidade de se mudar de armas e bagagens para a cidade-luz, acompanhado da respectiva família, para desempenhar o papel de Embaixador da Unesco.
Dessa passagem não se reconhece qualquer actividade digna de registo (o seu próprio site omite qualquer referência concreta a este período), mas fica marcada por um crescente posicionamento público contra as posições assumidas pelo líder do seu próprio partido, posições essas que terão contribuído ou não – dependendo de quem acredita em coincidências – para a sua saída do referido cargo.
Desde essa altura o tom critico das suas intervenções cresceu exponencialmente e com um destinatário perfeitamente definido, atrás referido.
Quando se “esperava” que o Dr. Manuel Maria Carrilho surgisse como a alternativa ao Eng. José Sócrates no último congresso ou, no mínimo, que se constituísse com a voz incómoda do partido, eis que o próprio primou pela sua ausência ao mesmo tempo que surgia nas televisões reafirmando os seus pontos de vista.
É por demais evidente que o Congresso do PS não se prestava a criar espaço para possíveis alternativas à actual liderança, contudo, é precisamente nestes momentos que se marcam posições que no futuro poderão recolher dividendos.
O Dr. Manuel Maria Carrilho optou pela via mais fácil, aquela que impede uma exposição pessoal da sua incapacidade de mobilização, que ele intimamente não ignora mas que jamais reconhecerá.
Goste-se ou não, o Dr. Marcelo Rebelo de Sousa, o Dr. Pacheco Pereira e mesmo o Dr. Pedro Santana Lopes são excelentes exemplos de figuras públicas que dominam perfeitamente a relação com o público e têm perfeita consciência da dimensão do seu “auditório” e das repercussões das posições que assumem.
O Dr. Manuel Maria Carrilho jamais terá essa capacidade porque, no fundo, o Dr. Manuel Maria Carrilho gosta sobretudo de se ouvir a ele próprio. Assim vão as cousas.
Sem comentários:
Enviar um comentário