domingo, 31 de março de 2013

Ecce Homo



Uma das questões primordiais de qualquer ser humano é a sua relação com a religião - independentemente da natureza da mesma – nomeadamente o posicionamento individual perante a divindade.

Pessoalmente, como seria natural, não “escapo” a essa mesma questão tendo optado por uma via do agnosticismo, isto é, adoptando a posição de alguém que não acredita mas, simultaneamente, não nega a possibilidade da existência de um Deus.

Esta perspectiva que, atrevo-me a dizer, pode ser considerada como ambígua, tem na sua génese um pressuposto duplo, assente tanto de uma abordagem de cepticismo perante a oposição ao desconhecido ou incognoscível, subjacente a qualquer convicção religiosa ou metafísica, mas afastando, por outro lado, de uma perspectiva ateísta, ou seja, a rejeição pura e simples da crença ou da existência de divindades.

O motivo, a que chamarei de filosófico, para esta distinção parte da percepção que a negação total possa ser, em si mesmo, a confirmação do seu oposto, pelo mesmo princípio de que qualquer afirmação positiva só é válida porque se contrapõe à sua antítese negativa.

Qualquer enunciado que crie um pressuposto imutável de negação absoluta do que não é conhecido colide frontalmente com a suposta racionalidade de que tal pensamento se encontra embutido, tendo em conta que não é possível simplesmente afirmar que tudo se conhece.

Ora é precisamente esta racionalidade que “move” o meu espírito e que determina que, mais importante do que reconhecer o negar a existência de divindades, é o Ser Humano que deve ser colocada no topo da hierarquia, numa espécie de escala de importância racional.

Os valores desta corrente de pensamento de natureza filosófica denominada de Humanismo, são aqueles que mais importância atribuem à racionalidade, centrando-se na importância da dignidade humana, considerando neste mesmo conceito uma multiplicidade de outras formulações de igual natureza.

É, permito-me concluir, uma postura ética, assente no princípio da igualdade entre o Ser Humano e, neste capítulo é seguro dize-lo há ainda um longo caminho a percorrer, mas é aquele pelo qual eu procuro trilhar as minhas acções, numa perspectiva que em momento algum se confundirá com uma qualquer corrente política.

Em suma, o agnosticismo humanista é aquele que, a meu ver, poderá responder afirmativamente a esta aspiração.

A questão que se coloca é, desta forma, relativamente simples e facilmente perceptível: enquanto o Ser Humano não se respeitar a si próprio não fará sentido pensar que possa ser uma entidade sobrenatural a faze-lo por nós.

Diz-nos a História da Humanidade que a condução dos nossos destinos pertence-nos. Se o soubermos fazer com Racionalidade estaremos certamente, nessa altura, mais próximos da Divindade. Assim vão as cousas.

domingo, 24 de março de 2013

Golpe de teatro


Uma das formas mais ancestrais de manifestação cultural é, sem sombra de dúvida, o teatro.

É fácil perceber o motivo para que assim sempre tenha sido pois a sua materialização pressupunha unicamente a existência de um texto e dos correspondentes actores.

No essencial, o teatro sempre se dividiu em duas grandes “famílias”, nomeadamente a tragédia e a sua oposta cara-metade, a comédia.

Em termos práticos e com mais ou menos derivações a 5ª arte manteve a quase exclusividade das formas de representação pública até ao século XX altura em que o exponencial crescimento tecnológico “apresentou” ao Mundo novas formas de fácil assimilação cultural, com o cinema e, acima de tudo, a televisão a encabeçar esse movimento.

A partir desse momento, de acordo com o meu entendimento, o teatro passou a ser o “palco” das classes mais baixas em oposição aos seus “competidores” que confluíam em si as famílias com mais posses, nomeadamente ao ponto de permitir a aquisição de uma das ditas “caixas” que mudaram o mundo.

Em Portugal, como não podia deixar de ser, esta “separação de classes” durou até muito mais tarde do que na generalidade dos seus parceiros europeus, fruto da elevada desigualdade social existente.

Assim, tirando o fenómeno da televisão, co-existiam sobretudo na Capital os grandes palcos de cinema e casas de teatro, quase exclusivamente dedicadas à apresentação dos grandes clássicos da literatura portuguesa e de uma outra forma de expressão teatral a que se convencionou chamar de Teatro de Revista e que se encontrava essencialmente confinada a um espaço bem no centro de Lisboa.

Este espaço, uma espécie de Broadway à portuguesa, adoptou a designação oficial de Parque Mayer por se situar precisamente no espaço adjacente ao palácio com o mesmo nome, e sempre se evidenciou por ser um local de animada tertúlia em tudo aquilo que um tal local pode proporcionar a uma sociedade genericamente pouco dada a manifestações culturais.

Este Teatro de Revista encontrava-se configurado como a forma privilegiada para a difusão de “mensagens” com forte pendor alegórico, com recurso a uma simbologia de cariz popular, que permitia a sua fácil assimilação por parte dos espectadores, de certa forma facilitado pelo regime de então que “fechava os olhos” a um formato de textos que “escapava” de forma subliminar aos censores.
A democratização da sociedade trouxe, contudo, também a democracia de acesso a bens que até então se encontravam vedados a uma parte substancial da população, e a televisão entrou em força nos lares dos portugueses, que deixavam dessa forma de necessitar de sair de casa para tomar contacto com as diversas formas de manifestação culturais, desde logo com o cinema e o teatro como principais “lesados” de tal comodismo.

Associado a este facto verificou-se igualmente o alargamento do espectro da “oferta” teatral que passou a explorar novos contextos quer literários quer cénicos, do qual decorreu a invariável deriva intelectual.

Desta constatação resultou, como não podia deixar de ser, o declínio e a degradação dos espaços, sendo que as grandes salas de cinema cederam o seu lugar a espaços menores, tendo sido progressivamente ocupados por actividades nada orientadas para a cultura ou, inclusive, substituídos por novos edifícios e, consequentemente, novas funcionalidades, mantendo, por vezes, a mesma nomenclatura como que lembrando a todos que em tempos ali houvera um espaço de referência.

Mas se nas salas de cinema o “filme” mudara, o mesmo já não se verificava no Parque Mayer, o qual se mantinha fiel às características da forma teatral que o celebrizara, fidelidade essa que não era acompanhada pelo factor tempo que acentuava em igual medida o “charme” do local mas ao mesmo tempo a sua acentuada degradação.

Nesse aspecto a própria alteração demográfica da Capital contribuiu em grande medida para este progressivo afastamento, face à mais do que evidente redução do número de cidadãos aí residentes, deslocalizados para as cidades “dormitório” circundantes da Capital.

Contudo, a “machadada” final nas possíveis perspectivas futuras deste espaço foi a politização do mesmo, isto é, a partir do momento em que passou a ser a “bandeira” dos candidatos à presidência do mais importante município português, que invariavelmente “esbarrava” com uma penosa realidade de falta de planeamento, fundos e até mesmo em negócios de duvidosa legalidade.

Não deixa, portanto, de ser curioso que o Parque Mayer é, em si mesmo, a “imagem” de duas realidades demasiado evidentes para serem ignoradas, sendo a primeira delas a necessidade do poder político em criar ilusões – que reiteradamente não parece em condições de tornar reais - a troco de um punhado de votos e a segunda aquela que ninguém parece querer assumir, isto é, que o Parque Mayer é em si mesmo uma ilusão.

Uma espécie de síntese de uma tragicomédia representativa de um esplendor passado sem qualquer viabilidade futura, à imagem de alguém que sofrendo de uma doença terminal se recusa a assumir tal facto ao mesmo tempo que ninguém tem a coragem de lha revelar. Assim vão as cousas.

terça-feira, 19 de março de 2013

A genealogia de um povo - Conclusão


As minhas deambulações pela natureza do conceito daquilo que é ser português, “levaram-me” anteriormente as temáticas da simbologia nacional associado ao furor exacerbado de uma competição desportiva de massas e da memória colectiva através da reflexão sobre a simbologia dos feriados nacionais.

É agora chegado o momento de encerrar esta espécie de trilogia involuntária abordando uma vertente que considero da maior relevância na determinação daquilo a que, conforme o título que encima a presente dissertação, nos remete para o nosso posicionamento perante a nossa própria identidade.

Esta terceira aproximação a tal conceito não podia deixar de enveredar pelos denominados “caminhos do património”.

Este trilho, que facilmente se confunde com a noção de cultura, “transporta-nos” para os momentos iniciais da nossa história enquanto país, seja na perspectiva de um estado formal com fronteiras definidas seja num período ainda mais remoto.

Ora, destes períodos não resta ninguém, como é absolutamente razoável concluir, que possa relatar nos dias de hoje tudo aquilo que então se passava e como era a Sociedade de então.

Restam, pois, duas formas de aceder a tais informações, isto é, pela análise crítica da documentação que “sobreviveu” a todas as vicissitudes dos séculos que matematicamente se sucedem uns aos outros, ficando dependente nesse caso da interpretação que cada um de nós possa dar a esses intemporais testemunhos de tempos idos, mas também pela possibilidade que o destino nos reservou de poder participar numa espécie de exposição permanente.

Tal “exposição” corresponde, como não podia deixar de ser, ao património físico dos monumentos, a pintura, mas também o traçado arquitetónico das diversas localidades, independentemente da sua dimensão e importância geográfica.

São precisamente estes marcos da nossa identidade, que o tempo se “encarregou” de trazer até aos nossos dias que nos ajudam a integrar-nos em Sociedades que, nada tendo a ver com a actual, explicam em grande parte esta mesma Sociedade, como se de uma marca hereditária se tratasse.

Este vector é de primordial relevância e, por isso mesmo, carece de ser devidamente acautelada no tempo presente para que possa ser usufruída no futuro.

Creio, contudo, que esta tenha deixado de ser há largos anos uma prioridade do poder político, quer seja pelos fracos recursos financeiros normalmente atribuídos a esta área – pouco “visível” na captação do voto dos eleitores – quer pela desvalorização do seu enquadramento orgânico nas estruturas governamentais, reservando-se-lhe normalmente um foro de Secretaria de Estado.

Acontece que a manutenção e conservação de todos estes locais carecem precisamente de um esforço adicional, uma vez que tal como diz o ditado “o tempo não perdoa” e neste aspecto é de uma “crueldade” inapelável perante elementos que não dispõem de qualquer capacidade de auto-regeneração.

Poder-se-ia conduzir esta necessidade pela via meramente económica e, ainda assim, seria a justificação bastante e suficiente para o princípio que lhe subjaz, tendo em conta a importância do sector do Turismo numa economia que, fruto das circunstâncias, poucos mais fontes de “riqueza” consegue produzir.

Mas o meu propósito não é esse.

A minha análise recai sobre uma verdadeira “herança” que necessitamos de fazer “circular” entre gerações e que as permitirá dispor de uma percepção de tudo aquilo que somos a partir daquilo que fomos.

Numa época em que as cedências de parcelas daquilo a que se convencionou chamar de soberania são uma realidade premente à luz dos interesses de confluência e integração económica, são estes elementos de natureza estática que precisamente “resistirão” a tais movimentos e que permitem a cada um de nós afirmar a tal identidade única e indissolúvel.

Contudo, o “cenário” de abandono, degradação e mesmo desinteresse de alguns dos principais momentos da nossa História, parece indicar um caminho precisamente contrário.

Ao passar recentemente perto da mais antiga igreja de Portugal, datada de um período anterior à sua própria nacionalidade (Sec.VII) e à qual foi conferido o estatuto de Monumento Nacional, constato que a mesma se encontra num absoluto estado de ruína por falta de conservação e, por isso mesmo, inacessível ao público.

Atrevo-me a pensar que, no fundo, esta é a nossa própria imagem, isto é, um povo cuja memória colectiva se encontra a meio caminho entre o desaparecimento e a esperança de um futuro melhor.

Ignoramos, contudo, que, tal como aos distintos navegadores de antigamente, a decisão relativamente ao caminho a trilhar pertence precisamente a nós próprios. Assim vão as cousas.

domingo, 10 de março de 2013

Bom e bonito



Quando, em Setembro último, faleceu a maior referência portuguesa contemporânea da denominada música erudita, o compositor Emanuel Nunes, entendi que a sua abordagem a esta forma de arte era, em si mesmo, merecedora de uma reflexão sobre o contexto mais vasto do que é a arte si mesmo.

À memória surge-me uma frase do actor Gerard Depardieu no filme “Green Card” que, depois de tocar ao piano uma obra totalmente atonal olhando para o ar de espanto do seu “público” de ocasião, diz simplesmente “C’est pas du Mozart”, literalmente traduzível por “Não é Mozart”.

 De facto, esta espécie de justificação, quase pedido de desculpa, remete para a noção da percepção que cada um de nós tem da arte, independentemente da forma de expressão da mesma.

A arte, nas suas diferentes formas, é uma realidade que se encontra nos antípodas de uma possível caracterização estática, acompanhando o Homem desde o início dos tempos, evoluindo em função da sua própria evolução, criando invariavelmente roturas com o passado.

Esse movimento de rotura foi sempre “visto” por uns como um evento “natural” e imediatamente assimilável e por outros como uma verdadeira afronta aos modelos até então em vigor, resultado prático de uma tendência natural para uma certa aversão à mudança por boa parte do Ser Humano.

Com maior ou menor resistência, a “força” dos tempos sempre prevaleceu sobre as vontades individuais, levando à assimilação por parte das gerações seguintes das novas tendências, criando uma dinâmica que, qual pedra lançada ao espaço, podendo desacelerar, não mais deixará de seguir o seu caminho.

No entanto, nos períodos de alguma estabilidade artística e antes de qualquer nova mudança, sempre houve aqueles que, antecipando-se aos tempos que haveriam de vir, “forçaram” as referidas roturas, numa espécie de movimento “avant la lettre”, sendo estes aqueles que normalmente haveriam de ser vistos com maior desconfiança.

Esta rotura temporal quase sempre criou para os respectivos autores uma espécie de “olhar desconfiado” não apenas por parte daqueles que são os destinatários finais de qualquer forma de arte, isto é, o público, mas igualmente entre os seus próprios pares.

Na génese de todos estes movimentos está e estará sempre uma visão pessoal sobre a arte e tudo aquilo que nos rodeia, que poderá ou não “beneficiar” de uma maior ou menor adesão por parte de quem com ela se “confronta” sem, contudo, jamais perder essa individualidade.

Por isso se justifica que, no mesmo mundo onde um dia houve Mozart, também possa haver um Emanuel Nunes, ou onde houve Michelangelo possa existir Picasso ou ainda que no mesmo país se possa simultaneamente desfrutar da escrita de Eça de Queiroz e de António Lobo Antunes.

A livre expressão artística é, em si mesmo, uma forma de manifestação de democracia, sendo precisamente em períodos de ditadura que normalmente se procura impor uma espécie de arte de regime, aquela que deverá ser aceite por todos e, consequência disso mesmo, à perseguição - essa forma suprema de incompreensão – de quem a tal se opuser.

O “problema”, mesmo no pior dos tempos, é que a arte não foi nem nunca será consensual. E ainda bem. Assim vão as cousas.

domingo, 3 de março de 2013

Rapaziada



No já longínquo ano de 2005, o Eng. António Guterres, numa reunião de direcção do seu partido logo após a vitória nas eleições legislativas de Outubro desse mesmo ano, “avisou” os seus correlegionários que, com o seu governo, não haveria lugar para “jobs for the boys”.

Nesse mesmo dia e ao proferir tal frase, introduziu no léxico comum dos portugueses um anglicanismo que haveria de perdurar pelos anos seguintes relativamente a uma realidade que, ainda assim, já era bastante anterior a essa mesma frase mas que, à falta de melhor enquadramento, os portugueses haviam desde sempre “baptizado”, de forma manifestamente menos subtil, de “tacho”.

Que “boys” eram afinal esses a que o então Primeiro-Ministro se referia?

Embora não haja uma definição que não seja meramente literal e que remete para a palavra “rapaz”, a verdade é que ela se direccionava para um conjunto de pessoas afectas ao partido que, em resultado da vitória nas eleições, pretenderiam ver incluído o respectivo nome num qualquer cargo no aparelho do Estado, seja numa empresa ou instituto público ou na própria Administração Pública, sem excluir, ainda assim, a possibilidade de uma possível “cunha” (outra palavra distintamente portuguesa) numa empresa pertencente ao sector privado.

Estes cargos pelos quais os ditos “boys” suspiravam são precisamente aqueles cujo acesso se encontra de certa forma facilitado, isto é, não estão dependentes de qualquer forma de concurso ou sequer se encontrem associados ao progresso na carreira, vulgo antiguidade.

Assim sendo, a nomeação para a mesmo é feita independentemente do mérito ou do currículo – ou experiência para o cargo, conforme se queira – apresentados pelo candidato, mas apenas em função de um outro critério bem mais equivoco, ou seja, o da afinidade partidária com a cor do governo em efectividade de funções nesse momento ou, conforme também é corrente dizer-se, de acordo com o respectivo cartão partidário.

Perguntar-se-ão então as pessoas qual o papel relevante de um qualquer “boy” para merecer tal confiança por parte dos lideres (sejam eles locais ou da estrutura nacional) do seu próprio partido.

A resposta a esta questão é manifestamente complexa e, confesso, não estar em condições de a prestar adequadamente, porventura por me encontrar aquém e além do conceito de “boy”, cujo paramento jamais vesti e, espero bem, o discernimento me impeça de vestir no futuro.

Atrevo-me, porém, a admitir que o “mérito” que possa ser reconhecido a um “boy” é o do respectivo labor em prol do partido, ou seja, uma espécie de recompensa pela quota-parte de responsabilidade numa qualquer vitória eleitoral.

Ora esta é também em si mesmo uma questão de difícil definição, na medida em que normalmente a intervenção de um “boy” – sem bem julgo perceber – se “resume” a uma forte participação no período da campanha eleitoral ou no período que a antecipa, seja nos comícios eleitorais ou “arruadas” (conforme agora se diz) ou, mais recentemente, por uma inusitada “visibilidade” em espaços globais de comunicação, as denominadas redes sociais.

Nestas últimas a sua participação é conduzida por uma sistemática defesa das intervenções das principais figuras do respectivo partido e, do mesmo modo, um ataque cerrado às posições dos seus principais adversários.

E fazem-no, diga-se, independentemente do conteúdo da mensagem de uns ou de outros, porque, no fundo, não é em si mesmo isso que mais interessa, mas apenas a parangona de que essa mesma mensagem vem rotulada.

E este será, na maioria dos casos, o melhor currículo que qualquer “boy” poderá apresentar quando, após a vitória eleitoral, começa a “alimentar” a respectiva ânsia por um lugar para o qual, por meros critérios de competência, jamais poderia aspirar.

Por isso mesmo o “anúncio” que o Eng. António Guterres fez em 2005 apenas poderá ser entendido como “novidade” pela expressão então utilizada, na medida em que a realidade veio demonstrar que, nos tempos que se seguiram, houve mesmo muitos “jobs” para igual número de “boys”, algo que se manteve inalterado em todos os governos subsequentes, sem excepção.

É que o “boy” não é rosa, laranja ou de qualquer outra cor. É uma figura sem nome ou mesmo rosto e de personalidade equivoca, que não hesita em obter benefícios pessoais sem mérito próprio, algo que contribuiu sucessivamente para o crescimento do aparelho do Estado.

Este facto é particularmente visível na incapacidade de qualquer Governo em reduzir a despesa primária do Estado, por via de um “emagrecimento” que não se baseie, quase exclusivamente, na redução dos benefícios sociais, porque daí decorreria previsivelmente a necessidade de questionar a sua própria posição e, mais importante ainda, a eventual manutenção no poder. Assim vão as cousas.