Uma das questões
primordiais de qualquer ser humano é a sua relação com a religião -
independentemente da natureza da mesma – nomeadamente o posicionamento
individual perante a divindade.
Pessoalmente, como seria
natural, não “escapo” a essa mesma questão tendo optado por uma via do
agnosticismo, isto é, adoptando a posição de alguém que não acredita mas,
simultaneamente, não nega a possibilidade da existência de um Deus.
Esta perspectiva que,
atrevo-me a dizer, pode ser considerada como ambígua, tem na sua génese um
pressuposto duplo, assente tanto de uma abordagem de cepticismo perante a
oposição ao desconhecido ou incognoscível, subjacente a qualquer convicção
religiosa ou metafísica, mas afastando, por outro lado, de uma perspectiva
ateísta, ou seja, a rejeição pura e simples da crença ou da existência de
divindades.
O motivo, a que chamarei
de filosófico, para esta distinção parte da percepção que a negação total possa
ser, em si mesmo, a confirmação do seu oposto, pelo mesmo princípio de que
qualquer afirmação positiva só é válida porque se contrapõe à sua antítese
negativa.
Qualquer enunciado que
crie um pressuposto imutável de negação absoluta do que não é conhecido colide
frontalmente com a suposta racionalidade de que tal pensamento se encontra
embutido, tendo em conta que não é possível simplesmente afirmar que tudo se
conhece.
Ora é precisamente esta
racionalidade que “move” o meu espírito e que determina que, mais importante do
que reconhecer o negar a existência de divindades, é o Ser Humano que deve ser
colocada no topo da hierarquia, numa espécie de escala de importância racional.
Os valores desta
corrente de pensamento de natureza filosófica denominada de Humanismo, são
aqueles que mais importância atribuem à racionalidade, centrando-se na
importância da dignidade humana, considerando neste mesmo conceito uma
multiplicidade de outras formulações de igual natureza.
É, permito-me concluir,
uma postura ética, assente no princípio da igualdade entre o Ser Humano e,
neste capítulo é seguro dize-lo há ainda um longo caminho a percorrer, mas é
aquele pelo qual eu procuro trilhar as minhas acções, numa perspectiva que em
momento algum se confundirá com uma qualquer corrente política.
Em suma, o agnosticismo
humanista é aquele que, a meu ver, poderá responder afirmativamente a esta
aspiração.
A questão que se coloca
é, desta forma, relativamente simples e facilmente perceptível: enquanto o Ser
Humano não se respeitar a si próprio não fará sentido pensar que possa ser uma
entidade sobrenatural a faze-lo por nós.
Diz-nos a História da
Humanidade que a condução dos nossos destinos pertence-nos. Se o soubermos
fazer com Racionalidade estaremos certamente, nessa altura, mais próximos da
Divindade. Assim vão as cousas.