As minhas
deambulações pela natureza do conceito daquilo que é ser português,
“levaram-me” anteriormente as temáticas da simbologia nacional associado ao
furor exacerbado de uma competição desportiva de massas e da memória colectiva
através da reflexão sobre a simbologia dos feriados nacionais.
É agora
chegado o momento de encerrar esta espécie de trilogia involuntária abordando
uma vertente que considero da maior relevância na determinação daquilo a que,
conforme o título que encima a presente dissertação, nos remete para o nosso
posicionamento perante a nossa própria identidade.
Esta
terceira aproximação a tal conceito não podia deixar de enveredar pelos
denominados “caminhos do património”.
Este
trilho, que facilmente se confunde com a noção de cultura, “transporta-nos”
para os momentos iniciais da nossa história enquanto país, seja na perspectiva
de um estado formal com fronteiras definidas seja num período ainda mais remoto.
Ora,
destes períodos não resta ninguém, como é absolutamente razoável concluir, que
possa relatar nos dias de hoje tudo aquilo que então se passava e como era a
Sociedade de então.
Restam,
pois, duas formas de aceder a tais informações, isto é, pela análise crítica da
documentação que “sobreviveu” a todas as vicissitudes dos séculos que
matematicamente se sucedem uns aos outros, ficando dependente nesse caso da
interpretação que cada um de nós possa dar a esses intemporais testemunhos de
tempos idos, mas também pela possibilidade que o destino nos reservou de poder
participar numa espécie de exposição permanente.
Tal
“exposição” corresponde, como não podia deixar de ser, ao património físico dos
monumentos, a pintura, mas também o traçado arquitetónico das diversas
localidades, independentemente da sua dimensão e importância geográfica.
São
precisamente estes marcos da nossa identidade, que o tempo se “encarregou” de
trazer até aos nossos dias que nos ajudam a integrar-nos em Sociedades que,
nada tendo a ver com a actual, explicam em grande parte esta mesma Sociedade,
como se de uma marca hereditária se tratasse.
Este
vector é de primordial relevância e, por isso mesmo, carece de ser devidamente
acautelada no tempo presente para que possa ser usufruída no futuro.
Creio,
contudo, que esta tenha deixado de ser há largos anos uma prioridade do poder
político, quer seja pelos fracos recursos financeiros normalmente atribuídos a
esta área – pouco “visível” na captação do voto dos eleitores – quer pela
desvalorização do seu enquadramento orgânico nas estruturas governamentais,
reservando-se-lhe normalmente um foro de Secretaria de Estado.
Acontece
que a manutenção e conservação de todos estes locais carecem precisamente de um
esforço adicional, uma vez que tal como diz o ditado “o tempo não perdoa” e
neste aspecto é de uma “crueldade” inapelável perante elementos que não dispõem
de qualquer capacidade de auto-regeneração.
Poder-se-ia
conduzir esta necessidade pela via meramente económica e, ainda assim, seria a
justificação bastante e suficiente para o princípio que lhe subjaz, tendo em
conta a importância do sector do Turismo numa economia que, fruto das
circunstâncias, poucos mais fontes de “riqueza” consegue produzir.
Mas o meu
propósito não é esse.
A minha
análise recai sobre uma verdadeira “herança” que necessitamos de fazer
“circular” entre gerações e que as permitirá dispor de uma percepção de tudo
aquilo que somos a partir daquilo que fomos.
Numa
época em que as cedências de parcelas daquilo a que se convencionou chamar de
soberania são uma realidade premente à luz dos interesses de confluência e
integração económica, são estes elementos de natureza estática que precisamente
“resistirão” a tais movimentos e que permitem a cada um de nós afirmar a tal
identidade única e indissolúvel.
Contudo,
o “cenário” de abandono, degradação e mesmo desinteresse de alguns dos
principais momentos da nossa História, parece indicar um caminho precisamente
contrário.
Ao passar
recentemente perto da mais antiga igreja de Portugal, datada de um período
anterior à sua própria nacionalidade (Sec.VII) e à qual foi conferido o
estatuto de Monumento Nacional, constato que a mesma se encontra num absoluto
estado de ruína por falta de conservação e, por isso mesmo, inacessível ao
público.
Atrevo-me
a pensar que, no fundo, esta é a nossa própria imagem, isto é, um povo cuja
memória colectiva se encontra a meio caminho entre o desaparecimento e a
esperança de um futuro melhor.
Ignoramos,
contudo, que, tal como aos distintos navegadores de antigamente, a decisão
relativamente ao caminho a trilhar pertence precisamente a nós próprios. Assim
vão as cousas.
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