terça-feira, 19 de março de 2013

A genealogia de um povo - Conclusão


As minhas deambulações pela natureza do conceito daquilo que é ser português, “levaram-me” anteriormente as temáticas da simbologia nacional associado ao furor exacerbado de uma competição desportiva de massas e da memória colectiva através da reflexão sobre a simbologia dos feriados nacionais.

É agora chegado o momento de encerrar esta espécie de trilogia involuntária abordando uma vertente que considero da maior relevância na determinação daquilo a que, conforme o título que encima a presente dissertação, nos remete para o nosso posicionamento perante a nossa própria identidade.

Esta terceira aproximação a tal conceito não podia deixar de enveredar pelos denominados “caminhos do património”.

Este trilho, que facilmente se confunde com a noção de cultura, “transporta-nos” para os momentos iniciais da nossa história enquanto país, seja na perspectiva de um estado formal com fronteiras definidas seja num período ainda mais remoto.

Ora, destes períodos não resta ninguém, como é absolutamente razoável concluir, que possa relatar nos dias de hoje tudo aquilo que então se passava e como era a Sociedade de então.

Restam, pois, duas formas de aceder a tais informações, isto é, pela análise crítica da documentação que “sobreviveu” a todas as vicissitudes dos séculos que matematicamente se sucedem uns aos outros, ficando dependente nesse caso da interpretação que cada um de nós possa dar a esses intemporais testemunhos de tempos idos, mas também pela possibilidade que o destino nos reservou de poder participar numa espécie de exposição permanente.

Tal “exposição” corresponde, como não podia deixar de ser, ao património físico dos monumentos, a pintura, mas também o traçado arquitetónico das diversas localidades, independentemente da sua dimensão e importância geográfica.

São precisamente estes marcos da nossa identidade, que o tempo se “encarregou” de trazer até aos nossos dias que nos ajudam a integrar-nos em Sociedades que, nada tendo a ver com a actual, explicam em grande parte esta mesma Sociedade, como se de uma marca hereditária se tratasse.

Este vector é de primordial relevância e, por isso mesmo, carece de ser devidamente acautelada no tempo presente para que possa ser usufruída no futuro.

Creio, contudo, que esta tenha deixado de ser há largos anos uma prioridade do poder político, quer seja pelos fracos recursos financeiros normalmente atribuídos a esta área – pouco “visível” na captação do voto dos eleitores – quer pela desvalorização do seu enquadramento orgânico nas estruturas governamentais, reservando-se-lhe normalmente um foro de Secretaria de Estado.

Acontece que a manutenção e conservação de todos estes locais carecem precisamente de um esforço adicional, uma vez que tal como diz o ditado “o tempo não perdoa” e neste aspecto é de uma “crueldade” inapelável perante elementos que não dispõem de qualquer capacidade de auto-regeneração.

Poder-se-ia conduzir esta necessidade pela via meramente económica e, ainda assim, seria a justificação bastante e suficiente para o princípio que lhe subjaz, tendo em conta a importância do sector do Turismo numa economia que, fruto das circunstâncias, poucos mais fontes de “riqueza” consegue produzir.

Mas o meu propósito não é esse.

A minha análise recai sobre uma verdadeira “herança” que necessitamos de fazer “circular” entre gerações e que as permitirá dispor de uma percepção de tudo aquilo que somos a partir daquilo que fomos.

Numa época em que as cedências de parcelas daquilo a que se convencionou chamar de soberania são uma realidade premente à luz dos interesses de confluência e integração económica, são estes elementos de natureza estática que precisamente “resistirão” a tais movimentos e que permitem a cada um de nós afirmar a tal identidade única e indissolúvel.

Contudo, o “cenário” de abandono, degradação e mesmo desinteresse de alguns dos principais momentos da nossa História, parece indicar um caminho precisamente contrário.

Ao passar recentemente perto da mais antiga igreja de Portugal, datada de um período anterior à sua própria nacionalidade (Sec.VII) e à qual foi conferido o estatuto de Monumento Nacional, constato que a mesma se encontra num absoluto estado de ruína por falta de conservação e, por isso mesmo, inacessível ao público.

Atrevo-me a pensar que, no fundo, esta é a nossa própria imagem, isto é, um povo cuja memória colectiva se encontra a meio caminho entre o desaparecimento e a esperança de um futuro melhor.

Ignoramos, contudo, que, tal como aos distintos navegadores de antigamente, a decisão relativamente ao caminho a trilhar pertence precisamente a nós próprios. Assim vão as cousas.

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