É justo que referir que algumas das coisas boas que nos vão sucedendo resultam, de forma antagónica, de uma boa discussão e foi, precisamente nessa base que, há cerca de quatro anos atrás, a ânsia de escrever teve o seu inicio, materializando-se em forma de blogue, porventura uma das formas mais livres de comunicação.
Da referida discussão surgiu a "necessidade" de semanalmente transmitir - seguindo uma metodologia de publicação dominical - tudo aquilo (ou boa parte) daquilo que é a minha visão sobre este Portugal, com uma boa dose de análise política - sem ser uma escrita política - mas também sobre o tudo aquilo que nos rodeia, com uma especial incidência nos temas da cidadania e da cultura, enfim, sobre um conceito próprio de Sociedade.
A preocupação maior foi sempre a de reflectir e fazer reflectir sobre cada um dos temas, afastando-me - sempre que possível - de tudo aquilo que já era objecto de análise da generalidade dos cronistas, constituindo esse o meu maior desafio semanal, isto é, evitar a repetição, facilmente confundível com o mero plágio.
Desta forma de perspectivar a crónica, resulta necessariamente algo a que aludi nas apresentações dos livros que "nasceram" das sucessivas crónicas, isto é, um crescimento exponencial da exposição das convicções pessoais e, por arrastamento, à critica sobre as mesmas.
Tal nunca foi, ainda assim, uma preocupação que transcendesse uma preocupação "maior" de escrever com o maior rigor possível e, tarefa quase impossível, de forma preferencialmente isenta, sem deixar em momento algum que a abstracção pudesse criar uma sensação de inocuidade, como se dessa forma quisesse evitar uma exposição pessoal algo que, manifestamente, não era meu objectivo.
Aliás, os livros acabam por ser a consequência "lógica" dessa vontade de partilhar de forma talvez ingénua - reconheço - tudo aquilo que parecia agora demasiado pequeno para se circunscrever à blogosfera, algo a que as quase 10000 visualizações de página pareciam obrigar, ainda que com plena convicção que o risco de falhar seria substancialmente acrescido a partir do momento em que fosse dado este novo passo.
Contudo, esse risco só deixa de existir quando se opta por não tentar, como se dessa forma se procurasse evitar a consequência de algo cuja causa próxima já não era possível ignorar.
Por isso mesmo, a noção de que tudo aquilo que teve um principio terá, infalivelmente, um fim, resulta também de uma análise interior de que não se encontrando "tudo dito" não fará sentido tentar encontrar de forma mecânica algo mais para dizer.
É precisamente por esta perspectiva que, neste quarto aniversário do blogue e mais de 200 crónicas depois, chegou a "hora" de dizer adeus ou "até já", para que dessa forma possam livremente fluir novos desafios pessoais, sejam eles dedicados ou não à escrita.
Não obstante, há algo que fica para sempre e que, bem vistas as coisas, já "estava" comigo há muitos anos, sem porventura me aperceber de tal. Esse "algo" que fica é um gosto pela escrita que se juntou ao gosto pela leitura, sendo uma e outra agora inseparáveis.
O futuro fica "reservado" - como sempre sucede - para o que não conhecemos mas que gostamos de antecipar e, nesse aspecto, não duvido que haverá sempre motivo para uma "boa discussão" que conduza uma vez mais ao ponto de partida aguardando, como num cruzamento, que algo nos diga qual o caminho seguinte a percorrer, mesmo ignorando aonde o mesmo me irá levar. Assim vão as cousas.