Sem quaisquer “floreados” estilísticos
sobre a síntese que se poderá fazer relativamente às conclusões do último acto
eleitoral para o Parlamento Europeu, é minha convicção que as recções que se
seguiram a esse mesmo acto justificam, num duplo sentido, todo o afastamento
que se verifica entre os cidadãos e as instituições europeias e, em particular,
entre tais cidadãos e os políticos que os representam.
Seria expectável que, num tal
momento, as forças partidárias – nomeadamente as principais - procurassem
reflectir sobre a causa da redução da sua base eleitoral numa bastante evidente
“troca” de votos para correntes de discurso extremista e antieuropeísta – ou eurocético,
conforme melhor aprouver a cada um – ou ainda a razão pela qual os dois
partidos que sustentam o Governo obtiveram o pior resultado de sempre desde que
o regime é democrático (com a particularidade de que o CDS provavelmente não
teria eleito qualquer eurodeputado se tivesse concorrido sozinho se efectuada a
devida ponderação eleitoral dos votos na coligação).
A verdade é que nada disso se
passou, pois todo o foco mediático rapidamente se deslocalizou para o partido
vencedor das eleições o qual, feitos os discursos de vitória, rapidamente se
viu envolvido numa disputa interna do poder, normalmente mais associado a um
qualquer partido que tenha perdido a disputa eleitoral.
O triste espetáculo que se seguiu
e continuará a seguir-se à noite do passado Domingo teve como epicentro uma
manifestação por parte do Dr. António Costa não de forma clara para liderar o
partido mas de que estaria “disponível para assumir responsabilidade”,
presumindo-se que uma e outra coisa queiram dizer precisamente o mesmo mas,
também aqui, os políticos insistem em utilizar uma verbalização não
comprometida nem comprometedora para si próprio, deixando a cada um também a
disponibilidade para as interpretarem como bem entenderem.
Desta manifestação até à
convicção de que estaria instalada uma espécie de “guerra interna” ou “tentativa
de golpe de estado” entre as diversas facções dentro do Partido Socialista (PS)
foi apenas um ápice.
Ao invés de procurar capitalizar
a vitória eleitoral, o PS “conseguiu” em poucas horas auto-derrotar-se
eleitoralmente, à luz de um resultado eleitoral que não sendo esmagador havia,
ainda assim, sido superior ao da totalidade dos votos na direita tradicional e
que, em bom rigor, atinge precisamente os mesmos resultados que, 5 anos antes,
haviam dado a vitoria ao PSD – então na oposição – e a derrota ao PS – então no
Governo – sem que se tenha colocado em causa a legitimidade do então candidato
a Primeiro-Ministro Dr. Pedro Passos Coelho por uma vitória que naquela altura
como agora não poderia ser catalogada de “histórica”.
O “comportamento” das principais
figuras dentro do PS tem sido, sem que provavelmente se apercebam de tal facto,
de auto-flagelação, permitindo aos seus adversários “chegar” a duas possíveis
conclusões: ou o actual líder não tem “mão” no partido ou a imaturidade revelada
no momento da vitória é ela própria a confirmação que o PS poderá não estar
ainda em condições de regressar ao poder, isto é, de governar.
O tacitismo das facções internas
e o oportunismo em causa própria de um proto-candidato, não sendo exclusivas do
PS, revelam algo que é por demais evidente, a militância partidária é, antes de
mais, uma soma de interesses próprios não necessariamente alinhados com a causa
única dessa mesma militância, ou seja, a conquista do poder, algo que necessariamente
pressupõe a luta por uma causa comum e a união à volta dessa mesma causa.
Percebe-se, desta forma, a razão
pela qual as pessoas deixaram de acreditar nos políticos e começam a “desviar”
os seus votos para outras forças partidárias que, podendo até não dispor de
qualquer programa de governo ou estrutura militante que o suporte, baseiam
precisamente o seu discurso na (pelo menos aparente) lógica contrária a tais
políticos. No fundo, as pessoas preferem – e isso é perfeitamente entendível –
quem, pelo menos nas palavras, lhes dedique um pouco mais da sua atenção e um
pouco menos da sua própria ambição. Assim vão as cousas.
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