segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Notas soltas (9)

O Dr. Pedro Passos Coelho afirmou que as empresas públicas que gerem sucessivamente prejuizos devem pura e simplesmente fechar. A precipitação e irresponsabilidade (e impreparação) deste tipo de afirmações só revela os verdadeiros propósitos daquele que presuntivamente será o próximo primeiro-ministro.

É natural - porque ele certamente não sabe - que não explique de seguida o que pretende fazer com os milhares de desempregados que esta medida implicaria, qual o custo das indemnizações a pagar e como fará para substituir os serviços públicos prestados por empresas como a TAP, a Refer, a CP, os CTT, a EPAL, entre outras. O que é menos natural é que não haja nenhum jornalista que lhe coloque essas mesmas questões.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Realpolitik

Agora que o homem para quem eu terei de "nascer duas vezes" para ser mais honesto do que ele foi reeleito e entrámos em contagem decrescente para a futura apresentação de uma moção de censura por parte de algum dos grupos partidários que inevitavelmente levará o PSD e o CDS a retornar ao “local do crime”, gostaria de deixar umas palavras sobre o candidato Francisco Lopes.


Ou melhor, não será tanto sobre o candidato mas sobre a coerência utópica de que esta mesma candidatura se encontra eivada.

Chamo-lhe coerência na medida em que na base da mesma não existe qualquer convicção de que dela poderia resultar uma eleição para o cargo de Presidente da República, ou sequer uma elegibilidade para uma segunda volta a dois.

É coerente porque através dela o partido que a suporta pode, uma vez mais, procurar passar para a opinião pública toda uma panóplia de argumentos que há décadas – muito mais do que em qualquer outro partido – procura convencer o eleitorado.

É precisamente nesta quase comovente utopia que este tipo de candidaturas revela o seu especial interesse.

O candidato Francisco Lopes interpretou fielmente tudo aquilo que tem sido os principais ditames do Partido Comunista ao longo da sua história.

Não existe uma verdadeira deriva de inovação ou modernidade no discurso relativamente aos discursos-tipo do líder do seu partido Jerónimo Sousa ou antes dele de Carlos Carvalhas ou muito antes dele de Álvaro Cunhal.

Numa época de ténues convicções, não deixa de ser um autêntico “case-study” que alguém continue de forma persistente e abnegada a defender princípios que não rendem eleições, que não levaram ao poder nenhum líder nos principais países do dito ocidental, ou “civilizado” se preferirem.

O modelo que preconizam não tem os seus fundamentos e suporte em qualquer modelo de sucesso e, de um modo geral, corresponde a uma ideologia que historicamente se encontra conotada com regimes ditatoriais.

O que move então o candidato Francisco Lopes e os seus fiéis correligionários?

Aquilo que os move é, a meu ver, aquilo que falta a todos os outros. Uma espécie de quase religiosidade semelhante ao ritual de ir às missas ao Domingo por convicção mas também por obrigação de consciência.

O problema prático desta convicção reside, contudo, na realidade do mundo actual, na confrontação desses ideais com a falência dos regimes onde os mesmos se procuraram impor pela força.

Os idealismos correspondem a estados de alma perfeitos para quem não tem o poder nas mãos, porque logo que tal aconteça tendem a desvanecer-se e a corromper-se.

Não me parece que venha mal ao mundo que existam pessoas como Francisco Lopes que encarnam estes ideais e os defendem com toda a coerência e convicção, numa Sociedade cada vez mais carecida de ambas.

O problema será sempre o mesmo. Não sabemos ao certo como seria a sociedade portuguesa com um governo comunista como também não sabemos se há vida depois da morte. Mas…estará de facto alguém disponível para pagar para ver? Assim vão as cousas.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Notas soltas (8)

Muito bonitas as imagens de crianças a carregar caixões em sinal de protesto pela aplicação das novas regras de financiamento do ensino particular. Certamente que o fazem por convicção e conhecimento preciso do que está em causa, e não de um aproveitamento ilegitimo por parte das escolas e dos respecitvos pais. Chegámos à fase do vale tudo, com a complacência da atitude demagógica de pessoas com responsabilidades politicas.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Dia de reflexão

O dia de reflexão oficial foi ontem mas, para mim que procuro reflectir todos os dias, o dia de ontem é apenas aquele em que não vemos na televisão ou ouvimos na rádio o circo que percorre o país durante duas semanas. É um dia de descanso.

A reflexão que se exige e que culmina no acto de decidir quem nos dirige deve desde logo levar a pensar o motivo pelo qual há cada vez menos gente a exercer esse mesmo acto, a que constitucionalmente é conferido a importância de direito fundamental.

No fundo julgo haver três motivos que lhe estão subjacentes.

O primeiro, e aquele mais aceite comummente, é a desilusão dos eleitores com a "classe politica", a convicção mais ou menos generalizada que a confiança do voto é rapidamente traída com politicas que agravam as condições de vida ou colocam em causa a estabilidade e o crescimento individual e colectivo;

O segundo e de certa forma decorrente do primeiro, consiste na expressão de uma forma de protesto. Não se vota porque se quer manifestar a oposição. É como se estivessemos perante o voto num candidato que não surje nas listas.

O terceiro, e para mim, o que verdadeiramente dita a natureza do absentismo é o comodismo e o desinteresse. Este sim é que deve ser o motivo de verdadeira reflexão. Perceber o que é que leva alguém a abster-se que ir votar simplesmente porque não quer saír de casa ou não consegue discernir o o que separa os candidatos.

A resposta poderá colocar-se ao nivel do "déficit" cultural e de cidadania de parte significativa do nosso país. Mas acredito também que a desinformação dos média tem também um peso fundamental.

A proliferação de uma certa informação brejeira, culturalmente descontextualizada, tem contribuido para o desinteresse com que boa parte da população "olha" para o dever civico de votar, mas sobretudo o desconhecimento sobre a natureza desse dever.

Será razoável que se saiba mais sobre o destino de personagens de novela ou sobre herois de "pés-de-barro" de "reality shows" do que aquilo que fundamentalmente separa dois ou mais candidatos?

Certamente que não será. No entanto tal parece concentrar mais a atenção das pessoas do que a definição dos seus proprios destinos emergente de qualquer acto eleitoral.

Qualquer pessoa só pode sentir a falta do que já teve antes, e a verdade é que boa parte das gerações actuais desconhecem o que é lutar pelo direito de votar ou a ausência de pluralismo e liberdade de expressão.

Tudo nos parece hoje um dado adquirido. Até que um dia surja alguém e nos venha dizer que não. Assim vão as cousas.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Notas soltas (7)

Quando questionado pelos jornalistas para dar a sua opinião sobre os incidentes havidos ontem com um grupo de sindicalistas à porta de São Bento, o candidato Manuel Alegre referiu que não tinha conhecimento desse assunto, mas que naturalmente "criticava a actuação das autoridades". Falar do que não se sabe até tem um nome, mas eu não digo. O que ele não se pode admirar é de ter o candidato Fernando Nobre colado a ele nas intenções de voto.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Notas soltas (6)

Fico sempre feliz por verificar os preços da gasolina indicados nas auto-estradas. É sempre importante saber que o preço do combustivel é exactamente o mesmo em cada um dos 3 postos de abastecimento seguintes, num raio de 82 kms. O consumidor ficou claramente a ganhar com a transparência da medida.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Força de bloqueio

Numa outra dissertação a propósito das presidenciais que se avizinham, referi que por convicção (ou falta dela) não poderia contribuir com o meu voto para a reeleição do actual Presidente da República que é, como todos sabemos, o Prof. Cavaco Silva.

Julgo, contudo, ser importante apresentar o respectivo justificativo para tal convicção ou, lá está, a falta dela.

Desde logo poderia invocar que devemos sempre manter reservas sobre quem diz dele próprio que "raramente se engana e que quase nunca tem dúvidas". A humildade não é necessariamente uma coisa má, mas a presunção e a arrogância já o serão na maior parte dos casos.

Mas não são estes dislates verbais que contribuem para o meu entendimento sobre aquela que tem sido a acção do Prof. Cavaco Silva e que irão pesar na minha decisão. 

Fundamentalmente trata-se de fazer uso da minha memória relativamente ao essencial do que foram estes ultimos 5 anos.

O Prof. Cavaco Silva quando era primeiro-ministro, apelidou de forma genérica mas certamente bem direccionada de "forças do bloqueio" todos aqueles que de alguma forma decidiam - no âmbito dos seus legitimos poderes - de forma desfavorável à sua governação.

A dificuldade de coabitação com o Presidente da República de então, o Dr. Mário Soares, não permitiria desde logo que anos mais tarde e investido das funções inversas alguém levasse muito a sério a sua politica de "cooperação institucional", o que ficou bem patente na curta vida da mesma.

Portugal, nesses tempos, recebia aos milhões de escudos por dia, e no entanto o resultado visivel das politicas de então é um deserto de reformas (pelo menos daquelas que custam votos e sondagens negativas). Ao invés gastou-se a bom gastar em obras públicas, nomeadamente auto-estradas, e em obras de regime.

É curioso verificar como o investimento público nem sempre constituiu o "bicho-papão" que hoje representa para diversos sectores, nomeadamente para o próprio Prof. Cavaco Silva. Mas, lá diz o povo, "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" ou, na minha visão das coisas, é tudo uma questão de oportunismo.

Hoje em dia também serão poucos os que ainda se lembrarão como é que se dispersavam nessa altura as manifestações excepto, claro está, quem teve ocasião de perceber na pele (literalmente) o significado da palavra "repressão policial".

Quando o Prof. Cavaco Silva percebeu que o seu tempo de primeiro-ministro tinha terminado deixou o caminho livre à sucessão, o que em politica quer apenas dizer que "quem depois de mim vier que feche a porta", o que de facto veio a acontecer com um dos seus ex-ministros, o Dr. Fernando Nogueira.

Feita a "travessia do deserto", o Prof. Cavaco Silva soube nesse tempo de duração indeterminada, aproveitar em seu beneficio uma certa aura de estadista completo e de reputação incólume de forma a posicionar-se como o mais-que-provável sucessor do Dr. Jorge Sampaio, o que de facto veio a acontecer, com uma valente ajuda de toda a esquerda em particular do Dr. Manuel Alegre.

O actual mandato do Prof. Cavaco Silva tem sido construido à luz da sua própria concepção dos poderes do Presidente da República.

Numa primeira fase surge a já citada "cooperação estratégica" a qual borregou à primeira divergência de fundo com o Governo.

Numa segunda fase surge aquilo que em politica de chama de "conflito institucional", normalmente com uma duração largamente superior à da primeira fase.

Nessa altura o país passou a viver num limbo institucional com episódios surreais como a suposta existência de escutas no Palácio de Belém, a linha directa do responsável pela Casa Civil da presidência com um jornal com uma linha editorial marcadamente anti-governamental ou a interrupção das férias para falar de um assunto que a muitos poucos importava e que (quase) ninguém entendia (falo, naturalmente, do estuto politico dos Açores).

Ficámos igualmente a saber que para além do direito de veto, do direito de envio para o Tribunal Constitucional das leis existe um terceiro poder menos evidente que é o de publicar as leis com mensagens de discordância. 

É neste último "poder" que temos vindo a assistir ao confronto entre aquilo que é o poder legislativo do Governo ou da Assembleia da República e aquelas que são as opiniões pessoais do Prof. Cavaco Silva em determinadas matérias, desde o casamento entre pessoas do mesmo sexo, passando pela lei do divórcio ou pela legislação sobre a responsabilidade civil do Estado.

A terceira e última fase é aquela em que nos encontramos, ou seja, em que se torna necessário assegurar a reeleição e de certa forma a presidência da República "sai de cena", para se assegurar que não fica demasiado colada quer ao governo quer às oposições ou, a meu ver, para que a memória colectiva se apague e reconheça apenas os últimos tempos, os da auto-imposta indepedência institucional.

Portugal tem em vigor um modelo de equilibrio de poderes, denominado semi-presidencialismo, que confere ao Presidente da República os poderes necessários de intervenção na vida politica sem que daí resulte a possibilidade de confusão desses mesmos poderes com a acção governativa, assente num orgão próprio e independente.

O Prof. Cavaco Silva, ao arrepio de tudo o que sempre defendeu no passado, nomeadamente enquanto Primeiro-Ministro, tem objectivamente procurado interpretar os seus poderes constitucionais numa perspectiva de condicionamento das decisões legitimas da Assembleia da República e do próprio Governo.

O problema é que a Portugal já sobram problemas para resolver, alguns dos quais podem e devem beneficiar da intervenção do Presidente da República, como por exemplo na politica externa, nas relações com a estrutura militar (não é aceitável que se oiça um militar graduado ameaçar-nos com revoluções) ou no próprio relacionamento entre o partido do governo e as oposições (Portugal é dos poucos países ditos civilizados onde não é aparentemente possível governar em coligação estável).

O que Portugal certamente dispensa são conflitos institucionais, e o Prof. Cavaco Silva não tem sabido fugir à tentação de os fomentar de forma mais ou menos evidente. 
  
No fundo a sensação que se tem do Prof. Cavaco Silva é que a se tem do actual Papa, ele nem é mau de todo, mas a gente gostava mais do anterior. Assim vão as cousas.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Notas soltas (5)

O canditato Fernando Nobre diz que se Cavaco precisa do abraço de Passos Coelho e Manuel Alegre do de Sócrates, a ele basta-lhe o "abraço do velhinho de Portalegre que se agarrou a ele a chorar". Fernando Nobre até pode andar a dizer que não é politico, mas já lhe apanhou os tiques de populismo.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Notas soltas (4)

Porque é que no mesmo dia em que o Governo anuncia o cumprimento das metas de redução do déficit no ano 2010, numa clara jogada de antecipação ao leilão de divida pública, aparece o Banco de Portugal a anunciar a recessão e aumento do desemprego para este ano? Afinal de contas a quem é que interessa que Portugal tenha de recorrer ao Fundo de Estabilização Europeu e ao FMI? É a invariável "lógica" do quanto pior, melhor ou o jogo sujo da política no seu esplendor.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Notas soltas (3)

O buraco do BPN é o resultado de uma gestão fraudulenta, que beneficiou durante largos anos da omissão de supervisão e controlo. A irresponsabilidade repartida e actual daqueles que sobre este assunto falam demais e daquele que fala de menos irá certamente contribuir para aumentar a dimensão do problema. Descansemos, porém, que a partir de dia 24 deixará de ser assunto.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Cara Alegre

O direito de votar é um direito inalienável que eu cumpro "religiosamente" desde que para tal fiquei habilitado pela idade.
Este ano terei, contudo, o maior desafio às minhas convicções quando, já este mês, formos chamados a eleger o Presidente da República.
Por convicção (ou falta dela) a opção de alinhar na reeleição do Prof. Cavaco Silva está fora de hipotese, conforme procurarei explicar na dissertação da próxima semana.
Sobra - que me desculpem os demais - o Dr. Manuel Alegre, poeta de elevada craveira, mas que tem sido na vida politica algo que se assemelha a um verbo de encher.
De há vários anos para cá o Dr. Manuel Alegre tem vivido num limbo a que eu costumo designar do melhor dos dois mundos: se por um lado ele nada seria sem o "seu" partido, por outro lado surgiu demasiadas vezes como o arauto da independência de ideias dentro desse mesmo partido, criando situações fracturantes e pouco abonatórias no contexto da necessidade de coesão politica.
Sinal disso foi a sua candidatura "independente", à revelia do PS, que acabou por redundar na eleição do Prof. Cavaco Silva.
O Dr. Manuel Alegre sempre surgiu aos meus olhos como uma espécie de D. Quixote da Democracia e da Liberdade, pautando as suas intervenções como se todos nós estivessemos em permanente dívida para com o próprio.
Pois se os seus méritos na (re)conquista da Liberdade é algo que será sempre justo reconhecer, a verdade é, que como alguém já disse, o Dr. Manuel Alegre deixou de existir em 24 de Abril de 1974.
A politica é feita de muitas pequenas e grandes coisas. Ao Dr. Manuel Alegre não se lhe reconhece qualquer cargo ou facto politicamente relevante no pós 25 de Abril, excepto aquele do qual o próprio se investiu de defensor eterno da Democracia e da sua auto-proclamada independência política.
Provavelmente a contra-gosto, o "seu" partido deu-lhe agora aquilo que ele quis e apoiou-o desta vez como canditato oficial.
Mas o Dr. Manuel Alegre não duvide que muita gente irá fazer, como alguém sugeriu um dia, dar-lhe o voto de "olhos fechados". Não será certamente o meu caso. Assim vão as cousas.

Melomania (16)

Johannes Brahms "Ein Deutsches Requiem"

Cinefilia (16)

Eduardo Mãos de Tesoura (1990)

Feira do Livro (16)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Notas soltas (2)

Leio a crónica de 6ª feira de José Manuel Fernandes do Público onde ele refere "num tempo que não deixou de ser ainda o de um coveiro vendedor de ilusões (José Socrates)..." e lembro-me que era esta mesma pessoa que em tempos não muito distantes propagava aos sete ventos a teoria dos contrangimentos à liberdade de imprensa e se não foi também ele - quando era director deste mesmo jornal - que apadrinhou a rábula das escutas presidenciais. Será esta a sua noção de constrangimento? Será isto independência jornalistica?

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

"O Mágico"

Fui ver o "O Mágico" do realizador Sylvain Chomet numa das duas unicas salas de cinema de Lisboa em que este filme estreou. A última grande estreia de 2010.

Um filme belissimo do realizador do igualmente fabuloso "Belleville Rendez-Vous".

Para quem gosta de filmes de animação tradicional (mas nada convencional) e para quem dispense o tradicional "...e viveram felizes para sempre".

domingo, 2 de janeiro de 2011

Back to basics

Zeca Afonso dizia "Só se lembra dos caminhos velhos quem tem saudades da terra".


De um país essencialmente dedicado à agricultura, Portugal passou num muito curto espaço de tempo a depender essencialmente das importações da generalidade dos géneros alimentícios que habitualmente consome, por ter deixado de ser auto-suficiente nos principais produtos que produzia anteriormente.

E porquê? Porque houve uma debandada associada à emigração nos anos 60 e 70 e houve uma “fuga” dos campos para as cidades, deixando os terrenos por cultivar ou por limpar, de onde tem resultado em parte um dos grandes males dos verões, isto é, os incêndios.

A falta de capacidade em produzir o suficiente para consumo próprio associado ao aumento e diversidade do produto vindo de outras regiões – por vezes a preços imbatíveis – proporcionou uma das últimas machadadas no sector agrícola.

Mas não foi este o único factor.

Devemos também recordar que durante largos anos, nomeadamente aqueles imediatamente após a adesão à então CEE, foram adoptadas políticas que não só não incentivavam à produção como promoviam a abstenção dessa mesma produção, através de subsídios dados ao abate de plantações, embarcações e não só.

Ou seja, tornou-se mais rentável não produzir…do que produzir (curiosamente com o alto patrocínio de quem hoje advoga aos “sete ventos” a necessidade de regresso ao mar como um desígnio nacional).

Os últimos anos têm, contudo, levado a uma inversão – lenta – desta “lógica”, essencialmente devido a dois factores bem distintos.

O primeiro resulta do facto de que Portugal para além do Turismo e da qualidade das suas terras pouco mais tem para oferecer em termos futuros, uma vez que a nossa actividade industrial ou o sector dos serviços, está mais do que visto, é manifestamente insignificante para ser atractiva ao investidor estrangeiro e mesmo nacional.

Assim sendo redefiniram-se as prioridades e começou a apostar-se bem e com qualidade em sectores específicos, como sejam os da olivicultura, do vinho e das nossas principais espécies autóctones, para além da já tradicional cortiça.

Esta realidade é hoje incontornável para quem viaje um pouco por todo o país. Onde antigamente havia extensos campos ao abandono vemos agora vastas plantações em regime de latifúndio.

A segunda razão para este “regresso” ao campo é, infelizmente, menos nobre e, julgo que para o bem e para o mal tenderá a acentuar-se no futuro próximo. Falo da necessidade extrema, ou seja, da necessidade pelo aumento dos casos de FOME.

A necessidade – diz-se – aguça o espírito e neste caso ainda fará mais sentido esta convicção.

A capacidade de gerar os próprios proveitos que a terra “dá” não é nova, nem constitui sequer uma invenção. É uma das mais primordiais tarefas do Ser Humano.

Por tudo isto este retorno, ainda que motivado pelos piores dos motivos, poderá levar a uma alteração dos nossos hábitos de vida, dando certamente mais valor àquilo que durante demasiado tempo se negligenciou.

O regresso às origens ou aos “caminhos velhos” de que o Zeca falava será uma necessidade, uma contingência, mas será também uma nova oportunidade. Assim vão as cousas.

Roteiros (15)

Londres (2009)

Cinefilia (15)

Imperdoável (1992)

Melomania (15)

Karl-Heinz Stockhausen "Gruppen"

Feira do Livro (15)

"Autobiografia pelos Monty Python"