O dia de reflexão oficial foi ontem mas, para mim que procuro reflectir todos os dias, o dia de ontem é apenas aquele em que não vemos na televisão ou ouvimos na rádio o circo que percorre o país durante duas semanas. É um dia de descanso.
A reflexão que se exige e que culmina no acto de decidir quem nos dirige deve desde logo levar a pensar o motivo pelo qual há cada vez menos gente a exercer esse mesmo acto, a que constitucionalmente é conferido a importância de direito fundamental.
No fundo julgo haver três motivos que lhe estão subjacentes.
O primeiro, e aquele mais aceite comummente, é a desilusão dos eleitores com a "classe politica", a convicção mais ou menos generalizada que a confiança do voto é rapidamente traída com politicas que agravam as condições de vida ou colocam em causa a estabilidade e o crescimento individual e colectivo;
O segundo e de certa forma decorrente do primeiro, consiste na expressão de uma forma de protesto. Não se vota porque se quer manifestar a oposição. É como se estivessemos perante o voto num candidato que não surje nas listas.
O terceiro, e para mim, o que verdadeiramente dita a natureza do absentismo é o comodismo e o desinteresse. Este sim é que deve ser o motivo de verdadeira reflexão. Perceber o que é que leva alguém a abster-se que ir votar simplesmente porque não quer saír de casa ou não consegue discernir o o que separa os candidatos.
A resposta poderá colocar-se ao nivel do "déficit" cultural e de cidadania de parte significativa do nosso país. Mas acredito também que a desinformação dos média tem também um peso fundamental.
A proliferação de uma certa informação brejeira, culturalmente descontextualizada, tem contribuido para o desinteresse com que boa parte da população "olha" para o dever civico de votar, mas sobretudo o desconhecimento sobre a natureza desse dever.
Será razoável que se saiba mais sobre o destino de personagens de novela ou sobre herois de "pés-de-barro" de "reality shows" do que aquilo que fundamentalmente separa dois ou mais candidatos?
Certamente que não será. No entanto tal parece concentrar mais a atenção das pessoas do que a definição dos seus proprios destinos emergente de qualquer acto eleitoral.
Qualquer pessoa só pode sentir a falta do que já teve antes, e a verdade é que boa parte das gerações actuais desconhecem o que é lutar pelo direito de votar ou a ausência de pluralismo e liberdade de expressão.
Tudo nos parece hoje um dado adquirido. Até que um dia surja alguém e nos venha dizer que não. Assim vão as cousas.
domingo, 23 de janeiro de 2011
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