domingo, 14 de abril de 2019

De regresso a Edimburgo / Air ais gu Dùn Èideann


A parte "simpática" de ter uma viagem que não está condicionada por nada nem ninguém para além dos dias de chegada e partida é o de podermos adaptar o programa de viagem de acordo com as circunstâncias sempre imprevisiveis de quem, afinal de contas, viaja com um destino em mente mas sem a pressão das horas.

Se a isto juntarmos a possibilidade de otimizar o tempo em cada paragem de acordo com a realidade de cada local, quase sempre distinta do que nós próprios antecipamos, permite transferir para o dia seguinte aquilo que não se fez de véspera porque, por algum motivo, não foi possível.

Tal foi o caso das visitas a dois locais de interesse em Glasgow, bem perto da Catedral, que na véspera e por se tratarem de edificios públicos, estavam encerrados precisamente ao público.

Importa referir que, sem prejuizo do que mais adiante se irá dizer, que a principal razão para o prolongar da estadia foi a quase obrigatoriedade de visitar o local onde se encontra uma das maiores obras de arte da história, ainda que reconhecendo que este titulo está necessáriamente repleto de subjetivismo, mas sendo a arte precisamente uma realidade inteiramente sujeita a subjetividades dependentes do gosto de cada um, não vale a pena perder tempo a pensar no que os outros pensam e fazer a nossa própria avaliação.

Essa obra intitulada Christ of Saint John of the Cross, do pintor espanhol Salvador Dali, sempre me impressionou ao ponto de ser quase um ponto de honra poder, uma vez que fosse na vida, contempla-la. E isso proporcionou-se precisamente em Glasgow, embora não da forma esperada.

Mas, em primeiro lugar, estava agendada a visita a um edifico histórico, o Provand's Lordship, o unicio edificio do período medieval de Glasgow, decorado com mobiliário e pinturas do século 17, tornam a visita a este local de fato interessente, sem ser contudo obrigatório.

Mesmo em frente fica então o local onde se encontraria a pintura de Dali, no St. Mungo Museum of Religious Life and Art, um edificio bem mais interessante do exterior do que no seu interior ao qual acedemos para ávidamente chegar ao objetivo quase unico de ali estar.

Contudo, sala após sala parecia adiar-se o tão ansiado encontro por a dita pintura parecia não estar em lugar algum o que, diga-se, até fazia sentido face ao tipo de museu em causa.

Terminada a visita, a desilusão. A pintura não estava naquele museu. Felizmente, na entrada estava precisamente uma brochura com o famoso quadro e questionado sobre o seu paradeiro fomos informados que havia 13 anos já ali não se encontrava e que apenas ali tinha estado por ocasião das obras do seu local de origem, o Kelvingrove Art Gallery and Museum, para onde rapidamente nos dirigimos.

Este imponente museu espanta logo à sua entrada e deixa um pouco desconforto por não ter sido possivel a ele dedicar mais tempo, tratando-se claramente de um local que encerra uma magnifica coleção de obras de arte, a que só o tempo necessário permite a correta fruição.

Não sendo possível dedicar esse tempo ao museu optou-se por imediatamente ir direto ao que vinhamos e contemplar a grandiosidade da obra de Dali, repleto de emoção pela beleza daquele quadro mas também por representar aqueles raros momentos em que percebemos que os nossos sonhos se realizam.
Descrever o que o quadro nos transmite não é tarefa simples por encerrar sensações que as letras ainda não descrevem ou, pelo menos, a arte do escritor não sabe descrever.

Em seguida percorremos algumas das outras salas, repletas de quadros de autores de renome das diferentes escolas de pintura. Ficou muito por ver, mas antes da saída ainda se arranjou tempo para voltar à sala escura onde repousa o Christ of Saint John of the Cross. Quem já visitou a Capela Sistina em Roma sabe o que representa contemplar a perfeição e a cada momento encontrar novos elementos de beleza.

Era hora de regressar a Edinburgo, não sem antes passar em frente ao grandioso edificio da Univerdade de Glasgow, mesmo ali ao lado.

Aquela cidade estranha ao inicio, com um ar algo intimidante da noite anterior, deu lugar a uma imagem de uma elegante cidade, com muito para ver.

O regresso a Edimburgo, contudo, ainda não seria imediato posto que havia mesmo a caminho um local de relevante interesse turistico não porque soubessemos exatamente até que ponto esse interesse resultaria mais da fama mediática ou da sua real beleza.


Refiro-me à Rosslyn Chapel que se tornou famosa por fazer parte do enredo de uma obra literária e do filme que dela resultou e que por ter vendido milhões em livros e em receitas atraiu àquele local um numero considerável de visitantes.


Creio que fará sentido, sobretudo a quem leu o livro, de seu nome "O Código Da Vinci", dizer que poucas ou nenhumas referências ao livro e filme existem naquele local. O que existe, isso sim, é uma belissima capela, repleta de singularidades que fixam o nosso olhar a cada momento, sejam as colunas ou as ricamente decoradas paredes tudo é belo e estranho naquele local.

Mereceu plenamente a correria para ali chegar antes que fechasse e antes de regressar o ponto de partida, Edimburgo.