Diz o dicionário que a futurologia é a ciência que estuda o futuro, não
numa perspectiva de adivinhação sobre aquilo que irá acontecer para além do
tempo presente mas, de forma mais concreta, aquilo que poderá acontecer, tendo
por base um conjunto de cenários possíveis, prováveis ou mesmo desejáveis.
Efectuado a respectiva contextualização, torna-se mais do que evidente que
as possibilidades desta mesma ciência no domínio da política “beneficiam” de um
terreno amplamente fértil, permitindo a todos aqueles que reconheçam a
importância desta ciência antecipar uma perspectiva mais ou menos clara das
perspectivas políticas de Portugal nos próximos tempos.
Para tal, o exercício de uma construção adequada de princípios de
futurologia deverá assentar, antes de mais, em cenários que, embora não
garantidas, constituem ainda assim possibilidades reais de verificação, claro
está, futura, eliminando dessa forma algumas “artes” que assentam as suas
convicções na mera adivinhação ou num tom profético.
Definidos os pressupostos da abordagem que procurarei seguidamente levar a
cabo importa situar temporalmente a mesma, colocando-a de forma simultânea em
dois momentos distintos, a saber, o futuro do actual Governo e as próximas
eleições presidenciais.
Seguindo a ordem atrás definida começarei por referir que de acordo com o
meu entendimento o Governo actualmente em funções dificilmente terá condições
para cumprir o respectivo mandato até ao final o qual, cronologicamente, deverá
(ou deveria) ir novamente a votos no ano de 2015.
As razões para tal convicção e que justificam este exercício de futurologia
são diversos mas, fundamentalmente, assentam em 3 motivos principais.
Em primeiro lugar e conforme tive ocasião de aflorar numa anterior
dissertação torna-se cada vez mais evidente que existe uma ampla
desconformidade entre o programa com este Governo de submeteu ao escrutínio
popular e aquele que tem vindo a ser implementado desde a respectiva tomada de
posse em 2011.
De facto, é inevitável supor que fossem as actuais medidas de austeridade
(e aquelas que estarão para vir) do conhecimento prévio dos eleitores e
certamente teria sido outro o resultado do último acto eleitoral, excepto se esses
mesmos eleitores, num acto de reconhecido masoquismo, desse o respectivo aval
de forma prévia a um cenário que lhes era previsivelmente desfavorável, como
aliás se tem vindo a verificar.
O segundo motivo no qual reside a minha convicção prende-se com o
pré-anunciado e agora constatado resultado prático das políticas, ditas de
austeridade, que têm vindo a ser seguidas e consecutivamente implementadas das
quais, mais do que os desejáveis e desejados resultados positivos, resultou uma
“espiral recessiva” (usando as próprias palavras do Presidente da República)
cuja consequência tem sido o aumento do desemprego, a falência massiva de
empresas e um sentimento que tem tanto de psicológico como de real do
progressivo empobrecimento das famílias portuguesas pelo aumento sistemático da
carga fiscal e da diminuição dos apoios sociais.
A ausência de uma clara perspectiva optimista, mesmo que de médio prazo, e
constatação de que o pior ainda estará para vir - a avaliar pelo “famoso”
relatório do FMI - e as “sombras” que pairam sobre o real entendimento do
Governo sobre a igualmente “famosa” refundação do Estado é, em si mesmo, o
sinal claro do progressivo afastamento entre o Executivo e os Cidadãos.
Finalmente, a terceira das principais razões para a possível (ou provável) queda antecipada do Governo resulta dos sinais claros de divergência entre os
partidos que forma a Coligação que apenas vão sendo atenuadas pelos evidentes
recuos do Dr. Paulo Portas que ainda assim não escondem a progressiva
secundarização do seu papel no Governo a que tem vindo a ser sujeito.
Se a esta perspectiva se juntar o equivoco deambular entre um estado de desconforto ou de manifesto apoio que o Presidente da República faz questão de expressar cada vez que “quebra” os seus
enigmáticos e prolongados silêncios, facilmente se percebe que a conjuntura
institucional é nesta altura uma aliada da insatisfação social, tornando quase inevitável
a necessidade de nova legitimação popular pelo voto do actual Governo.
A consequência provável de um novo plebiscito será, provavelmente, a
vitória do principal partido da oposição e habitual inquilino (em regime de
alternância) do palácio de São Bento.
O que é curioso e ao mesmo tempo dramático é perceber que tal não se
verificará por qualquer convicção de que nessa escolha resida uma alteração
substancial do modelo de governação do país nem tão pouco uma especial empatia
com o respectivo líder, o Dr. António José Seguro, mas sim como uma
manifestação de reprovação pela acção do anterior Governo.
O novo Executivo será, quase com toda a certeza, um governo minoritário
quer por força dos votos quer por força da mais do que provável impossibilidade
prática de formar um governo de coligação, seja com as forças mais à esquerda
seja com os partidos mais à direita.
A consequência deste imbróglio será um Governo fraco tal como fracos serão,
creio, aqueles que vierem a ser os seus membros, começando desde logo por
aquele que é já hoje o presuntivo futuro Primeiro-Ministro.
Continua na próxima semana....