domingo, 5 de maio de 2013

Luta de classes


A noção que cada um de nós tem sobre a generalidade dos denominados países nórdicos, isto é, aqueles que se situam precisamente no hemisfério norte do continente Europeu é, normalmente, associada a uma imagem de prosperidade e riqueza, muito embora nem sempre se tenha uma noção do alcance prático de ambos os conceitos.

Entre eles, consta um Estado com uma área substancialmente superior ao do território português mas, em contrapartida, com cerca de metade da sua população, e tem o nome de Noruega.

Quem conhecer minimamente a realidade deste povo certamente não ignora que se trata igualmente de um dos principais produtores de petróleo e gás natural do mundo, assentando igualmente boa parte da respectiva actividade produtiva no sector das pescas (de onde resulta a designação do seu famoso bacalhau), da manutenção naval, entre outros.

A questão, contudo, que me leva a dissertar sobre este território é que – e este elemento será já menos conhecido – 96% da respectiva população pertence à denominada “Classe Média”.

A importância prática deste factor é tudo menos irrelevante, na medida em que permite imediatamente constatar que o modelo social norueguês é absolutamente justo.

Esta perspectiva é muito simples de analisar bastando para o efeito, e a título meramente comparativo, verificar que em quase todos os estados do mundo onde existam grandes riquezas naturais são precisamente estes que têm os maiores índices de desigualdades sociais, fruto de uma acentuada injustiça na distribuição da riqueza.

Ora se a situação privilegiada de que a Noruega “beneficia” poderá ser facilmente “justificada” pela sua localização geográfica ou mesmo pelas suas riquezas naturais, a verdade é que tais circunstâncias em nada parecem afectar o seu modelo social, antes pelo contrário.

Este modelo baseia-se em princípios de bem-estar social de matriz capitalista, combinando os ditames de qualquer mercado livre ao mesmo tempo que o Estado assume o principal papel em determinados sectores-chave da sua economia, nomeadamente no sector petrolífero e da produção eléctrica.

O resultado desta “equação” de sucesso de um país que por duas vezes expressou por referendo que não pretendia aderir à União Europeia (facto que não impede a sua participação activa nas principais organizações mundiais, algumas das quais foi, inclusive, Estado-fundador), é uma economia de pleno emprego com um nível de vida que se situa acima da maior potência económica do mundo, os EUA.

Contudo e ao contrário do que seria previsível, esta situação particular não resulta directamente das peculiares circunstâncias naturais da Noruega, mas sim os elevados níveis de produtividade, devidamente “recompensados” com um salário médio por hora dos maiores do mundo.

Este factor é, em si mesmo, particularmente relevante para se compreender que de nada valeria à Noruega possuir as riquezas naturais de que dispõem se não tivesse uma sociedade empenhada em fazer valer essas mesmas riquezas, mas que tal só se verifica porque o Estado tem um papel fundamental em equilibrar uma economia de mercado com os princípios básicos do Estado-social.

O que se verifica um pouco por toda a Europa, nomeadamente nos países mais fragilizados pelos efeitos da crise, sejam eles intervencionados ou não, é um efeito que é precisamente o contrário, isto é, perspectiva-se cada vez mais uma redução da protecção social dos cidadãos, com redução progressiva da respectiva capacidade de ganho, convictos certamente que a produtividade se gera pelo alargamento da distância entre o número de horas de trabalho e a remuneração desse mesmo trabalho.

A consequência prática visível desta clivagem é – nem podia ser outra – o progressivo afastamento entre pobres (cada vez mais) e ricos eliminando, dessa forma, o conceito de “classe média”, ou seja, precisamente aqueles que sustentam a economia dos países mais desenvolvidos.

O problema é que, ao fazê-lo, aumenta igualmente a distância que separa os exemplos de sucesso dos países como a Noruega relativamente aos países da Europa comunitária, não sendo, portanto, de estranhar que os respectivos cidadãos continuem a optar por se colocar à margem de um processo de integração europeu cada vez menos solidário, ou seja, em completo antagonismo com o seu próprio estilo de vida. Assim vão as cousas.

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