A noção que cada um de nós tem sobre a
generalidade dos denominados países nórdicos, isto é, aqueles que se situam
precisamente no hemisfério norte do continente Europeu é, normalmente,
associada a uma imagem de prosperidade e riqueza, muito embora nem sempre se
tenha uma noção do alcance prático de ambos os conceitos.
Entre eles, consta um Estado com uma área
substancialmente superior ao do território português mas, em contrapartida, com
cerca de metade da sua população, e tem o nome de Noruega.
Quem conhecer minimamente a realidade
deste povo certamente não ignora que se trata igualmente de um dos principais
produtores de petróleo e gás natural do mundo, assentando igualmente boa parte
da respectiva actividade produtiva no sector das pescas (de onde resulta a
designação do seu famoso bacalhau), da manutenção naval, entre outros.
A questão, contudo, que me leva a
dissertar sobre este território é que – e este elemento será já menos conhecido
– 96% da respectiva população pertence à denominada “Classe Média”.
A importância prática deste factor é tudo
menos irrelevante, na medida em que permite imediatamente constatar que o
modelo social norueguês é absolutamente justo.
Esta perspectiva é muito simples de
analisar bastando para o efeito, e a título meramente comparativo, verificar
que em quase todos os estados do mundo onde existam grandes riquezas naturais
são precisamente estes que têm os maiores índices de desigualdades sociais,
fruto de uma acentuada injustiça na distribuição da riqueza.
Ora se a situação privilegiada de que a
Noruega “beneficia” poderá ser facilmente “justificada” pela sua localização
geográfica ou mesmo pelas suas riquezas naturais, a verdade é que tais
circunstâncias em nada parecem afectar o seu modelo social, antes pelo
contrário.
Este modelo baseia-se em princípios de
bem-estar social de matriz capitalista, combinando os ditames de qualquer
mercado livre ao mesmo tempo que o Estado assume o principal papel em
determinados sectores-chave da sua economia, nomeadamente no sector petrolífero
e da produção eléctrica.
O resultado desta “equação” de sucesso de
um país que por duas vezes expressou por referendo que não pretendia aderir à
União Europeia (facto que não impede a sua participação activa nas principais
organizações mundiais, algumas das quais foi, inclusive, Estado-fundador), é
uma economia de pleno emprego com um nível de vida que se situa acima da maior
potência económica do mundo, os EUA.
Contudo e ao contrário do que seria
previsível, esta situação particular não resulta directamente das peculiares
circunstâncias naturais da Noruega, mas sim os elevados níveis de
produtividade, devidamente “recompensados” com um salário médio por hora dos
maiores do mundo.
Este factor é, em si mesmo,
particularmente relevante para se compreender que de nada valeria à Noruega
possuir as riquezas naturais de que dispõem se não tivesse uma sociedade
empenhada em fazer valer essas mesmas riquezas, mas que tal só se verifica
porque o Estado tem um papel fundamental em equilibrar uma economia de mercado
com os princípios básicos do Estado-social.
O que se verifica um pouco por toda a
Europa, nomeadamente nos países mais fragilizados pelos efeitos da crise, sejam
eles intervencionados ou não, é um efeito que é precisamente o contrário, isto
é, perspectiva-se cada vez mais uma redução da protecção social dos cidadãos,
com redução progressiva da respectiva capacidade de ganho, convictos certamente
que a produtividade se gera pelo alargamento da distância entre o número de
horas de trabalho e a remuneração desse mesmo trabalho.
A consequência prática visível desta
clivagem é – nem podia ser outra – o progressivo afastamento entre pobres (cada
vez mais) e ricos eliminando, dessa forma, o conceito de “classe média”, ou
seja, precisamente aqueles que sustentam a economia dos países mais
desenvolvidos.
O problema é que, ao fazê-lo,
aumenta igualmente a distância que separa os exemplos de sucesso dos países
como a Noruega relativamente aos países da Europa comunitária, não sendo,
portanto, de estranhar que os respectivos cidadãos continuem a optar por se
colocar à margem de um processo de integração europeu cada vez menos solidário,
ou seja, em completo antagonismo com o seu próprio estilo de vida. Assim vão as
cousas.
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