A “viagem” que agora se inicia durará
apenas 24 horas, coincidindo a hora inicial com o nascimento e, como tudo na
vida, o momento final com a morte.
Neste curto espaço de tempo se ficará a
conhecer um dia na vida de V. F., acrónimo do improvável “herói” desta breve
narrativa, condenado a nascer e morrer no mesmo dia, trabalho árduo e repleto
de incidências também elas, tal como o seu próprio nome, formadas por letras ou
silabas iniciais de uma sequência de palavras.
Em bom rigor, deixaremos para trás toda a
parte da manhã, que coincidirá cronologicamente com o nascimento, infância e
adolescência, para nos fixarmos por volta da hora do meio-dia, altura em que
V.F. entra para o mercado de trabalho.
Nesse momento V.F. ficará a saber que uma
parte substancial do seu rendimento de pessoa singular ser-lhe-á deduzida a
título de IRS para além de uma outra percentagem para efeitos de TSU e que os
rendimentos da sociedade para a qual trabalha se encontram eles próprios
sujeitos a uma incidência de IRC.
À hora de almoço, V.F. escolherá um dos
pratos de uma ementa mais ou menos recheada, e tudo aquilo que consumir terá já
incluído o correspondente valor de IVA. Também nessa mesma altura V.F., que não
dispensa o cigarro que há-de finalizar a dita refeição, ao abrir o respectivo
maço de tabaco não terá sequer a percepção que mais de metade do preço que
pagou por ele corresponde ao IT ou que a outra metade do copo meio-cheio de
digestivo com que faz questão de o acompanhar é “bebido” pelo IABA.
Terminado o expediente, V.F. regressa a
casa na sua viatura, pelo qual pagou em partes iguais o respectivo valor
comercial e os custos que decorrerão do seu uso para o ambiente, estruturas
viárias e sinistralidade rodoviária, por via do ISV.
Verificando que o depósito se encontra
perto de se esgotar, V.F. pára, nesse momento, para reabastecer numa bomba de
gasolina, desviando alternadamente o seu olhar para o preço do combustível
adequado, sobre o qual incide o ISP e o selo colado no vidro da sua viatura,
que reflecte a sua contrapartida ambiental - o IUC - pelo simples facto de
circular neste mundo de modo alternativo aos seus próprios meios.
Uma vez chegado a casa, V.F. terá então
ocasião de abrir o correio que nessa circunstância alerta para a necessidade de
liquidação do IMI, consequência prática da sua qualidade de proprietário de um
imóvel que havia adquirido nesse mesmo dia – ou não fosse esta a “duração” da
sua curta vida – tendo por essa via suportado o correspondente IMT sobre o
respectivo valor patrimonial.
O dia terá então chegado ao fim e de
igual forma a “caminhada” de V.F., iniciais de um nome que ficará incógnito,
submerso num mar imenso de impostos, directos e indirectos, que o “consomem” a
ele e a todos nós ao longo da vida, como contrapartida necessária de qualquer
cidadão perante o Estado e que este, ainda assim, nos vai sucessivamente
“dizendo” que não chega. Assim vão as cousas.
Sem comentários:
Enviar um comentário