domingo, 12 de maio de 2013

Uma vida de acrónimo(s)



A “viagem” que agora se inicia durará apenas 24 horas, coincidindo a hora inicial com o nascimento e, como tudo na vida, o momento final com a morte.

Neste curto espaço de tempo se ficará a conhecer um dia na vida de V. F., acrónimo do improvável “herói” desta breve narrativa, condenado a nascer e morrer no mesmo dia, trabalho árduo e repleto de incidências também elas, tal como o seu próprio nome, formadas por letras ou silabas iniciais de uma sequência de palavras.

Em bom rigor, deixaremos para trás toda a parte da manhã, que coincidirá cronologicamente com o nascimento, infância e adolescência, para nos fixarmos por volta da hora do meio-dia, altura em que V.F. entra para o mercado de trabalho.

Nesse momento V.F. ficará a saber que uma parte substancial do seu rendimento de pessoa singular ser-lhe-á deduzida a título de IRS para além de uma outra percentagem para efeitos de TSU e que os rendimentos da sociedade para a qual trabalha se encontram eles próprios sujeitos a uma incidência de IRC.

À hora de almoço, V.F. escolherá um dos pratos de uma ementa mais ou menos recheada, e tudo aquilo que consumir terá já incluído o correspondente valor de IVA. Também nessa mesma altura V.F., que não dispensa o cigarro que há-de finalizar a dita refeição, ao abrir o respectivo maço de tabaco não terá sequer a percepção que mais de metade do preço que pagou por ele corresponde ao IT ou que a outra metade do copo meio-cheio de digestivo com que faz questão de o acompanhar é “bebido” pelo IABA.

Terminado o expediente, V.F. regressa a casa na sua viatura, pelo qual pagou em partes iguais o respectivo valor comercial e os custos que decorrerão do seu uso para o ambiente, estruturas viárias e sinistralidade rodoviária, por via do ISV.

Verificando que o depósito se encontra perto de se esgotar, V.F. pára, nesse momento, para reabastecer numa bomba de gasolina, desviando alternadamente o seu olhar para o preço do combustível adequado, sobre o qual incide o ISP e o selo colado no vidro da sua viatura, que reflecte a sua contrapartida ambiental - o IUC - pelo simples facto de circular neste mundo de modo alternativo aos seus próprios meios.

Uma vez chegado a casa, V.F. terá então ocasião de abrir o correio que nessa circunstância alerta para a necessidade de liquidação do IMI, consequência prática da sua qualidade de proprietário de um imóvel que havia adquirido nesse mesmo dia – ou não fosse esta a “duração” da sua curta vida – tendo por essa via suportado o correspondente IMT sobre o respectivo valor patrimonial.

O dia terá então chegado ao fim e de igual forma a “caminhada” de V.F., iniciais de um nome que ficará incógnito, submerso num mar imenso de impostos, directos e indirectos, que o “consomem” a ele e a todos nós ao longo da vida, como contrapartida necessária de qualquer cidadão perante o Estado e que este, ainda assim, nos vai sucessivamente “dizendo” que não chega. Assim vão as cousas.

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