Portugal não fugiu à regra no que diz respeito à reacção do regime aos movimentos anti-colonialistas e por isso mesmo optou, como boa parte das potências coloniais dominantes de então, pelo recurso à lógica da guerra.
Se em relação às colónias portuguesas na
Índia a guerra foi de curta duração tal era a supremacia dos exércitos indianos, já o mesmo não se verificou em relação às possessões africanas que Salazar pretendia manter, sem interiorizar - presume-se - os custos materiais e humanos de um tal
esforço, facto que levou a partir do ano de 1961 ao inicio dos conflitos em
Angola, Guiné-Bissau e Moçambique (Cabo-Verde e São Tomé foram as excepções).
Rejeitando qualquer negociação pacífica, Salazar optou pela "célebre" máxima de que Portugal deveria enviar
tropas para Angola "imediatamente e em força" ou ainda pela "política" do
"orgulhosamente sós" que reflectia a falta de apoio internacional (incluindo por parte do Vaticano) à
guerra que se iniciava.
O "resultado" de uma tal
obstinação foi a mobilização de quase 1,5 milhões tropas portugueses, na sua
maioria jovens, dos quais quase 10.000 não haveriam de regressar com vida ou
ainda 30.000 feridos para além do número indeterminado de ex-combatentes
sofrendo de um flagelo que só mais tarde havia de ser diagnosticado como "Distúrbio Pós-Traumático do Stress de Guerra" e, por fim, um número
jamais contabilizado de vitimas civis.
Houve uma outra consequência, porventura
menos mediática, que foi o desastroso resultado para as finanças públicas
portuguesas em resultado da "necessidade" de manter o chamado
"esforço de guerra".
A queda de Salazar e a ascensão ao poder
de Marcello Caetano em 1971 não haveria de originar qualquer solução para o
conflito 10 anos após o seu início, fruto de uma manifesta incapacidade
política e diplomática para negociar uma solução pacífica do mesmo, algo que
apenas viria a ocorrer em 1974.
A exaustão de um país inteiro com um
conflito que se perpetuava e a erosão do próprio regime ou ainda as divisões
dentro das forças armadas haveria de levar à sua queda e ao inicio do fim de
Portugal como potencial colonial.
A consciência de que o "problema
ultramarino" só poderia ser solucionado através do reconhecimento dos
direitos dos povos à sua autodeterminação e independência seria necessariamente
o primeiro passo para o fim do conflito e o inicio do processo de
descolonização em Africa mas igualmente a legitimidade da ocupação da India
Portuguesa ou ainda a situação particular do território de Timor.
Sucede porém que à guerra colonial se
haveriam de seguir nesta altura diversas guerras civis com especial relevo para
Angola e Moçambique que apenas haveriam de terminar na parte final do século XX.
No meio de tudo isto estavam, porém, centenas de milhares de portugueses (mas não só) que entre a não aceitação da ideia de criação de estados livres e de maioria negra, a desconfiança dos povos locais relativamente ao anterior país colonizador e uma guerra fratricida originou um movimento de regresso forçado a Portugal, aqueles mesmos que haveriam de ser "baptizados" para sempre de "retornados".
No meio de tudo isto estavam, porém, centenas de milhares de portugueses (mas não só) que entre a não aceitação da ideia de criação de estados livres e de maioria negra, a desconfiança dos povos locais relativamente ao anterior país colonizador e uma guerra fratricida originou um movimento de regresso forçado a Portugal, aqueles mesmos que haveriam de ser "baptizados" para sempre de "retornados".
Em resumo e sem querer de forma alguma presumir que aquilo que é o meu entendimento sobre esta matéria possa encerrar a discussão sobre o tema é, antes de mais e conforme faço questão de sempre referir, um "convite" à reflexão individual, deixando de lado o recurso a chavões e frases feitas recorrentemente utilizadas que nada acrescentando ao tema vão disseminando uma convicção que não se encontra sustentada por qualquer enquadramento histórico.
Por isso mesmo preocupa-me que a data do 40º aniversário do 25 de Abril se possa tornar uma arma de arremesso da actual crise ao invés de um reavivar da memória colectiva. E se tal suceder, como transparece da falta de um verdadeiro conceito de celebração da data, esse será certamente um factor de preocupação futura que transcende os efeitos da própria crise. Assim vão as cousas.