quarta-feira, 29 de junho de 2011

domingo, 26 de junho de 2011

Uma questão de estilo (de vida)

Se há coisa que os americanos (os norte-americanos, note-se) gostam é de passar boas temporadas em campanha eleitoral.

Há falta de uma figura equivalente a um Primeiro-Ministro os americanos centram toda a sua atenção na eleição do Presidente da República e, em bom rigor, começam logo a faze-lo no dia imediatamente seguinte ao das eleições.

O próprio Presidente da República eleito entra também imediatamente em campanha se houver a possibilidade de reeleição, o que tem acontecido quase sempre ao longo das últimas décadas.

Ora se do lado dos Democratas a escolha parece estar feita há muito tempo o mesmo já não se diga da parte dos Republicanos que andam por estes dias numa espiral pelo país fora em auto-promoção, sem sequer serem na maior parte dos casos candidatos oficiais ao cargo.

Andam, no fundo, a recolher a sensibilidade dos cidadãos na perspectiva de se darem a conhecer e poderem vir a ser a escolha do partido Republicano para o próximo embate com Barack Obama.

Não menos importante é o facto de andarem também a recolher boas doses de apoios financeiros por parte daqueles a quem mais tarde terão de retribuir – provavelmente com “juros” – tão generosos apoios logo que a Casa Branca esteja devidamente ocupada.

Do ponto de vista europeu analisar este complexo período eleitoral não deixa de causar um misto de sentimento de comédia mas também de estupefacção, não se percebendo sequer onde começa um e acaba o outro.

Basta, para tanto, acompanhar os tais proto-candidatos a candidatos para se perceber a que é que me refiro.

O candidato Republicano típico é aquele que, de forma geral, parece incorporar os denominados valores tradicionais da América e fazem-no da forma mais exacerbada possível de forma a criar um evidente antagonismo entre eles próprios e os candidatos Democratas.

Para esse efeito recorrem a um conjunto de taglines muito “queridas” aos americanos de forma a associar os outros candidatos a conceitos que se encontram nos antípodas dos referidos valores.

Surgem então de forma despudorada as referências ao socialismo que em “bom americano” equivalerá, por absurdo que pareça, ao comunismo de Cuba e da ex-União Soviética, e à religião.

Nesta última cabe praticamente tudo, desde a questão do aborto, do casamento de pessoas do mesmo sexo, ou seja, tudo aquilo que no entender dos americanos corresponde a um desvio aos princípios da família indivisa e devota a Deus.

Para o fazerem os republicanos recorrem a figuras que dificilmente teriam qualquer destaque numa democracia europeia mas que ganham um relevo surpreendente à luz dos ideais americanos.

Não é de estranhar que de entre os principais candidatos a candidatos a Presidente da República surja um senhor chamado Mitt Romney, com ligações aos ultra-conservadores mórmones, a repetente Sarah Palin que se destaca muito mais por aquilo que diz do que por aquilo que verdadeiramente faz e mais recentemente uma senhora chamada Michelle Bachmann.

Figura de proa de um movimento conservador surgido no seio do partido Republicano, o Tea Party, tem na prática as mesmas “virtudes” de Sarah Palin, isto é, não apresenta qualquer currículo que lhe permita fazer disso a sua bandeira, salientando-se contudo pelo “calibre” das suas intervenções públicas não raras vezes revelando um impensável nível de recursos culturais.

Contudo, existe uma franja significativa de americanos que parece aderir a estes personagens, desde logo porque entre outras coisas o Estados Unidos tem actualmente e pela primeira vez na sua história um Presidente negro o que também colide com a “visão” idealista da família americana típica de classe média.

Tudo isto se joga num contexto de um escrutínio público e altamente voraz das vidas privadas das figuras públicas.

Tendo por base o pressuposto de que “à mulher de César não parecer ser séria”, tem mesmo de o ser, qualquer nota de desvio comportamental, mesmo que estes se tenham verificado em idade púbere, implica normalmente a queda politica de qualquer candidato e o fim da sua carreira politica, porventura mesmo antes de esta ter começado.

O “problema” americano reside neste paradigma, ou seja, é este mesmo Povo intransigente com os hábitos e bons costumes que assiste de forma impávida e serena a matanças de inocentes à luz de uma lei constitucional que protege a posse e o uso de armas de fogo ou que entende como perfeitamente natural que boa parte da população (a pobre) não tenha acesso a cuidados de saúde básicos por não dispor de um seguro de saúde.

É também este país que está actualmente envolvido em cenários de guerra mais longos do que quaisquer outros da sua história, com custos orçamentais para lá da nossa compreensão mas sobretudo com um elevadíssimo custo de vidas humanas.

Poder-se-ia dizer muito mais sobre a incoerência o Povo americano aos olhos de um europeu, mas a verdade é que o paradoxal é que esta forma de estar perante si próprio e perante o mundo que os rodeia é de uma absoluta coerência.

A verdade é que os americanos sempre agiram desta forma e presumivelmente continuarão a agir no futuro.

É este o “American way of life”.

Em princípio o Mundo poderá “dormir descansado” porque a reeleição de Barack Obama é mais ou menos certa e desta forma, pelo menos por agora, não ficaremos ao sabor dos “catecismos” de uma Sra. Palin ou Bachmann ou de um Sr. Romney.

Contudo, independentemente desta convicção não podemos ainda assim de deixar de pensar que foi este mesmo Povo que elegeu George Bush por duas vezes. Assim vão as cousas.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

segunda-feira, 20 de junho de 2011

"Assim vão as cousas"

O blogue "Assim vão as cousas" comemora hoje o seu primeiro aniversário.

Ao longo de um ano publiquei 135 mensagens, incluindo 52 dissertações dominicais, às quais acederam quase 1500 pessoas.

Desconheço se serão muitas ou se são poucas relativamente ao número médio de acessos a qualquer blogue, contudo, a todos e qualquer um agradeço a deferência de o terem feito.

Espero poder ter imaginação para manter a regularidade de continuar a escrever sobre (quase) todas as "cousas".

domingo, 19 de junho de 2011

O omnipresente


Costuma-se dizer que quem não aparece…desaparece e esta convicção é tão mais real se for aplicada a um político.

O Dr. Pedro Santana Lopes tem andado nos últimos dias, nomeadamente após a eleição para o cargo de Primeiro-Ministro do Dr. Pedro Passos Coelho, num corropio televisivo a comentar a situação política do país emergente do último sufrágio eleitoral.

Colocado à margem das listas para deputados ou do elenco de ministeriáveis o Dr. Pedro Santana Lopes sabe, porventura como ninguém, que os tempos não lhe correm de feição em termos do protagonismo que o próprio insiste em cultivar.

Mas quais são, afinal, os méritos politicos - e não só - potencialmente associáveis ao Dr. Pedro Santana Lopes?

O exercício não é fácil e em breves linhas irei procurar efectuar uma sintese - não necessariamente cronológica – da sua “carreira”.

Durante a sua passagem pela pasta da Cultura lançou a gigantesca empreitada do Centro Cultural de Belém, obra de evidentes méritos culturais, mais ainda por concluir face ao seu projecto inicial.

Menos sorte teve a sua intenção de completar o Palácio da Ajuda, que por essa altura fora transformado no seu local de trabalho

Eleito presidente do seu clube do coração - o Sporting - fez juras de amor eterno, tando acabado por se demitir por ter decidido concorrer (sem sucesso), na primeira oportunidade, à liderança do PSD.

Foi presidente da Câmara da Figueira da Foz, de cujo mandato dizem "ter deixado obra feita", sendo certo que 99% das pessoas que o possam afirmar não saberão identificar, se tal lhes for solicitado, alguma das ditas "obras".

Foi presidente da Câmara de Lisboa, cargo de que abdicou por ter decido concorrer (uma vez mais sem sucesso) à liderança do PSD.

Pelo meio deixou a cidade sem Feira Popular, um Parque Mayer tão decrépito como o encontrou, apesar das promessas eleitorais de que finalmente ia resolver o problema, tendo contratado para o efeito um dos mais notáveis (e caros) arquitectos do Mundo para desenhar um dos sonhos do Dr. Pedro Santana Lopes e que não passou disso mesmo,

Refira-se que o Tribunal Administrativo determinou recentemente a ilegalidade da permuta feita nessa ocasião entre os terrenos da antiga Feira Popular e os terrenos do Parque Mayer.

A sua “obra feita” em Lisboa foi em bom rigor uma obra por acabar, na medida em que outro dos seus sonhos megalómanos, o Túnel do Marquês, só foi concluído na sua extensão principal quase uma década depois do seu inicio, sendo que parte do projecto inicial continua ainda por finalizar.

Por força da “aventura” europeia do Dr. Durão Barroso e, sem que tenha sido sufragado para tal, viu-se num duplo papel para o qual toda a vida lutou sem que os seus pares e os eleitores em geral alguma vez lho tenham confiado: torna-se líder do PSD e Primeiro-Ministro de Portugal.

O resultado final é conhecido de todos e até previsivel (excepto provávelmente pelo próprio): a falta de legitimidade governativa e a incapacidade própria para o cargo ditaram a sua queda, tendo sido demitido pelo então Presidente da República Dr. Jorge Sampaio.

É o que acontece quando no poder se unem num mesmo Governo a demagogia e o populismo, uma espécie de “fome e a vontade de comer”.

Concorreu novamente à Câmara de Lisboa, mas o buraco dos anteriores responsáveis pela edilidade era de tal modo profundo que ninguém queria arriscar novamente numa pessoa que prometia mais tuneis para a cidade.

Quando todos adivinhavam a sua morte politica, eis que surge uma vez mais como voz públicamente activa, no espaço onde melhor se movimenta: a televisão.

Num país de curta memória estaremos todos, de certa forma, a negligenciar o passado e desleixar a análise critica que deve nortear as nossas opções e este é um dado que o Dr. Pedro Santana Lopes sabe gerir como ninguém.

E tanto assim é que nem o próprio parece lembrar-se que em tempos “avisou” o Dr. Marcelo Rebelo de Sousa quando este andava a recriar a AD que o Dr. Paulo Portas não “era de confiar” quando agora “alerta” o Dr. Pedro Passos Coelho que o Dr. Paulo Portas é um “negociador muito duro, mas leal”.

Por isso não será de estranhar, tal como o próprio disse um dia, que ele continue a "andar por aí". Assim vão as cousas.

terça-feira, 14 de junho de 2011

"No futuro toda a gente será famosa durante quinze minutos"

Andy Warhol disse um dia que "no futuro toda a gente será famosa durante quinze minutos".

Pois aqui vão os meus primeiros 10 segundos.



Revista "Gingko" nº 28 de Junho de 2011.

domingo, 12 de junho de 2011

A história dos 3 envelopes


Admito que para alguns esta história soe vagamente familiar. 

Não querendo correr o risco do plágio, o meu objectivo é, tão somente, adapta-la convenientemente aos sinais dos tempos, deixando ao critério do leitor a tarefa de atribuir às respectivas personagens o nome que bem entenderem, em função da interpretação que cada um delas faça.

Era uma vez um Governante recém eleito para o cargo de forma mais ou menos convincente, mas ainda assim sem réstia de dúvida sobre a sua legitimidade para governar.

Sucede que, durante uma das reuniões de passagem de pasta o anterior Governante agora "despromovido" a líder a oposição entendeu por bem alertar o seu sucessor para as principais dificuldades do cargo para o qual acabava de ser eleito e, num gesto de cordialidade institucional, informou-o que em caso de extrema necessidade existiam naquele mesmo gabinete 3 envelopes, devidamente numerados, que poderiam ser abertos de forma sequencial, fornecendo as respostas para as tais situações criticas.

Durante o primeiro ano de governo o novo Governante viveu aquilo que em política se convencionou chamar de "estado de graça", isto é, uma fase de duração temporalmente indefinida mas que, no essencial, representa um momento em que os eleitores parecem não estar para grandes exigências, dando um claro beneficio da dúvida ao novo governo e, claro está, ao novo Governante.

Contudo, este momento é por natureza efémero, algo que qualquer político minimamente experiente certamente não ignora e por isso mesmo deve procurar acautelar.

Não terá sido o caso deste Governante de que fala esta história que se viu na contingência de começar a justificar a quem o elegeu a escassez de resultados práticos da sua governação e, num ápice e à falta de qualquer justificação perceptível pelos eleitores, lembrou-se do último conselho que havia recebido do seu antecessor e não tardou a abrir o primeiro envelope que dizia o seguinte:

"As suas políticas até poderão ser as acertadas, mas o estado do país em resultado da acção desastrosa do governo anterior impediram a sua implementação, uma vez que o país está muito pior do que se imaginava."

O Governante ficou radiante com esta justificação que apresentou como formalmente sua perante o Parlamento tendo merecido uma larga aprovação, tão forte era o argumento apresentado.

E assim desta forma se passou mais algum tempo, tendo o Governante "conseguido" passar incólume às vozes mais criticas que o apontavam precisamente a ele como o responsável pelos males do país.

Breve deixou de ser possível manter a mesma linha de argumentação e perante uma nova "vaga" de contestação lembrou-se o "herói" improvável desta história de recolher os ensinamentos que porventura se esconderiam por detrás do segundo dos envelopes guardados precisamente no seu gabinete e que apenas deveriam ser abertos em ocasiões "especiais".

Se bem o pensou melhor o fez e num ápice abriu o segundo dos envelopes que de forma muito sintética recordava ao Governante que:

"Logo agora que pretendia iniciar as politicas que prometeu aos eleitores a crise internacional veio deitar por terra todas as suas boas intenções, adiando-as por tempo indefinido." 

De facto não restavam dúvidas que o criador destes magníficos envelopes sabia o que fazia e uma vez mais deu a este "nosso" Governante os argumentos que lhe faltavam para se auto-justificar e que, a partir de agora, não mais teria dificuldade em fazê-lo.

Crente de que os envelopes "ministeriais" não lhe faltariam em caso de necessidade futura com o suporte que até ao momento lhe haviam proporcionado, o Governante passou a descurar de forma grave e leviana as suas responsabilidades, fazendo crescer o nível de insatisfação da população para com ele próprio, algo que parecia não o incomodar tal era a confiança nos dizeres dos seus melhores conselheiros, entenda-se os envelopes.

Não tardou até perceber que a situação geral se precipitava para o descontrolo e, fiel à convicção que a resposta ao problema estava ali mesmo "à mão-de-semear" precipitou-se sobre o terceiro envelope que abriu  de forma apressada.

Rapidamente percebeu, contudo, que o último dos envelopes nada dizia que o ajudasse, porque no mesmo apenas se dizia de forma lacónica que:

"As suas desculpas já não convencem ninguém e por isso o seu tempo terminou. Volte a fechar os envelopes e coloque-os no sitio onde os encontrou."

Todos temos mais ou menos a convicção que muito recentemente alguém abriu entre nós o terceiro envelope. Resta-nos saber quanto tempo demorará até que se reabra novamente o primeiro. Assim vão as cousas.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Reunião de "velhos" amigos

Um grupo de "velhos" amigos e amigas de infância voltou a reencontrar-se ao fim de muitos anos (nalguns casos ao fim de 25 anos) num restaurante de Lisboa. 

O resultado foram 6 horas de amena cavaqueira à mesa, cheias de boas recordações.


Da esquerda para a direita: Sofia, Herculano, eu, Patrícia, Zeca, Guerra e Vera. 




 

domingo, 5 de junho de 2011

The biggest looser

Desenganem-se aqueles que acham que venho falar de concursos de gosto duvidoso sobre pessoas que querem perder peso.

O meu propósito é bem diferente e é o de abordar os resultados eleitorais que acabaram de ser anunciados, ainda que correndo o risco de ter posteriormente de incluir um post-scriptum se alguma das famosas sondagens “à boca da urna” falhar.

Na linha dos vencedores há que colocar necessariamente o partido vencedor, ou seja, o PSD encabeçado pelo Dr. Pedro Passos Coelho

Fê-lo de uma forma engenhosa sem nunca ter de se comprometer com qualquer plano de governo futuro que lhe custasse votos, não apenas porque parte desse plano já foi escrito por terceiros, isto é, a famosa “troika” mas também porque percebeu o essencial da questão seria o de potenciar a vaga de descontentamento existente relativamente ao Eng. José Sócrates.

Esta campanha teve um cunho essencialmente pessoal em prejuízo da "mensagem" própria destes períodos eleitorais onde, por exemplo, nem houve lugar aos habituais outdoors de campanha, o que pelos vistos também não fez falta a ninguém.

Não creio, tal como já tive ocasião de referir noutra dissertação que o voto que hoje é dirigido ao Dr. Pedro Passos Coelho seja necessáriamente um voto de confiança colectivo no próprio, mas sobretudo uma moção de censura do Eng. José Sócrates, tal como anteriormente havia sucedido em relação ao Dr. Pedro Santana Lopes.

Esta falta de convicção que sucessivamente se manifesta no momento de votar é, no meu entender, uma fragilidade do nosso eleitorado que, por mais que diga o contrário, não creio que vote verdadeiramente de uma forma geral “em consciência”.

Outro dos vencedores foi o CDS-PP, um partido de natureza unipessoal tal é a focalização no seu líder.

Em bom rigor seria difícil ao Dr. Paulo Portas não ser um dos vencedores da noite, tal é a amplitude da noção de vitória que o próprio exprime.

Ou seja, o CDS-PP seria sempre um vencedor se tivesse mais percentagens do que na última eleição, ou ainda que assim não o fosse viesse a eleger mais um deputado do que na legislatura anterior ou ainda se ficasse à frente dos dois partidos mais à esquerda no espectro politico português.

Fosse qual fosse o ângulo haveria sempre um argumento para cantar vitória.

Já a perspectiva sempre adiada de poder vir ganhar de facto as eleições é que me parece um pouco menos plausível e por isso mesmo o Dr. Paulo Portas tem sempre o cuidado de não esticar demasiado a corda sob pena de se inverter a auto-presunção de ser um dos tais “vencedores da noite”.

A meio termo entre a vitória e a derrota coloca-se, como habitualmente, a CDU, o que até se compreende porque em bom rigor a capacidade de manter um eleitorado fiel aos seus princípios ideológicos e subsistência de uma lógica de sucessão quase hereditária é em si mesmo uma espécie de “não derrota” muito embora dificilmente se possa alguma vez falar em sucesso, como os próprios parecem querer fazer crer eleição após eleição.

O primeiro verdadeiro derrotado é o Bloco de Esquerda.

Se estas eleições tiveram algum mérito, esse será o de finalmente ter colocado a nu a inutilidade prática deste partido que, após o “hype” das últimas eleições, rapidamente derrapou para uma total ausência de capacidade de constituir-se como uma verdadeira alternativa de esquerda.

Essa incapacidade resulta unicamente da sua própria lógica de anti-poder o que o levou a interpor uma moção de censura ao governo quando poucos dias antes tinha catalogado esta mesma iniciativa por parte da CDU como “inútil” ou qualquer coisa do género.

Por outro lado absteve-se de se reunir com os elementos da “troika” o que seria minimamente aceitável no caso da CDU dificilmente se compreenderia num partido como o BE.

Caiu-lhes a máscara e a utopia ideologicamente vazia do BE veio ao de cima, isto é, tal como eu também referi numa dissertação anterior este partido é acima de tudo o espelho de quem nada tem a apresentar como solução aos problemas reais do país disfarçando essa omissão através de um discurso populista e demagógico.

O grande derrotado ou o “biggest looser” que dá o nome a esta dissertação é evidentemente o PS ou, melhor dizendo, o Eng. José Sócrates.

A grande verdade é que dificilmente não o seria, tal foi a “onda” anti-Sócrates que inundou as televisões, as rádios, as redes sociais, os espaços e os fóruns de discussão política, etc., etc., etc.

Criou-se um sentimento generalizado de antipatia pela figura do agora ex-Primeiro-Ministro.

A amplitude desse sentimento não fica, contudo, espelhada nos resultados eleitorais porque inteligentemente o Eng. José Sócrates conseguiu unir a militância socialista em torno da sua pessoa, incluindo todos aqueles que de forma mais ou menos discreta o criticavam e que, cheira-me, estarão nesta altura a afiar as facas em casa.

O contexto social, politico e sobretudo económico destes últimos 2 anos está nos antípodas daquele com que qualquer político poderá sonhar.

E se ao Eng. José Sócrates poderá ser justamente reconhecida a capacidade de resistência às adversidades, não é menos certo que será ele próprio o grande responsável por esta derrota eleitoral.

Ele e outros tantos, com papeis igualmente relevantes na situação actual, mas que se foram progressivamente “escondendo” porventura com receio de dar a cara no momento da derrota.

Nesse fatídico momento haverá uma só pessoa que o fará, aquele que todos pareciam querer fora do poder, mas em quem - estranhamente - quase 1/3 dos eleitores voltou a votar.

Segue-se uma nova página, aquela onde alguém há-de ter de escrever um novo programa eleitoral com tudo o que isso implicará para as pessoas nestes tempos difíceis.

Acredito sinceramente que existe em Portugal um círculo vicioso eleitoral que, mais tarde ou mais cedo, dará novamente lugar ao partido precedente sem que se perceba exactamente em que é que eles realmente se distinguem. Assim vão as cousas.