domingo, 12 de junho de 2011

A história dos 3 envelopes


Admito que para alguns esta história soe vagamente familiar. 

Não querendo correr o risco do plágio, o meu objectivo é, tão somente, adapta-la convenientemente aos sinais dos tempos, deixando ao critério do leitor a tarefa de atribuir às respectivas personagens o nome que bem entenderem, em função da interpretação que cada um delas faça.

Era uma vez um Governante recém eleito para o cargo de forma mais ou menos convincente, mas ainda assim sem réstia de dúvida sobre a sua legitimidade para governar.

Sucede que, durante uma das reuniões de passagem de pasta o anterior Governante agora "despromovido" a líder a oposição entendeu por bem alertar o seu sucessor para as principais dificuldades do cargo para o qual acabava de ser eleito e, num gesto de cordialidade institucional, informou-o que em caso de extrema necessidade existiam naquele mesmo gabinete 3 envelopes, devidamente numerados, que poderiam ser abertos de forma sequencial, fornecendo as respostas para as tais situações criticas.

Durante o primeiro ano de governo o novo Governante viveu aquilo que em política se convencionou chamar de "estado de graça", isto é, uma fase de duração temporalmente indefinida mas que, no essencial, representa um momento em que os eleitores parecem não estar para grandes exigências, dando um claro beneficio da dúvida ao novo governo e, claro está, ao novo Governante.

Contudo, este momento é por natureza efémero, algo que qualquer político minimamente experiente certamente não ignora e por isso mesmo deve procurar acautelar.

Não terá sido o caso deste Governante de que fala esta história que se viu na contingência de começar a justificar a quem o elegeu a escassez de resultados práticos da sua governação e, num ápice e à falta de qualquer justificação perceptível pelos eleitores, lembrou-se do último conselho que havia recebido do seu antecessor e não tardou a abrir o primeiro envelope que dizia o seguinte:

"As suas políticas até poderão ser as acertadas, mas o estado do país em resultado da acção desastrosa do governo anterior impediram a sua implementação, uma vez que o país está muito pior do que se imaginava."

O Governante ficou radiante com esta justificação que apresentou como formalmente sua perante o Parlamento tendo merecido uma larga aprovação, tão forte era o argumento apresentado.

E assim desta forma se passou mais algum tempo, tendo o Governante "conseguido" passar incólume às vozes mais criticas que o apontavam precisamente a ele como o responsável pelos males do país.

Breve deixou de ser possível manter a mesma linha de argumentação e perante uma nova "vaga" de contestação lembrou-se o "herói" improvável desta história de recolher os ensinamentos que porventura se esconderiam por detrás do segundo dos envelopes guardados precisamente no seu gabinete e que apenas deveriam ser abertos em ocasiões "especiais".

Se bem o pensou melhor o fez e num ápice abriu o segundo dos envelopes que de forma muito sintética recordava ao Governante que:

"Logo agora que pretendia iniciar as politicas que prometeu aos eleitores a crise internacional veio deitar por terra todas as suas boas intenções, adiando-as por tempo indefinido." 

De facto não restavam dúvidas que o criador destes magníficos envelopes sabia o que fazia e uma vez mais deu a este "nosso" Governante os argumentos que lhe faltavam para se auto-justificar e que, a partir de agora, não mais teria dificuldade em fazê-lo.

Crente de que os envelopes "ministeriais" não lhe faltariam em caso de necessidade futura com o suporte que até ao momento lhe haviam proporcionado, o Governante passou a descurar de forma grave e leviana as suas responsabilidades, fazendo crescer o nível de insatisfação da população para com ele próprio, algo que parecia não o incomodar tal era a confiança nos dizeres dos seus melhores conselheiros, entenda-se os envelopes.

Não tardou até perceber que a situação geral se precipitava para o descontrolo e, fiel à convicção que a resposta ao problema estava ali mesmo "à mão-de-semear" precipitou-se sobre o terceiro envelope que abriu  de forma apressada.

Rapidamente percebeu, contudo, que o último dos envelopes nada dizia que o ajudasse, porque no mesmo apenas se dizia de forma lacónica que:

"As suas desculpas já não convencem ninguém e por isso o seu tempo terminou. Volte a fechar os envelopes e coloque-os no sitio onde os encontrou."

Todos temos mais ou menos a convicção que muito recentemente alguém abriu entre nós o terceiro envelope. Resta-nos saber quanto tempo demorará até que se reabra novamente o primeiro. Assim vão as cousas.

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