Desenganem-se aqueles que acham que venho falar de concursos de gosto duvidoso sobre pessoas que querem perder peso.
O meu propósito é bem diferente e é o de abordar os resultados eleitorais que acabaram de ser anunciados, ainda que correndo o risco de ter posteriormente de incluir um post-scriptum se alguma das famosas sondagens “à boca da urna” falhar.
Na linha dos vencedores há que colocar necessariamente o partido vencedor, ou seja, o PSD encabeçado pelo Dr. Pedro Passos Coelho
Fê-lo de uma forma engenhosa sem nunca ter de se comprometer com qualquer plano de governo futuro que lhe custasse votos, não apenas porque parte desse plano já foi escrito por terceiros, isto é, a famosa “troika” mas também porque percebeu o essencial da questão seria o de potenciar a vaga de descontentamento existente relativamente ao Eng. José Sócrates.
Esta campanha teve um cunho essencialmente pessoal em prejuízo da "mensagem" própria destes períodos eleitorais onde, por exemplo, nem houve lugar aos habituais outdoors de campanha, o que pelos vistos também não fez falta a ninguém.
Não creio, tal como já tive ocasião de referir noutra dissertação que o voto que hoje é dirigido ao Dr. Pedro Passos Coelho seja necessáriamente um voto de confiança colectivo no próprio, mas sobretudo uma moção de censura do Eng. José Sócrates, tal como anteriormente havia sucedido em relação ao Dr. Pedro Santana Lopes.
Esta falta de convicção que sucessivamente se manifesta no momento de votar é, no meu entender, uma fragilidade do nosso eleitorado que, por mais que diga o contrário, não creio que vote verdadeiramente de uma forma geral “em consciência”.
Outro dos vencedores foi o CDS-PP, um partido de natureza unipessoal tal é a focalização no seu líder.
Em bom rigor seria difícil ao Dr. Paulo Portas não ser um dos vencedores da noite, tal é a amplitude da noção de vitória que o próprio exprime.
Ou seja, o CDS-PP seria sempre um vencedor se tivesse mais percentagens do que na última eleição, ou ainda que assim não o fosse viesse a eleger mais um deputado do que na legislatura anterior ou ainda se ficasse à frente dos dois partidos mais à esquerda no espectro politico português.
Fosse qual fosse o ângulo haveria sempre um argumento para cantar vitória.
Já a perspectiva sempre adiada de poder vir ganhar de facto as eleições é que me parece um pouco menos plausível e por isso mesmo o Dr. Paulo Portas tem sempre o cuidado de não esticar demasiado a corda sob pena de se inverter a auto-presunção de ser um dos tais “vencedores da noite”.
A meio termo entre a vitória e a derrota coloca-se, como habitualmente, a CDU, o que até se compreende porque em bom rigor a capacidade de manter um eleitorado fiel aos seus princípios ideológicos e subsistência de uma lógica de sucessão quase hereditária é em si mesmo uma espécie de “não derrota” muito embora dificilmente se possa alguma vez falar em sucesso, como os próprios parecem querer fazer crer eleição após eleição.
O primeiro verdadeiro derrotado é o Bloco de Esquerda.
Se estas eleições tiveram algum mérito, esse será o de finalmente ter colocado a nu a inutilidade prática deste partido que, após o “hype” das últimas eleições, rapidamente derrapou para uma total ausência de capacidade de constituir-se como uma verdadeira alternativa de esquerda.
Essa incapacidade resulta unicamente da sua própria lógica de anti-poder o que o levou a interpor uma moção de censura ao governo quando poucos dias antes tinha catalogado esta mesma iniciativa por parte da CDU como “inútil” ou qualquer coisa do género.
Por outro lado absteve-se de se reunir com os elementos da “troika” o que seria minimamente aceitável no caso da CDU dificilmente se compreenderia num partido como o BE.
Caiu-lhes a máscara e a utopia ideologicamente vazia do BE veio ao de cima, isto é, tal como eu também referi numa dissertação anterior este partido é acima de tudo o espelho de quem nada tem a apresentar como solução aos problemas reais do país disfarçando essa omissão através de um discurso populista e demagógico.
O grande derrotado ou o “biggest looser” que dá o nome a esta dissertação é evidentemente o PS ou, melhor dizendo, o Eng. José Sócrates.
A grande verdade é que dificilmente não o seria, tal foi a “onda” anti-Sócrates que inundou as televisões, as rádios, as redes sociais, os espaços e os fóruns de discussão política, etc., etc., etc.
Criou-se um sentimento generalizado de antipatia pela figura do agora ex-Primeiro-Ministro.
A amplitude desse sentimento não fica, contudo, espelhada nos resultados eleitorais porque inteligentemente o Eng. José Sócrates conseguiu unir a militância socialista em torno da sua pessoa, incluindo todos aqueles que de forma mais ou menos discreta o criticavam e que, cheira-me, estarão nesta altura a afiar as facas em casa.
O contexto social, politico e sobretudo económico destes últimos 2 anos está nos antípodas daquele com que qualquer político poderá sonhar.
E se ao Eng. José Sócrates poderá ser justamente reconhecida a capacidade de resistência às adversidades, não é menos certo que será ele próprio o grande responsável por esta derrota eleitoral.
Ele e outros tantos, com papeis igualmente relevantes na situação actual, mas que se foram progressivamente “escondendo” porventura com receio de dar a cara no momento da derrota.
Nesse fatídico momento haverá uma só pessoa que o fará, aquele que todos pareciam querer fora do poder, mas em quem - estranhamente - quase 1/3 dos eleitores voltou a votar.
Segue-se uma nova página, aquela onde alguém há-de ter de escrever um novo programa eleitoral com tudo o que isso implicará para as pessoas nestes tempos difíceis.
Acredito sinceramente que existe em Portugal um círculo vicioso eleitoral que, mais tarde ou mais cedo, dará novamente lugar ao partido precedente sem que se perceba exactamente em que é que eles realmente se distinguem. Assim vão as cousas.
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