domingo, 14 de outubro de 2018

Um dia em Glasgow / Latha ann an Glaschu

Aviso prévio, existem duas Glasgow, a maior cidade da Escócia, uma que se pode viver de noite e outra, complementamente diferente, durante o dia.

Por isso mesmo, em bom rigor, há que descrever a estadia nesta cidade em dois momentos, isto é, o dia da chegada e que corresponde ao final do dia na cidade e dia imediatamente seguinte.

Devo, em abono da verdade, revelar que o motivo principal da inclusão desta cidade no roteiro pela Escócia não estaria tanto relacionado com referências de destaque da cidade, ou seja, que só por si justificassem uma visita à mesma, mas fundamentalmente um desejo pessoal com vários anos de visitar o local onde se encontra uma das obras-primas de eleição da história da pintura, uma daquelas relações de fascínio incompreensivel que só algumas obras conseguem transmitir e que por isso mesmo, dificil mesmo será traduzir em palavras escritas aquilo que fundamentalmente essa obra nos transmite.

Antecipo-me à curiosidade e desde já anuncio tratar-se de uma pintura do mestre Salvador Dali, denominada de "Cristo de São João da Cruz" a qual, em jeito de antecipação, supunha poder ser visitada na St Mungo Museum of Religious Life and Art, local onde o nosso guia de viagem indicava poder ser visitada.

Mas voltemos à noite de Glasgow.

Desde logo que se nota uma estranha animação de rua, daquela em que a nossa percepção sobre os movimentos transita constantemente entre a sensação de insegurança ou de ter entrado num qualquer filme do cineasta Ken Loach quando este filme sobre a miséria, patologias sociais e familiares e de bem-estar social. Numa só frase: toda a gente na rua nos parece estranha, ou pegando na descrição anterior, miserável do ponto de vista social e familiar.

A sensação não é de facto simpática para o visitante, habituado até então a uma Escócia verdejante, habitada por uma classe média-superior, educada e civilizada. Preconceito? Talvez. Mas nada nos prepara para o que sentimos e quando isso acontece refugiamo-nos em raciocinios porventura pouco racionais, posto que não tivemos sequer tempo para conhecer verdadeiramente aquele local quanto mais poder tirar verdadeiras conclusões sobre o mesmo.

O objectivo da saída noturna era sobretudo de arranjar local para jantar, deixando de fora os muitos pubs de onde era possivel ouvir claramente o som desafinado de sessões de karaoke, regado pela cerveja local e algo mais.

Surge então um restaurante chinês como opção quando quase todas as outras já pareciam fechadas, apesar de apenas serem 9 horas da noite. Mas mesmo este local parece indiciar algum cuidado com o ambiente externo: podia jantar-se mas pagando préviamente. Assim fizemos, comemos e rapidamente regressámos ao hotel. Venha a Glasgow de dia.

E de facto existe outra cidade durante o dia. Uma cidade agradável, repleta de edificios do período Vitoriano, razoavelmente limpa, quase que tornando inimaginável ser esta a mesma cidade que também tem um lado sombrio.

O objectivo imediato da visita apontava para o local onde poderiamos visitar o ex-libris da cidade a Catedral de Glasgow em cujas traseiras se destaca a Necrópole, um curioso edificio histórico denominado Provand's Lordship e, finalmente, o tão ambicionado St Mungo Museum of Religious Life and Art onde, supostamente, haveriamos de nos encontrar com a fantástica pintura de Dali.

Mas esta coisa de viajar tem sempre surpresas e esta talvez nem fosse o caso de a ser mas quer a Provand's Lordship quer a St Mungo Museum of Religious Life and Art estavam encerrados, como tantas vezes acontece com edificios públicos às segundas-feiras.

Como seria inimaginável partir desta cidade sem tornar real o sonho de ver o quadro de Dali logo ficou definido adiar a saída da cidade para um pouco mais tarde no dia seguinte, de forma possibilitar o dito cumprimento de sonho, ainda que também neste capítulo ainda não estivessem esgotadas as surpresas...

A Catedral de Glasgow é, de facto, um edificio de monumental beleza, de caracteristicas totalmente distintas dos locais de culto visitados até então, com toda a iconografia católica bem presente num país quase todo ele protestante, cujas origens remontam ao século XII mas impecávelmente conservada.

Nas traseiras da Catedral ergue-se um espaço de consideráveis dimensões na zona mais alta da cidade onde fica localizada a Necrópole da cidade, ela propria uma verdadeira cidade onde todas as campas parecem ter sempre mais de 100 anos, uma espécie de museu alternativo onde a história da cidade repousa.

Sobre esta Necrópole e os cemitérios em geral na Escócia importa ter presente que são entendidos antes de mais como verdadeiros jardins, locais onde é possivel passear descontraidamente, passear com as crianças, até mesmo namorar ou fazer um piquenique. Sim, presenciámos todos estes momentos. Nada ali é macabro ou pode ser entendido como desrespeitoso por ali andar. Faz parte da paisagem. A relva verde e cuidada é o tom dominante conjuntamente com milhares de pedras tumulares quase todas elas impecavelmente cuidadas.

Dali partimos para as restantes atracções na cidade, destacando-se em particular a City Chambers, a câmara da cidade, a Mitchell Library que em frente tem uma curiosa estátua do Duke de Wellington montado no seu cavalo, algo que não seria nada de extraordinário não fosse o caso de ter na sua cabeça um daqueles cones de sinalização que frequentemente podemos ver nas estradas colocado sob... a sua cabeça. Primeiro pensamos que é apenas um acto de vandalismo, mas depois percebe-se que é mesmo assim, certamente não desde o inicio, o que transformou este monumento numa das 10 mais bizarras atracções do mundo.

A George Square é também um local de referência. Espaço amplo e agradavel.

Seguiu-se um longo trajecto a pé até uma das curiosidades da cidade de Glasgow, a Tenement House, um apartamento do século XIX, que conservou até aos dias hoje todas as condições em que foi habitado ao longo do século XX, um verdadeiro museu sobre o que era viver em Glasgow durante esse período.

O dia haveria de terminar junto ao rio, com uma visita à Clydside Distillery, uma das muitas distilerias da Escócia, uma espécie de romaria que não pode deixar de ser feita ao visitar este país, seja qual for a marca,
conhecendo e sobretudo aprendendo a apreciar o famoso wiskey escocês e ali perto a Riverside Museum of Transport and Travel, uma impressionante e imperdivel coleção de todo o tipo de meios de transporte, impecavelmente organizado e com entrada gratuita, num edificio igualmente impressionante.

Do lado de fora encontramos um enorme navio ao qual não foi possivel aceder em virtude do adiantado da hora, no denominado Tall Ship at Riverside.

O dia terminava e a ideia de voltar à Glasgow "da noite" não era suficientemnete apelativa pelo que o jantar foi perto do hotel. O dia seguinte ficava reservado para o que faltava.


terça-feira, 11 de setembro de 2018

A caminho de Glasgow / Air an t-slighe gu Glaschu

A fantástica Ilha de Skye ficou para trás e, como em qualquer viagem que se preze, não é ainda o tempo para retrospectivas do que ficou visto ou ficou por ver, o tempo é um ditador e o alinhamento da viagem não se presta a revoluções.

O destino seguinte não seria, porventura, daqueles que seria por si mesmo apelativo em função de quaisquer referências culturais relevantes mas, porque a cultura popular também é ela própria uma forma de cultura, era incontornável "aderir" a uma das muitas referências iconográficas da Escócia, uma espécie de herói dos tempos modernos, não porque seja de origem escocesa ou pelos seus grandes feitos, mas sim porque quis o destino boa parte das imagens que percorrem o imaginário dos fãs do feiticeiro Harry Potter terem sido precisamente filmadas nesta região.

Um desses locais é a localidade de Glenfinnan que tem, para além de um monumento de homenagem ao já anteriormente referido Bonni Prince Charlie, um viaduto onde passa, literalmente, o comboio que no filme haverá de levar os aprendizes de feiticeiro à escola de Hogwarts.

Tudo está montado para ser lembrado como tal. Apesar da distancia considerável a que passa o dito comboio faz questão de apitar préviamente à sua chegada, antecipando a emoção daqueles que por alí se encontram prepositadamente para esse efeito, lançando fumo branco durante o caminho, envergando as mesmas cores que o fizeram involuntáriamente famoso, a ele e ao aqueduto.

Diga-se que a "emoção" dura escassos minutos e por isso mesmo é tempo de seguir em frente passando pela localidade de Fort William, uma pequena e pacata vila onde é possivel passear pela sua principal avenida e apreciar as lojas à falta de motivos maiores para ali permanecer por muito mais tempo.

O caminho até Glasgow faz-nos passar por duas maravilhas naturais escocesas, Glencoe e Loch Lomond.


O primeiro destes locais, Glencoe, é um vale verdejante, ladeado por montanhas onde polulam caminhantes mais ou menos organizados e que desagua num dos muitos lagos da Escócia, o Loch Leven. Diz-se que será um dos locais mais bonitos de toda a Escócia. Por mim não faço escolhas, é bonito, unico e incomparável. É assim que melhor se aprecia cada local.





O Loch Lomond fica situado no Parque Nacional de Trossachs e faz a fronteira entre as Highlands e as Lowlands da Escócia, no qual "flutuam" inúmeras ilhas, quase sempre de pequenas dimensões mas bastande arborizadas.

É mais um cenário idilico que se percebe ser bastante apreciado para passeios de barco e mesmo para veranear nas suas margens devido à água sempre calma (e doce).

Dali a Glasgow são cerca de 23kms coisa pouca portanto e que se faz com relativa rapidez.

Desembarcados nesta cidade é tempo de descansar no hotel e escolher onde jantar, o que em si mesmo dá direito a uma anotação de viagem propria, mas isso ficará para o dia seguinte.




O último dia na Escócia / An latha mu dheireadh ann an Alba

Regressados ao ponto de partida não era ainda exatamente o tempo de retomar as visitas ao que ficara por visitar no final do primeiro dias uma vez que, estando o carro disponivel, havia que desfrutar disso mesmo e fazer alguns kilometros para visitar a Abadia de Dunfermline, uma espécia de panteão nacional dos heróis escoceses.

Um local muito aprazível, não tanto por essa caracteristica de panteão que, diga-se não é assim tão visivel por via da acção dos tempos, mas por se tratar de um local de fato bonito e que justificou a visita.

Era tempo de regressar a Edimburgo, devolver o carro após quase 2500kms ou o seu equivalente em milhas, sempre conduzidos do "lado errado", mas felizmente sem quaisquer problemas.

Por isso mesmo o primeiro ponto de visita seria aquele que ficara inacabado por causa de Sua Alteza Real a raínha de Inglaterra (e da Escócia).

O palácio de Holyrood bem no extremo oposto do Royal Mile de Edimburgo é um museu repleto de referências históricas da Escócia, particularmente à Queen Mary cuja história de vida (e de morte) está precisamente ligada à ascensão de uma antepassada da Raínha Isabel II, muito apropriadamente a da Raínha Isabel I, prima da dita Queen of the Scots, do qual resultaria a união do reino, logo após a sua cabeça ter literalmente rolado por via de uma acusação de tentativa de assassinato da sua prima.

Tudo impecavelmente decorado é um marco na cidade, que não pode ser esquecido, mesmo que tenhamos de adiar para o fim.

Para o final do dia ficaria o passeio pelo jardim da cidade de uma ponta à outra, detendo-nos particularmente numa curiosa fonte a Ross Foutain, em tons de azul e dourado.

E o fim é isso mesmo, o terminar de uma viagem, em que ainda muito ficou por ver, alguns (muitos) castelos, caminhadas pelos campos verdejantes. Mas as viagens são também isso, ficar algo por ver para um dia poder regressar.

domingo, 9 de setembro de 2018

A fantástica Ilha de Skye / An t-Eilean Sgitheanach mìorbhaileach

A manhã deste novo dia começou, em bom rigor, a ser preparada de véspera, com a escolha do que haveria de ser o pequeno-almoço do dia seguinte, para o qual fomos desde logo "avisados" que não seriam bem-vindos telemóveis, hábitos a que nós, como convidados mesmo que pagantes, devemos aceitar e sobretudo respeitar.

Terminado o belíssimo repasto matinal, o dono daquela B&B, um austríaco de nascença mas radicado há largos anos naquela ilha fez questão, com todo o gosto notava-se, de nos aconselhar os melhores locais de visita, porventura não tão turisticos como o próprio fez questão de frisar.

Conscientes de que dificilmente poderiamos dar com todos aqueles locais ou que alguns implicariam longas caminhadas para as quais não nos encontrávamos minimanente preparados, partimos, pois, em direção à Kilt Rock e Mealt Falls, uma extraordinária "parede" da qual se tem uma visão lateral e de onde escorre, como o próprio nome indica, uma queda de água que se afunda num longo precipício.

O passo seguinte, bem mais a norte, eram as ruinas de um castelo local de Duntulm, de facto apenas uma pequena imagem do que terá sido, mas que valia sobretudo pela paisagem deslumbrante, palavra aqui tantas vezes repetida, sobre os campos verdes, onde pastam incontáveis ovelhas e aqui e acolá as "famosos" vacas tipicas escocesas, com a sua proeminante franja, pelagem longa e desgrenhada, de raça Highland Cattle.

Dali seguimos, um pouco mais a sul para o Skye Museum of Island Life, um conjunto impecavelmente conservado de casario tipico daquela ilha há cem anos atrás, de onde se chega a pé até a um cemitério onde descansa mais uma das figuras icónicas da Escócia, Flora MacDonald, com a sua impecável cruz celta, famosa por ter ajudado o Principe Charles Edward Stuart a fugir dos ingleses, disfarçando-o de mulher tendo daí ganho o nome pelo qual haveria de ficar na história como Bonnie Prince Charlie.


A Escócia é tudo isto e algo mais, repleto de mitos, lendas e personagens inesquecíveis, tornados herois nacionais sobretudo pela sua resistência ao invasor inglês.

Ainda mais a sul era tempo de saborear a tradicional e mais famosa bebida escocesa, o whisky, e isso teria de acontecer nos seus tradicionais pubs, mais concretamente o mais antigo pub da ilha, mais exatamente de 1790, onde se saboreou um fabuloso Talisker, um dos mais afamados whiskys locais, cuja distileria fica também na ilha. O local do pub parece saido de um filme, num pequeno casario em fila com o mar pela frente. 

Seguimos para um outro local incrivel, com vistas que não param de surpreender, "obrigando" a uma caminhada que se faz com prazer, o Neist Point Lighthouse, ao qual se chega depois de muitas cruvas, em estradas apertadas onde quase sempre só cabe um carro de cada vez (existem diversos pontos de paragem para deixar passar quem se aproxima, ritual que é respeitado religiosamente).

Era chegado o tempo de literalmente embarcar rumo à main land, mais extamente no porto de Armadale, um dos diversos locais onde o ferry faz essa ligação, mas como não o faz a todo o momento e todo o dia, havia que chegar a horas do ultimo a partir.

O tempo agora parecia mesmo escocês, chuvia ligeiramente e o sol dava lugar às nuvens negras, nada que afligisse ou diminuisse a fantástica passagem pela Ilha de Skye, à qual dá vontade de regressar na certeza de que muito ficou por ver.

De Armadale chega-se a Mallaig, local onde se haveria de jantar e ficar nessa noite.


domingo, 5 de agosto de 2018

O mais famoso lago da Escócia e a chegada à llha de Skye / An loch as ainmeile ann an Alba agus a 'tighinn dhan Eilean Sgitheanach

Se alguma referência instantânea a generalidade das pessoas terá sobre a Escócia é de que neste local existe um lago famoso que esconde um gigantesco monstro que apenas alguns terão visto, muitos julgam ter visto, mais ainda não viram mas quiseram fazer crer o contrário e esmagadora maioria que tem uma relação com o assunto exclusivamente relacionada com o facto de já terem um dia olhado para o lago à procura de não se sabe bem o quê.

A Escócia é muito isto, uma história feita de combates, heróis, mitos e lendas e o Loch Ness é um exemplo acabado de algo que há muito deixou de ser uma mera curiosidade para ter tornar numa imagem de marca que arrasta multidões até aquele imenso local, pois não se pense que este lago é coisa pequena.

Pelo contrário é um enorme lago, com uma profundidade que nalguns locais atinge quase 230 metros de profundidade, ou seja, quase o dobro da profundidade do Mar do Norte. Por isso mesmo é também um lago muito escuro e de águas geladas, onde consta que pouca vida por ali resistirá quanto mais um monstro centenário mas que, pelos vistos, prescinde de um parceiro ou parceira para se perpetuar no tempo.

O que mais impressiona o no Loch Ness é o seu enquadramento, rodeado de montanhas verdejantes, por ali apetece simplesmente parar para contemplar a natureza, a beleza daquele lago e tudo o que o rodeia e sim, por vezes olhar mais firmemente para as suas águas na esperança de naquele dia podermos ser nós e, presumo, muita gente mais, a presenciar uma das raras e fugazes vindas à superficial do seu mais famoso habitante.

É uma espécie de postura agnóstica relativamente à lenda, isto é, por principio não acredito, mas não digo a 100% que não exista. Para bem do animal talvez seja melhor assim, pois estou certo que o ser humano terá todo o interesse em estuda-lo morto, para a região será sempre preferível que nunca se saiba sob pena das pessoas perderem o interesse naquele local, uma vez que afinal de contas o que não falta pela Escócia são lagos e alguns deles também têm direito ao seu próprio monstro.

Mas o melhor enquadramento para poder desfrutar do lado no seu esplendor é visitando mais um dos seus míticos castelos, um dos tais que tem o seu charme no facto de se encontrar em semi-ruínas, mas cuja localização é demasiado perfeita para ser verdade.

Trata-se do Urquhart Castle, que remonta ao século XIII, situado numa das margens do Loch Ness. Ali se travaram grandes batalhas em defesa da Escócia e o que dele resta é uma pequena imagem do que terá sido em tempos. Vale pela localização e pelas vistas soberbas.

 Seguiu-se um almoço na vila e seguir a todo o "vapor" para um outro castelo, sob pena de quando lá chegássemos já se encontrar fechado.

Quando olhamos para o Eilian Donan Castle, ficamos com a sensação de já ter visto aquele local num outro momento qualquer. Talvez num filme, ou num postal ilustrado ou sobretudo numa qualquer busca online para locais "must see in Scotland".

Este castelo é absolutamente idílico. Situado numa rocha na confluência dos lagos Duich e Long tem tudo aquilo que o nosso imaginário retém - sem nunca se tornar num preconceito - sobre a Escócia: grandes lagos e castelos fabulosos. Não se trata de serem grandes. Não é o seu tamanho que impressiona, mas sim o seu enquadramento, a sua beleza exterior quase sempre superior em larga escala ao seu próprio interior.

São locais que ficam na nossa memória por isso mesmo.

Os dois castelos ficavam agora para trás e o caminho seguia com grande ansiedade para um local relativamente ao qual vínhamos carregados de referencias de pessoas amigas que por ali haviam estado antes, uma das diversas ilhas que guardam o território escocês, a Ilha de Skye.

Há duas formas de aceder a esta ilha, por terra através de uma ponte mais a norte ou por ferry com diversas ligações à "main land" ou a outras ilhas. O opção foi entrar pela ponte e partir em direcção à capital, Portree, à procura de local onde ficar.

E este, convém dizer-se, pode ser um verdadeiro problema. Não existem muitos hotéis nesta ilha, existem sim muitos dos tradicionais "Bed and Breakfast", uma espécie de alojamento local, em casas particulares. Simplesmente, fosse do facto de ser fim-de-semana ou por se tratar de um dos locais mais visitados na Escócia, quase sempre as placas que as anunciam - e são às dezenas - tinha também por baixo indicado "No vacancies".

Por momentos parecemos destinados a dormir no carro ou ter de pagar muito mais por uma noite do que o apertado orçamento permitiria até que finalmente uma placa anunciava que por ali ainda havia local para dormir. Não sendo dos locais mais em conta para se ficar também não se diga que era por um valor irrazoável e por isso por ali ficámos, tendo sido desde logo avisados de que naquela casa não se andava de sapatos posto que deveriam ficar à entrada. Cumprido o formalismos era tempo de assentar.


O final de tarde antes de jantar foi aproveitado para conhecer melhor aquela pequena vila portuária, muito pitoresca, sem grandes referencias arquitectónicas mas sobretudo a imagem do que afinal aquela ilha haveria de revelar no dia seguinte.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Em direcção a norte / A 'dol gu tuath


Embora a Escócia esteja longe de ser um território com uma relação histórica (e até na actualidade) que se diga, sem qualquer hesitação, ser plenamente amistosa com o seu vizinho britânico, a verdade é que boa parte do território escocês está, em certa medida, "colonizado" pela presença inglesa, nomeadamente nas residências da monarca, sejam a titulo oficial - em Edimburgo, no Holyrood Palace - ou na distante casa de férias em Balmoral, precisamente o próximo local de visita.


Trata-se de um extenso terreno cujo palácio nem sequer impressiona pela dimensão ou mesmo beleza arquitetonica, mas que permite a quem o visite precisamente aquilo que provavelmente Sua Alteza ambiciona quando ali se desloca: tranquilidade. 

Tudo parece calmo por ali, o imenso relvado ladeado de árvores centenárias ou às diversas estufas onde se cultiva desde a mais bela flor ao proprio sustento do palácio, tudo impecavelmente tratado por mãos experimentadas.

O palácio, excepção feita a um hall, não é visitável o que em si mesmo não é necessáriamente frustrante por, muito provavelmente, não ser o cenário habitual dos museus mas apenas uma casa habitável e ocasionalmente habitada pela monarca daquelas paragens.

O caminho de volta leva-nos à beira de um rio, tranquilo como tudo o resto, cujas margens são enfeitadas de pedras arredondadas pelo ciclo das águas. Apetece por ali ficar mais tempo, mas o tempo não o permite. Temos as highlands pela frente.

A direcção ao norte faz-se por um conjunto montanhoso em plenas Terras Altas da Escócia, onde o cinema de encarregou de tornar famosos os muitos clãs por ali existentes, facilmente reconheciveis pela sua indumentária, o tradicional kilt, mas pelos nomes invariávelmente começados por Mac seguido do nome de familia.

O Cairgnorm National Park é um idilico local montanhoso que é necessário, sem qualquer sacrificio, diga-se, para chegar ao norte da Escócia. Montanhas verdes, aqui e acolá bastante arborizadas, convidam ao trekking para o qual não iamos preparados. Aqui e acolá um lago, não dos tais famosos da Escócia, mas apenas parte do cenário montanhoso, pequenas vilas e até algumas destilarias do mais famoso néctar escocês, o wisky, trilhos de sky encerrados por força das circunstâncias, isto é, por ser Verão e muito certamente abundante vida selvagem que não parece gostar de se dar a ver e ser vista.

É, em fim, o caminho imprescindivel para chegar o destino seguinte, a cidade de Inverness, onde mais se nota uma tendência que se começa a percepcionar com a entrada nas Terras Altas, o predominio do gaélico, uma impronunciável lingua que está para o inglês como o Basco está para o Espanhol, ou seja, nada a ver, mas o exemplo acabado das profundas diferenças culturais entre os dois povos vizinhos, que partilham a mesma raínha, mas com pouco mais em comum.


Inverness é uma pacata cidade, com o rio Ness a criar uma fronteira natural entre as duas margens da cidade, onde, no seu ponto mais alto, se ergue um castelo agora convertido em tribunal e se destacam uma ou outra igreja e a zona velha da cidade, sem tráfego automóvel, onde é possivel passear e melhor ainda beber uma das muitas cervejas locais, quanto mais não seja para reservar o proximo local de dormida, ainda mais a norte.

A opção de seguir caminho até ao extremo norte da Escócia não estava originalmente nos planos, mas a informação recolhida de que nesse local é possivel vislumbrar um dos mais extraordinários eventos da natureza, as auroras boreais, conduziu a essa opção ainda que não fosse certo que o sonho se pudesse converter em realidade por não ser esta a época propricia a tais fenómenos, o que normalmente ocorre a partir do mês de Outubro.

A verdade é que parecia desperdicio estar ali tão perto e não tirar partido dessa (remota) possibilidade, sob pena de arrependimento posterior sem qualquer remédio ou solução.

Fomos aconselhados pelo dono do local onde fizeramos a reserva dessa noite a jantar numa pequena localidade chamada Helmsdale onde supostamente serviriam um excelente prato de fish and chips, uma espécie de "prato-mais-famoso-da-Escócia" consumido praticamente em todo o lado, quase sempre pomposamente como "traditional" ou até mesmo "the best".

Sobre comida importa "gastar" algumas linhas para deixar claro que falar em cozinha tradicional escocesa é uma quase hiperbole, uma vez que as ementas estão longe de ser abundantes em comidas que facilmente apelidariamos de tipicas, e em que essa expressão quer dizer quase sempre Haggis, Fish and Chips, Stuffed Potato, Salmão e pouco mais.

Aliás a ausência de uma variedade razoável de diferentes peixes é talvez mesmo uma desilusão num país quase todo ele rodeado por mar e com diversos e importantes portos que pescam ali pelo mar do Norte, esse mesmo que nos acompanha no percurso até ao dito restaurante, vendo-se ao longe as gigantescas plataformas petroliferas, que fazem da Escócia um importante produtor do "ouro negro" ainda que isso não se reflicta no preço do combustivel que, tal como quase tudo o resto, está longe de ser "em conta".

A verdade é que o sugestionado restaurante não desiludiu e de facto as famosas Fish and Chips eram bastante boas, num restaurante verdadeiramente familiar e que, por isso mesmo, fica para a posteridade o seu nome: La Mirage.

Percebe-se a dupla razão para nos aconselharem a por ali jantar é que por ali mesmo a oferta é bem menor e, já se sabe, encerra a cozinha cedo.

O mesmo se podera dizer dos locais onde ficar, por isso foi um verdadeiro achado o local escolhido, situado numa fazendo com 43 acres - no Reino Unido para além da moeda local tudo é diferente do que se passa no Continente, sejam as medidas de distância, de altura, de velocidade, etc. - cuja cons
trução remonta ao século XVIII, mais exatamente de 1753, agora transformada numa espécie de turismo rural, propriedade de uma família, o que tornou a recepção e a manhã do dia seguinte bastante "friendly".

Antes de nos deitarmos era preciso dar cumprimento ao motivo que alí nos havia levado, as auroras boreais, mas porque de facto não era tempo delas ou o céu estava demasiado claro (apesar de ser meia-noite) e com algumas nuvens a verdade é que nada se viu, ficando apenas o consolo de nos termos deslocado onde verdadeiramente termina a Escócia, a vila de John O'Groats.

A noite ia já longa. O dia seguinte era de regresso mais a sul e a um lago em particular.
 

sábado, 28 de julho de 2018

Na rota dos míticos castelos da Escócia / Air slighe chaistealan miotasach na h-Alba

A imagem mais estilizada da Escócia, a par do famoso Loch Ness, são os os seus muitos castelos, objecto incessante de uma iconografia que vai desde a cinematografia aos postais ilustrados.

Mas, a verdade é que essa componente quase gráfica da paisagem escocesa faz todo o sentido quando temos a possibilidade de estar perante estes vestigios do passado, parte deles em verdadeiro estado de ruína, não por desleixo das gerações seguintes, mas porque a sua própria história assim o determinou e o presente encarregou de conservar.

Assim e pela frente tinhamos duas imagens exemplificativas da icongrafia escocesa no que aos castelos diz respeito, isto é, um modelo totalmente preservado e um outro em ruinas.

Importa ter presente que o estado de maior ou menor de conservação dos castelos está sobretudo ligado à contingência de ser ainda nos dias de hoje propriedade privada de uma qualquer família nobre que, transitando de geração em geração, quis o destino que num dado momento se tenha chegado à conclusão que os custos de manutenção de espaços de tão grande dimensão para tão poucos ocupantes talvez fosse encargo demasiado para que não fosse razoável pensar que a abertura de portas ao turismo poderia de certa forma equilibrar as contas domésticas.

É esse precisamente o caso do Glamis Castle, situado a norte de Dundee cuja propriedade pertence às sucessivas gerações dos Earls of Strathmore and Knghome e onde nasceu uma senhora de nome Lady Elizabeth Bowes-Lyon, mas que a posteridade haveria de chamar simplesmente "Raínha-mãe" bem como uma das suas filhas, irmã da actual Raínha de Inglaterra.


A riqueza dos seus interiores e mesmo de algum exibicionismo bem como constantes referencias à actividade da caça para desgraça dos troféus orgulhosamente empalhados e pendurados nas pareded é, como não podia deixar de ser em terras escocesas, acompanhado de lendas e mitos, que vão desde o monstro de Glamis, a lenda de uma criança que teria nascido de tal maneira deformada que não terá sobrevivido mais do que 1 dia e que, por não ter tido sepultura originou uma vasta onda de rumores.

Ou ainda a Dama de Cinza, que se julga ser a de Lady Glamis que tendo sido acusada de bruxaria, torturada de em seguida queimada num espeto vagueia agora pela capela tendo mesmo o guia identificado a cadeira onde habitualmente se sentará que, por sinal, naquele dia era ocupado por uma menina inocente que ao saber do seu infortunio de involuntariamente se ter sentado ao colo de um fantasma desatou num mais do que compreensivel pranto.

Outras lendas e mitos por ali existem mas também o facto da célebre personagem MacBeth, da obra homónima de Shakespear se ter inspirado naquele local mesmo que não haja evidências de este rei escocês alguma vez tenha por ali passado, não se livrando apesar da má fama que a obra lhe atribuiu e que segundo consta não faz juz à verdade.

A parte final da visita é dedicada aos extensos jardins que, na Escócia, são sobretudo de prados verdes pontuados por arvoredo, com pequenas amostras de jardins mais ao estilo françês ou Italiano.

Em seguida a viagem levou-nos ao lindissimo Dunnotar Castle, uma ruina do século XIII situado numa rocha com uma estreita ligação à terra, ladeada por mar, e um exemplo de que a memória de um país não se faz apenas de grandes palácios mas também da amostra de que aquilo que sobreviveu para a posteridade é parte integrante do significado histórico de cada local, conduzindo a imaginação do turista/visitante a um exercicio de colocação em perspectiva do que seria aquele local em tempos idos.


Uma das caracteristicas deste local é o considerável número de gaivotas que por ali se tornam os moradores daquele local e de todo o espaço que o ladeia se bem que, e este é uma espécie de aviso à navegação, por toda a Escócia se há coisa que não falta são gaivotas, seja mais perto ou longe do mar, a elas não se aplica o principio de que por ali andam por haver tempestado no mar. Por isso mesmo é esperar que em momento algum tenhamos a "sorte" de ser contemplados com uma involuntária "chuva" de dejectos vinda do ar sem nada poder fazer para punir quem, afinal de contas, já por ali andava antes mesmo de nós chegarmos e por lá ficará depois de partirmos.

Por ser ali perto a opção de almoço recaíu na localidade de Stonehaven de onde seguimos para Aberdeen ainda mais a norte.

Esta cidade portuária apresenta um edificado curioso, sobretudo em granito, com alguns pontos de referência arquitectonica interessantes nomeadamente os edificios religiosos, nomeadamente a catedral, com os seus enormes pináculos, alguns deles conforme se disse anteriornente já só a parte exterior nos recorda que ali houve um local de culto na medida em que o interior foi entretanto adaptado a outras funções como por exemplo um bar ou restaurante.

Aberdeen justifica que se passe por alí uma tarde sem pressas.


   

domingo, 22 de julho de 2018

Em direcção a Dundee / A-null gu Dùn Deagh

É possivel visitar a Escócia por mais do uma maneira, em autocarro alinhado com um tour pré-concebido por alguém, por comboio, opção que parece bastante interessante mas terá o inconveniente de não ficar proximo das atracções e isto de andar de mala atrás não é fácil ou de carro.

Nada haveria de anormal nesta ultima opção não fosse o caso de no Reino Unido se conduzir pela direita, facto curioso porque tudo o resto se passa à esquerda. Basicamente e tirando o volante do lado direito, as mudanças na mão esquerda, a invariavel tentação de nos dirigirmos para a porta "errada" ou puxar o cinto pelo lado esquerdo, ou ainda as ultrapassagens serem feitas pela direita e a leve sensação de que vamos em contramão, o resto é a absolutamente igual à realidade a que nós, continentais, estamos habituados.

Mas, como se costuma dizer, primeiro estranha-se e depois entranha-se, e ao fim de um dia o nosso cérebro já interiorizou o que deve fazer e torna-se relativamente simples a mudança.

Nota prévia, nestas viagens não há destino marcado, mas apenas um trajecto pré-definido que ditará o caminho a seguir sem o constrangimento horário associado à obrigatoriedade de chegar "a tempo" aonde quer que seja em favor de da ideia mais interessante de ter tempo para ver o que se pretende e disponbilidade para improvisar, na certeza que nenhum roteiro pode ser suficientemente estanque para não se permitir a desvios amplamente justificados pela aprendizagem de cada novo local que se visita.

Esta perspectiva será, porventura, insuportável para alguns nomeadamente a ideia de não se saber ao certo onde se irá dormir, mas no fundo será sempre um risco razoavelmente controlado que por volta da hora de almoço já permite conhecer em perspectiva o local onde se irá pernoitar. Uma rede de wi-fi à mesa do restaurante e um site de pesquisa de hoteis e a coisa fica tratada em 5 minutos.

Saídos de Edinburgo com a promessa de lá voltar no final da viagem a viagem segue para Stirling, uma pacata vila a sul da capital cujo aspecto medieval e em particular o seu magnifico castelo justificam umas horas por lá. Embora algumas partes pareçam recentemente restauradas este castelo é de facto muito bonito também porque aqui começam as referências aos heróis escoceses.

A Escócia está repleta de heróis, lendas e mitos, de que se falará ao longo dos dias seguintes, e neste local somos confrontados com dois desses herois, um no proprio castelo, Robert I, mas mais conhecido por Robert the Bruce, que liderou a guerra e consquistou a independência com Inglaterra. Basta perceber um pouco do sentimento patriota dos escoceses na actualidade para se perceber que esta chama ainda se mantém bastante viva e as guerras da independência não mudaram assim tanto, passaram apenas dos campos de batalha para os parlamentos.

 Mas daquele local é também possivel vislumbrar uma enorme torre que se ergue à distância e que ao perto ainda se torna mais impressionante, que homenageia um outro heroi escocês, William Wallace, reconhecivel por muitos por ser a personagem principal de um filme relativamente recente (Braveheart), em que o actor principal (Mel Gibson), dava rosto - literalmente e de forma pitoresca - a mais este heroi escocês sempre na luta contra os ingleses.


A referida torre ou mais exatamente Wallace Monument, curiosamente, menos antigo do que aquilo que aparenta, tendo sido construido no último terço dos finais do século XIX, em homenagem à vitória de Wallace na batalha de Stirling Bridge. É imponente, com uma parte superior com uma espécie de floreados arquitectonicos que impressionam. O acesso pode ser feito a pé pelos bosques ou num pequeno autocarro. A opção, claro está, foi pelo percurso a pé. Já o acesso ao topo do monumento não tem discussão, sendo feito por escadas, pequenas e muitas, mas a vista no final é a recompensa necessária para o esforço produzido anteriormente.

Não é ainda a Escócia das montanhas, mas já uma clara imagem de um país de prados verdejantes, pouco povoado e, sobretudo, com dedicatória aos seus heróis um pouco por todo o lado, naquilo que alguns poderão ver como um exemplo de nacionalismo mas que, pessoalmente, entendo como um reconhecimento da nacionalidade transformado em memória colectiva ao longo dos séculos, de geração para geração.

Dali e após o almoço, seguiu-se para a cidade de Perth, uma discreta cidade que anunciava como referencia uma catedral que, por sinal se encontrava encerrada para remodelação, e um palácio, Scone, que não foi possivel visitar por ter sucedido entretanto aquilo que é uma imagem de marca na Escócia: fecha quase tudo muito cedo, normalmente por volta das 17h, mas com a última admissão a acontecer meia-hora antes. Não é que fosse um dos locais imprescindiveis no roteiro, mas ficou uma certa sensação de frustração porque "perdemos" essa janela de oportunidade por meia-duzia de minutos.

Não há lugar a choros nestas viagens. Há muito mais parra ver, e na esta altura já se percebia que o dia haveria de terminar em Dundee, cidade portuária situada mais a norte, onde a opção hoteleira recaiu numa unidade da rede Holliday Inn, bastante em conta face aos preços norlmante praticados.

Era dia de jogo da Inglaterra e as ruas estavam relativamente despidas e gente embora não tenha a certeza que estivessem todos em casa a apoiar a selecção do reino, mas permitiu um passeio pelas ruas da cidade, relativamente pequena, os seus principais pontos de interesse incluindo duas embarcações de grande porte ancoradas em dois locais distintos nos portos da cidade mas sobretudo alguma arquitectura de rua, algo que particularmente valorizo nas cidades.

É preciso ter presente que por se situar bastante a norte da Europa os dias nestes locais são relativamente longos no Verão, havendo luminosidade até bastante tarde, que apenas se vai desvanecendo a partir das 22:30h, sem nunca se tornar evidentemente noite escura.

A Inglaterra ganhou, o dia terminou e outro se lhe seguirá.



sábado, 21 de julho de 2018

Um dia em Edimburgo / Latha ann an Dùn Èideann

Antes de nos aventurarmos pela cidade uma nota sobre a opção hoteleira com um aviso: não se espere nada barato. É tudo genéricamente caro e, portanto, a menos que se faça questão de dormir em hoteis a opção por um hostel parece muito razoável uma vez que não pressupõe necessáriamente dormir em camaratas - embora as camas fossem beliches - uma vez que existe a opção de quarto privado com casa de banho igualmente privativa. Num hotel espera-se asseio e sossego, o resto o sono é igual independentemente do número de estrelas.

A visita ao Castelo de Edimburgo já estava previamente marcada online, uma opção inteligente para evitar as longas filas e escolher a hora pretendida que, no caso vertente, recaiu precisamente na primeira hora disponivel, isto é, a partir das 09:30. Outra nota a ter em conta: as atrações, as lojas e restaurantes também abrem tarde, quase sempre a partir das 10h.


Este castelo, representativo de diversas épocas, é sobretudo dedicado à história da cidade, não havendo grandes atracções no seu interior. O principal é o impecável estado de conservação e a exemplar vista sobre a cidade, pelo que a visita poderá ser perfeitamente efectuada em 01h:30m, sem pressas.

Seguiu-se uma visita ao Scottish National Gallery, um museu não muito extenso mas com um acervo interessante que merece uma visita nem que seja pelo facto de ser gratuito, como alías sucede com os museus públicos.

O tempo seguinte foi dedicado a visitar a Royal Mile e em particular as igrejas, algumas delas com essa configuração apenas exterior uma vez que o inteiror poderá perfeitamente ter sido entretanto modificado para restaurante ou bar. Talvez seja aquilo que mais surpreende quer em Ediumburgo que noutras cidades, as igrejas são consideravelmente mais interessantes do lado de fora do que por dentro. A razão, para além da atrás referida, é de natureza religiosa, uma vez que nestes espaços de culto não existem imagens ou mesmo um altar. São simples e dedicadas à oração, sem "distrações" como facilmente alguém se oferecerá para nos explicar, de forma absolutamente educada, quando nelas entramos.

Foi isso que sucedeu numa igreja presbiteriana em que alguém, que dificilmente associamos a um padre entabulou conversa comigo, explicando-me as diferenças entre uma igreja católica e aquela onde nos encontrávamos, passando pela forma como o próprio "tinha encontrado Deus" e terminando com a pergunta se pretendia que ele fizesse uma oração em favor de alguém. Meio desconcertado e não querendo ser indelicado acabei por responder "sim, pode ser aos meus filhos". E ali mesmo olhou para o chão e orou por eles. Agnóstico confesso não me senti convertido mas acredito que dali mal não vem e por isso agradeci e partimos para o próximo local.

Esse local é o palácio Real de Holyrood, mesmo no extremo oposto da Royal Mile e ali chegados, prontos a comprar os bilhetes fomos informados que Sua Alteza Real a Raínha Elizabeth II estaria para chegar. Seguiu-se um misto de emoções, por um lado a inoportuna visita impossibilitava a visita pleneada aquele local, por outro lado constituia uma oportunidade soberana de "ver a Raínha" e assim nos colocámos num local que, segundo percebemos, corresponderia aquele por onde deveria entrar a soberana, embora sem nunca acautelar a veracidade dessa informação.

Mas, à medida que outras pessoas iam chegando e, sobretudo, uma espécie de azáfama crescente entre a Corte toda aperaltada, fomos esperando sem saber bem se a famosa pontualidade britanica se cumpriria ou, melhor ainda, a ideia de que sua magestade nunca se atrasa é de facto verdade no pressuposto que a hora de chegada é, afinal de contas, ela que define.

Para grande decepção afinal a porta de entrada era outra, um pouco mais ao lado, por isso pouco mais deu para ver do que a branca cabeleira real e os movimentos da guarda real, impecávelmente vestidos, ao som das tradicionais gaitas-de-foles, que só por si justificam a inusitada espera. Pior parece ser a espera dos tais subditos reais que esperando em pé e ao sol por sua Alteza apenas a vêm ao longe, sem sequer terem direito a um aproximar fisico para o famoso aceno real.

A musica termina, a guarda-real desmobiliza, os convidados aperaltados voltam para os seus carros e o "circo" real é dado por concluido.

Por esta altura também já nada havia mais para visitar, por isso era tempo de jantar e recolher.

terça-feira, 17 de julho de 2018

Uma Viagem à Escócia / Turas gu Alba

Para viajantes adeptos do improviso planear uma qualquer viagem é um processo relativamente simples, bastando para o efeito marcar a viagem de ida e volta e deixar o resto ao sabor dos dias, sem acautelar grandes preocupações com eventuais surpresas ou infortunios de viagem, na certeza porém que o tempo decorrer da forma como o viajante dele fizer uso.

Não sendo particular adepto desta metodologia não deixo de reconhecer que uma viagem que tem por objetivo em boa parte do seu tempo circular pelo país de destino terá sempre o inconveniente de "obrigar" a paragens forçadas em locais de dormida que, casualmente, poderão não ser os mais oportunos por se verificar calharem em momento demasiado cedo ou demasiado tarde no local de destino inicialmente previsto.

Por isso mesmo a preparação de uma viagem de 10 dias e meio à Escócia, em que apenas 1 dia e meio tinham poiso fixo, teve como plano prévio o agendamento do hotel para esse dia e meio e o aluguer da viatura para os dias seguintes para além, claro está, da viagem de avião propriamente dita, comprada como habitualmente com a necessária antecedência para garantir, espera-se, o melhor preço possível.

A este respeito a melhor opção revelou-se a da companhia aérea low-cost EasyJet, em função do preço, ausência de escalas e do respectivo horário, ainda que a viagem de regresso tivesse como hora marcada as 06:20 da manhã, o que actualmente implica quase passar a noite no aeroporto pagando ainda assim mais uma noite no hotel onde se ficarão afinal de contas poucas horas ainda que, por outro lado, permita chegar ao destino igualmente cedo e aproveitar o resto do dia.

O que fica do planeamento da viagem é um mero escrito em papel, resultando do "estudo" efectuado ao longo do tempo que decorre entre a marcação da viagem e a sua realização, aquele que parece não chegar nunca, e que no local se ha-de ver se será seguido exemplarmente ou dado a improvisos resultantes de contingências - quase sempre favoráveis - que não são de forma alguma antecipáveis.

Assim sendo o primeiro dia acaba por ser mais exatamente de apenas meio dia, tempo suficiente para que não se diga que se trata de um dia perdido.

Meio-dia em Edimburgo / Meadhan-latha ann an Dùn Èideann

Quando se chega a um novo e desconhecido - mesmo que já préviamente "estudado" conforme referido anteriormente - não deixa de se assemelhar a uma descoberta. Por isso mesmo deixado para trás a tarefa de perceber como é que se chega do aeroporto para o centro da cidade e do centro da cidade para o hotel, tarefa essa que diga-se é bastante simples, bastando para o efeito apanhar um autocarro número 100 que segue diretamente para o centro da cidade, 24 horas por dia, 7 dias por semana, com um intervalo máximo de 10 minutos. A viagem demora cerca de 30 minutos e aconselha-se a compra no mesmo momento do bilhete de ida e volta, fica mais em conta e afinal de contas teremos mesmo de voltar.


A cidade de Edimburgo tem como denominador comum o castelo que se ergue bem no alto. O resto desenvolve-se em duas artérias principais: a Royal Mile que tem esse nome por ser essa a distância entre o castelo e o Palácio de Holyrood e a Princes Street.

A opção foi percorrer esta última avenida entre a estação de Waverley e o extremo oposto desta longa avenida que coincide com o sopé da montanha onde se ergue o castelo de Edimburgo, onde se destaca um amplo jardim, muito povoado por locais e estrangeiros, gozando um dia pouco "british" ou melhor dizendo "scottish", com sol e algum calor a convidar ao descanso.


Pelo meio ergue-se uum imponente monumento, o Scott Monument, a Scottish National Gallery, terminando com uma das muitas igrejas existentes na cidade, quer católicas quer protestantes ou mais exatamente, das diferentes ramificações de ambas as correntes do cristianismo.

Justifica-se ainda o esforço (controlado) de uma subida ao Calton Hill, no extremo oposto ao do castelo de Edimburgo, onde se ergue uma curiosa edificação cujos pilares que nos remete para os templos gregos ou romanos, mas que vale sobretudo pela fabulosa vista 360º sobre a cidade.

Devido ao adiantado da hora já não foi possivel efectuar qualquer visita, o que nem quer dizer que fosse tarde, apenas simplesmente as principais atracções fecham bastante cedo, entre as 16 e as 17h, o que aliás acaba por ser um constrangimento para quem muito quer ver em pouco tempo.















domingo, 24 de junho de 2018

As origens do totalitarismo (revisitado)

"Poder e violência são opostos; onde um domina absolutamente, o outro está ausente.” (Hannah Arendt)

Um dia alguém me perguntou porque é que nunca escrevia sobre futebol. Respondi quase de imediato que "não me interessava" e que havendo tantos a fazê-lo que mais-valia poderia trazer qualquer coisa escrita por mim sobre que tema fosse.

Desengane-se, contudo, quem achar que a "promessa" estará na prestes da ser quebrada posto que continua a ser um tema cuja margem de dissertação é tão manifestamente desinteressante que, em si mesmo, não vale o esforço de tentar ser inovador sobre o mesmo.

Mas tal não impede que de alguma forma um tema tão recente que ainda não se sabe o tempo que durará, tendo por protagonista principal o presidente de um grande clube de futebol, permita uma divagação sobre a natureza do populismo e demagogia, base comum das raízes do poder absoluto que ao invés de nascer do nada, vai crescendo aos olhos de quem o semeou - os cidadãos - e que num dado momento se descontrola, tornando-se numa forma autoritária de governo que prescinde desses mesmos cidadãos ainda que fazendo crer que os representa a todo o momento.

A receita parece simples de tantas vezes "cozinhada" e assenta em pressupostos comuns que tantas vezes, como agora, nos obrigam a um esforço intelectual para compreender o incompreensível.

1. Os fundamentos

A base do populismo e a demagogia assentam na esmagadora maioria das vezes em contextos sociais e políticos de grande complexidade em que uma larga maioria da população sofre ou vem sofrendo de uma qualquer foram de constrangimento das suas liberdades e direitos, não por via da existência de uma ditadura no sentido mais comum de algo imposto por um ditador, mas sim formas distintas como de liberdade económica e perda de direitos. O desemprego ou a redução de salários ou o aumento do custo de vida são os exemplos mais comuns, mas para que faça sentido a "ponte" com o universo futebolístico o acumular de frustrações em anos sucessivos normalmente associado a um muito fraco desempenho económico do qual resulta uma quase recorrente deriva para o abismo das respetivas contas que só um estado de permanente exceção impede de transformar em falência ou insolvência.

2. A necessidade de culpados: O inimigo comum

Conhecidos os fundamentos o passo seguinte é a definição de um "inimigo" óbvio, aquele a quem não custa apontar o dedo pelos males que, contrariamente ao ditado popular, sempre duram e tendem a perpetuar-se se nada for feito em sentido contrário. A lógica passa a ser o do "contra tudo e contra todos", seja o inimigo externo seja o interno. O culpado versus as vítimas, contra o qual é preciso combater com uma rotura face ao passado, sem que nunca se explique o verdadeiro custo dessa rotura. Não interessa. Sabemos quem são, sabemos ao que nos conduziram, importa assegurar o seu afastamento para sempre. A manipulação atinge o seu auge.

3. A consulta popular 

Uma das maiores falácias dos tempos modernos, é a noção de que grande parte dos regimes ditatoriais foi inicialmente legitimada pelo voto. Esta aparente contradição serviu e ainda serve como presuntiva justificação para o que se seguiu ao escrutínio popular, ignorando que o voto em si mesmo não é em si mesmo a fator de legitimação do que quer que seja, mas a antes a liberdade de voto. De nada serve do ponto de vista democrático uma consulta popular em que a oposição foi totalmente afastada ou aparece como meramente simbólica, senão mesmo "autorizada", para alimentar a farsa que foi sendo construída, qual ilusão de pluralidade.

4. O poder absoluto: Fase 1

Ganho o poder nas urnas os primeiros tempos de governação aparentam quase sempre uma imagem de mudança que a todos parece agradar, com manifestações de políticas a favor do "bem-comum" normalmente associados a alguns resultados imediatos que, em bom rigor, ninguém poderá dizer que são consequência natural da mudança ou algo que provavelmente aconteceria em qualquer dos cenários. Não importa. As pessoas estão agora convencidas que a mudança resultou e há-de continuar a resultar, ignorando que estes primeiros tempos são aqueles em que o novo poder vai tomando conta das instituições, algo que não se faz de um dia para o outro, mas que requer paciência para que não seja muito visível o outro "rosto" da mudança que, afinal de contas, se queria para melhor. 

5. O poder absoluto: Fase 2

Dominado o poder e as instituições há que criar condições para que o poder se perpetue e para isso há que dominar os focos de contestação que aqui e acolá persistem em incomodar os novos senhores. Não interessa se têm 90% de aprovação popular, porque não compreendem nem aceitam os outros 10% (parece familiar?). Viram-se as armas - por vezes reais - contra os desalinhados. Tudo serve para os desmoralizar. Se não é possível prendê-los então que se encham de processos crime, civis, providências passando também pela sua descredibilização publica permanente, com falsas notícias (parece familiar?), passando a ideia de que aquilo que ainda não se conseguiu é culpa de outros e não própria quando, afinal, já nada há a barrar o seu próprio poder e os fins pretendidos.

6. As milícias

Frustradas as tentativas de controlo absoluto o poder entra em modo obsessivo. Julga estar a ser alvo de ataque eminente por forças que apenas o próprio parece conhecer e, pior ainda, muitas vezes apenas imagina, e para se defender reúne-se de uma espécie de força de "elite" disposta a tudo para defender o muro que se foi construindo e que ameaça tornar-se num castelo que apenas visa proteger o soberano deixando de fora quem o elegeu. Nesta altura poderá perguntar-se: o que é que tal tem a ver com futebol? Para que não se pense que a alusão inicial rapidamente foi esquecida então é preciso esclarecer que, neste particular, o "exército" mais à mão são habitualmente as claques (parece familiar? Alcochete?).

7. O poder absoluto: Fase final

Alheado do mundo e incapaz de controlar o seu próprio poder, a agressividade descontrolada toma a forma de luta pela sobrevivência. Os antigos aliados viraram opositores (parece familiar?), os apoios vão caindo, o "general" está cada vez mais isolado e só o que resta das suas tropas, um conjunto violento, a tudo disposto e com pouco ou nada a perder, vai alimentando o seu poder. Todos apelam a um bom-senso que já cessou de existir (parece familiar?), a uma réstia de capacidade de julgamento próprio que o leve a abandonar voluntariamente o poder, enfim, o sentimento inicial de pena vai dando lugar a uma revolta generalizada, cujos meios a ninguém aproveitam, mas normalmente com um triste fim à vista, senão mesmo com data marcada (parece familiar?).

8. A queda

A realidade toma conta do mundo imaginário a que o detentor do poder absoluto se arrogou. A queda é a consequência, quase sempre de forma ultrajante ou mesmo violenta, raramente pelo voto, essa réstia de esperança que se há-de seguir à queda do ditador. Alguns pseudo-seguidores disparam ainda as últimas "balas" de pólvora seca apesar de já nada haver para defender. Nos dias seguintes, qual pessoa prestes a afogar-se, mas que insiste em manter as mãos à tona, aparecerá à distância a insistir na mesma loucura que levou à sua queda. Aos seus inimigos, agora basicamente quase todos, falará de ingratidão (parece familiar?), de ressentimento, não próprio e jamais de arrependimento.

Qual é a verdadeira moral de tudo isto?

O ponto comum entre a ascensão de alguém ao poder e a sua queda são os principais "atores" neste filme de argumento tantas vezes repetido: todos nós. 

O poder não se esgota nestes dois momentos de ascensão e queda. Sobre os cidadãos impende a obrigação quase sagrada de avaliar o carácter de quem se prestam para colocar no poder. Sobre os cidadãos recai a obrigação intransferível de controlo da forma como o poder é exercido para que este não se torne um fardo sobre eles próprios. 

As falsas promessas, os messias de ocasião são, quase sempre, ilusões de uma realidade bem mais complexa que esconde as verdadeiras intenções de quem julga e quer fazer crer que tem as respostas para todos os males, sem olhar a meios para atingir os fins.

Quase sempre o que resta está bem pior do que se encontrava inicialmente e que supostamente deveria ter sido corrigido. E esse é o maior sinal de falência do sistema. É precisamente a incapacidade de perceber que a mudança tem de levar a algo novo, um novo paradigma. A certeza parece, porém, a contrária, uma espécie de "eterno retorno" no sentido da desgraça. Os novos ventos dos EUA, Alemanha, Itália, Holanda, Polónia, Filipinas, Venezuela, etc., ou até ao nível de um presidente de um grande clube de futebol, são talvez o regresso ao ponto inicial do poder absoluto: os seus fundamentos. 

"Government of the people, by the people, for the people, shall not perish from the Earth" (Abraham Lincoln)

terça-feira, 15 de maio de 2018

21 years later: a retrospective

Today, 15 May, it is precisely 21 years since I started my professional activity, but also the first stage of a course which, as a marathon, now reaches its half.

I remember as if today I was the phone call received at home to present me the same day at the offices in an insurance brokerage, sort of a birthday gift that would be fulfilled two days later.

It was not so much the salary that interested was the sense of autonomy and independence that would follow, despite the full future uncertainty that a one-year contract, successively renewed for another 2 of the same period, naturally implied.

From that moment on, it would be far more than any other responsibility for me to give it in professional terms. At that moment, dreams do not fit into the rational dimension of our thinking. The sky is the limit is usually said, but the ground is also the place where the feet, preferably in balance.

We are inundated with new challenges, whether the progressive assimilation but little given to waiting for the new functions and the reality of an act of which nothing previously knew,

- "It is an intermediary between the Insured and the Insurer," I said in the short job interview, a response that had been decorated the day before as if all this was enough to take over the world.

Pure deception certainly but at least enough at that time to convince the new boss.

But this is also the key to a journey that continues to this day, based on some key principles: humility, seeking and sharing knowledge and fighting complacency.

The truth is that we really do not know nor can we all know. You have to be humble to recognize it. Not an overwhelmed humility of those who see in each new challenge an insurmountable barrier or in each colleague a threat.

It is about recognizing our permanent limitations as a tool to overcome them through the second principle, that of seeking and sharing knowledge.

It is easy, too easy, to keep to ourselves what we have learned or someone has taught us and to assume that what has been won for us by our own merit and with the collaboration of others cannot be replicated in a kind of endless chain of all benefit and by dragging the company itself.

- "Lift up your head and look around you. Ask yourself who is better than you," I was told one day.

Knowledge is not unique to the context of the activity that develops. It is also and perhaps even more complex to know the personalities of those around us and, deep down, with whom we can count.

For this, my "trick" was, first of all, they know how to listen. There is a great deal of learning to hear, to interpret words, in a kind of permanent psychological evaluation, not ignoring that this principle would also be valid for others in relation to myself.

That is why nothing better than not giving "tools" (arguments) to others so that our position is questioned.

- "Let others be uncomfortable," heard more recently.

Competence is not always easy to distinguish but incompetence has a life of its own that makes it fully visible even if it does not move or is overlooked.

The world of work is very complex. The relations that are established are almost always tenuous, and often an atmosphere of pretense friendship which tends to collapse like a house of cards at the first blow, revealing all the splendor of cynicism and hypocrisy which competition normally generates.

We must live with this reality by not letting ourselves be influenced by it (or by influencing as little as possible). Time will take care of separating "the wheat from the chaff".

Those who truly care for us are not those we call our friends, they are those who know how to be colleagues, who help us on a day-to-day basis, who make us progress, become better professionals. Do not mix the oil with the water because the chemistry soon imposes itself, determining that the very same is that being able to live in the same dish will never be mixed.

- And yet, I recognize it isn't always easy...

But time passes. Pass quickly on all levels. It makes us different, sometimes indifferent. Initial naivete is just the first chapter of a book that may still go halfway.

In the middle of the time stamp seems to act as an alarm clock that has stopped playing and because of this even sleep tends to linger. It is called complacency, that state of soul that seems to tell us and still more convince us that what is there is enough for us and nothing remains for us to let time pass inexorably.

- What has been achieved is enough to guarantee the future!

Nothing more wrong. The original sin in stable companies. The tree of the knowledge of Good and Evil, from which many feed themselves, and thus condemn themselves.

- "Whoever thinks he has won everything and nothing else to fight will be the first to lose.

Fighting complacency, the sense of false stability is the badly guarded secret of continued business success. I fought against her always. A struggle at times unequal and with a permanent temptation to conform to a kind of inevitability.

The right way to deal with this permanent threat is to think strategically about the company for the future. The past does not guarantee the future. The present is the reflection of the moment. The future is the uncertainty that we must become reality by looking at it with realism and optimism. Especially planning it so the surprise effect is the smallest.

- "The future cannot be guessed, but you can prepare yourself.

However, the summary of the person I am and the professional I became is an immense respect for the Client. He who has reason always moves us every day. For which I celebrate whenever a new contract is celebrated or wept when lost.

There are no large or small customers. There are Customers! People who trust in us an expectation of safety that any insurance must convey will materialize if and when it is needed. The Client was the key to the past, the reason for the present and the guarantee of the future.

- "This is a People business!" I heard from the first moment.

Day-to-day has to materialize and shape this way of being in a company.

I am very grateful to those who have always supported me.
I am in debt to those who taught me.
I am in a clear conscience before anyone who has stepped back from me or even came near.

The marathon is in the middle. Another half will be missing for the goal. It tells me the experience of the races that the most difficult is to come. Problems? No!

- Challenges!

Best wishes!



Would you do the whole thing all over again,
Knowing what you know now, knowing what you knew then?
And I smiled like the old Pumpkin King that I knew,
Then turned and asked softly of me ... "Would not you?"

(The Nightmare Before Christmas)

21 anos depois: uma retrospectiva

Hoje, dia 15 de Maio, faz precisamente 21 anos que coincidentemente iniciei a minha actividade profissional mas igualmente a primeira etapa de um percurso que, qual maratona, atinge agora a sua metade.

Recordo-me como se hoje fosse do telefonema recebido em casa para me apresentar nesse mesmo dia nos escritórios numa corretora de seguros, especie de prenda de aniversário que se cumpriria dois dias depois.

Não era tanto o salário que interessava era a sensação de autonomia e independência que daí adviriam, apesar a total incerteza futura que um contrato a prazo de um ano, sucessivamente renovado por mais 2 de igual período, naturalmente implicavam.

A partir daquele momento seria muito mais de mim do que qualquer outro a responsabilidade do que daí adviesse em termos profissionais. Nesse momento os sonhos não cabem na dimensão racional do nosso pensamento. O céu é o limite costuma dizer-se, mas o chão é também o local onde assentam os pés, de preferência em equilibrio.

Somos inundados de novos desafios, seja a assimilação progressiva mas pouco dada a esperas das novas funções e a realidade de uma actividade da qual nada sabia préviamente,

 - "É um intermediário entre o Segurado e a Seguradora" respondi eu na curta entrevista de emprego, resposta decorada de véspera, como se tudo tal bastasse para dominar o mundo.

Puro engano certamente mas pelo menos o suficiente naquele tempo para convencer o novo patrão.

Mas esta é também a chave de um percurso que se estende até hoje, baseado em alguns principios chave: humildade, procura e partilha do conhecimento e combate à complacência.

A verdade é que realmente não sabemos nem podemos tudo conhecer. Há que ser humilde para o reconhecer. Não uma humildade acabrunhada de quem vê em cada novo desafio uma barreira intransponivel ou em cada colega uma ameaça.

Trata-se de reconhecer as nossas permanentes limitações como ferramenta para as ultrapassar através do segundo principio, o da procura e partilha de conhecimento.

É fácil, demasiado fácil, guardar para nós próprios aquilo que aprendemos ou alguém nos ensinou e partir do pressuposto que o que por nós foi conquistado por mérito próprio e com a colaboração de outros não pode ser replicado numa espécie de encadeamento sem-fim de que todos beneficiam e por arrastamento a própria empresa.

- "Levanta a cabeça e olha à tua volta. Pergunta-te quem é melhor do que tu", disseram-me um dia.

O conhecimento não é exclusivo do contexto da actividade que se desenvolve. É também e porventura ainda mais complexo conhecer as personalidades de quem nos rodeia e, no fundo, com quem podemos contar.

Para isso o meu "truque" foi antes de mais o saber ouvir. Aprende-se muito a ouvir, a interpretar as palavras, numa espécie de avaliação psicológica permanente, mesmo não ignorando que este principio seria também válido dos outros em relação a mim próprio.

Por isso mesmo nada melhor do que não dar "ferramentas" (argumentos) aos outros para que a nossa posição seja questionada.

- "Que sejam os outros a sentir-se desconfortáveis", ouvido mais recentemente.

A competência nem sempre é fácil de distinguir mas a incompetência tem uma vida própria que a torna totalmente visivel ainda que pouco se movimente ou se faça passar despercebida.

O mundo do trabalho é deveras complexo. As relações que se estabelecem são quase sempre ténues, cultivando-se não raras vezes um ambiente de pretensa amizade que tendencialmente ha-de ruir qual castelo de cartas ao primeiro abanão, revelando todo o esplendor do cinismo e hipocrisia, que a competição normalmente gera.

Há que viver com tal realidade não nos deixando influenciar por ela (ou influenciando o menos possível). O tempo encarregar-se-á de separar "o trigo do joio".

Aqueles que verdadeiramente nos importam não são aqueles que reputamos por nossos amigos, são aqueles que sabem ser colegas, que nos ajudam no dia-a-dia, que nos fazem progredir, ser melhores profissionais. Não se misture o azeite com a água porque a quimica logo se impõe, determinando que o melhor mesmo é que podendo conviver no mesmo prato não se hão-de misturar nunca.

- E, no entanto, reconheço quem sempre é fácil....

Mas o tempo passa. Passa depressa a todos os níveis. Torna-nos diferentes, por vezes indiferentes. A ingenuidade inical é apenas o capítulo primeiro de um livro que talvez vá ainda a meio.

Pelo meio a marca do tempo parece funcionar como um despertador que deixou de tocar e por causa disso mesmo o sono tende a prolongar-se. Chama-se complacência, esse estado de alma que parece dizer-nos e mais ainda convencer-nos que o que existe nos basta e nada nos resta do que deixar o tempo passar de forma inexorável.

- O que se conquistou é suficiente para garantir o futuro!

Nada mais errado. O pecado original nas empresas estáveis. A árvore do conhecimento do Bem e do Mal do qual muitos se alimentam igorando que assim se condenam.

- Quem julga tudo ter conquistado e nada mais haver para lutar será o primeiro a perder.

Combater a complacência, a sensação de falsa estabilidade é o segredo mal guardado da continuidade do sucesso nas empresas. Lutei sempre contra ela. Uma luta por vezes desigual e com uma tentação permanente para nos conformarmos com uma espécie de inevitabilidade.

A forma correcta de lidar com esta ameaça permanente é pensar estratégicamente a empresa para o futuro. O passado não garante o futuro. O presente é o reflexo do momento. O futuro é a incerteza que devemos tornar realidade olhando-o com realismo e optimismo. Sobretudo planeando-o para que o efeito surpresa seja o menor.

- O futuro não se adivinha, mas pode preparar-se.

Contudo, o resumo da pessoa que sou e do profissional que me tornei é um imenso respeito pelo Cliente. Aquele que tenha ou não (sempre) razão nos move todos os dias. Pelo qual festejo sempre que um novo contrato é celebrado ou chorado quando perdido.

Não há Clientes grandes ou pequenos. Há Clientes! Pessoas que em nós confiam um expectativa de segurança que qualquer seguro deve transmitir será materializada se e quando for necessária. O Cliente foi a chave do passado, a razão do presente e a garantia do futuro.

- "Este é um negócio de Pessoas!" ouvi desde o primeiro momento.

O dia-a-dia tem de materializar e dar forma a esta maneira de estar numa empresa.

Estou muito grato a quem sempre me apoiou.
Estou em divida perante quem me ensinou.
Estou de consciência tranquila perante quem de mim se afastou ou chegou sequer a aproximar.

A maratona está a meio. Faltará outra metade para a meta. Diz-me a experiência das corridas que o mais difícil está para vir. Problemas? Não!

- Desafios!

Bem hajam.



Would you do the whole thing all over again,
Knowing what you know now, knowing what you knew then?
And he smiled like the old Pumpkin King that I knew,
Then turned and asked softly of me… “Wouldn’t you?”

(The Nightmare Before Christmas)