Embora a Escócia esteja longe de ser um território com uma relação histórica (e até na actualidade) que se diga, sem qualquer hesitação, ser plenamente amistosa com o seu vizinho britânico, a verdade é que boa parte do território escocês está, em certa medida, "colonizado" pela presença inglesa, nomeadamente nas residências da monarca, sejam a titulo oficial - em Edimburgo, no Holyrood Palace - ou na distante casa de férias em Balmoral, precisamente o próximo local de visita.

Tudo parece calmo por ali, o imenso relvado ladeado de árvores centenárias ou às diversas estufas onde se cultiva desde a mais bela flor ao proprio sustento do palácio, tudo impecavelmente tratado por mãos experimentadas.
O palácio, excepção feita a um hall, não é visitável o que em si mesmo não é necessáriamente frustrante por, muito provavelmente, não ser o cenário habitual dos museus mas apenas uma casa habitável e ocasionalmente habitada pela monarca daquelas paragens.
O caminho de volta leva-nos à beira de um rio, tranquilo como tudo o resto, cujas margens são enfeitadas de pedras arredondadas pelo ciclo das águas. Apetece por ali ficar mais tempo, mas o tempo não o permite. Temos as highlands pela frente.

O Cairgnorm National Park é um idilico local montanhoso que é necessário, sem qualquer sacrificio, diga-se, para chegar ao norte da Escócia. Montanhas verdes, aqui e acolá bastante arborizadas, convidam ao trekking para o qual não iamos preparados. Aqui e acolá um lago, não dos tais famosos da Escócia, mas apenas parte do cenário montanhoso, pequenas vilas e até algumas destilarias do mais famoso néctar escocês, o wisky, trilhos de sky encerrados por força das circunstâncias, isto é, por ser Verão e muito certamente abundante vida selvagem que não parece gostar de se dar a ver e ser vista.
É, em fim, o caminho imprescindivel para chegar o destino seguinte, a cidade de Inverness, onde mais se nota uma tendência que se começa a percepcionar com a entrada nas Terras Altas, o predominio do gaélico, uma impronunciável lingua que está para o inglês como o Basco está para o Espanhol, ou seja, nada a ver, mas o exemplo acabado das profundas diferenças culturais entre os dois povos vizinhos, que partilham a mesma raínha, mas com pouco mais em comum.
Inverness é uma pacata cidade, com o rio Ness a criar uma fronteira natural entre as duas margens da cidade, onde, no seu ponto mais alto, se ergue um castelo agora convertido em tribunal e se destacam uma ou outra igreja e a zona velha da cidade, sem tráfego automóvel, onde é possivel passear e melhor ainda beber uma das muitas cervejas locais, quanto mais não seja para reservar o proximo local de dormida, ainda mais a norte.
A opção de seguir caminho até ao extremo norte da Escócia não estava originalmente nos planos, mas a informação recolhida de que nesse local é possivel vislumbrar um dos mais extraordinários eventos da natureza, as auroras boreais, conduziu a essa opção ainda que não fosse certo que o sonho se pudesse converter em realidade por não ser esta a época propricia a tais fenómenos, o que normalmente ocorre a partir do mês de Outubro.
A verdade é que parecia desperdicio estar ali tão perto e não tirar partido dessa (remota) possibilidade, sob pena de arrependimento posterior sem qualquer remédio ou solução.
Fomos aconselhados pelo dono do local onde fizeramos a reserva dessa noite a jantar numa pequena localidade chamada Helmsdale onde supostamente serviriam um excelente prato de fish and chips, uma espécie de "prato-mais-famoso-da-Escócia" consumido praticamente em todo o lado, quase sempre pomposamente como "traditional" ou até mesmo "the best".
Sobre comida importa "gastar" algumas linhas para deixar claro que falar em cozinha tradicional escocesa é uma quase hiperbole, uma vez que as ementas estão longe de ser abundantes em comidas que facilmente apelidariamos de tipicas, e em que essa expressão quer dizer quase sempre Haggis, Fish and Chips, Stuffed Potato, Salmão e pouco mais.

A verdade é que o sugestionado restaurante não desiludiu e de facto as famosas Fish and Chips eram bastante boas, num restaurante verdadeiramente familiar e que, por isso mesmo, fica para a posteridade o seu nome: La Mirage.

Percebe-se a dupla razão para nos aconselharem a por ali jantar é que por ali mesmo a oferta é bem menor e, já se sabe, encerra a cozinha cedo.
O mesmo se podera dizer dos locais onde ficar, por isso foi um verdadeiro achado o local escolhido, situado numa fazendo com 43 acres - no Reino Unido para além da moeda local tudo é diferente do que se passa no Continente, sejam as medidas de distância, de altura, de velocidade, etc. - cuja cons
trução remonta ao século XVIII, mais exatamente de 1753, agora transformada numa espécie de turismo rural, propriedade de uma família, o que tornou a recepção e a manhã do dia seguinte bastante "friendly".

A noite ia já longa. O dia seguinte era de regresso mais a sul e a um lago em particular.
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