domingo, 9 de fevereiro de 2014

Emoldurados

Por circunstâncias diversas (e felizes) que não vêm ao caso tive a oportunidade de, bastante cedo, começar a viajar "por esse mundo fora" e, dessa forma, tomar contacto de forma igualmente precoce com algumas das principais referências da denominada 3ª arte que, para quem não a conheça como tal, é nem mais nem menos a Pintura.

Sendo, porventura, exagerado afirmar que não haverá museu algum de referência representativo desta arte que não tenha ainda visitado é, contudo, totalmente correcta a convicção de já ter percorrido largos kilometros em alguns dos mais prestigiados museus do mundo.

Ora, essa "aventura" em que se transforma o passeio por um tal espaço sempre representou para mim um dos mais estimulantes exercícios de enriquecimento pessoal, consubstanciado numa espécie de "viagem no tempo" pela história da pintura ao longo de um quase labirinto de salas que nos "obrigam" a uma constante rotação de forma a que a passagem de sala em sala não implique deixar para trás algum quadro - grande ou pequeno - que justificasse alguns segundos ou minutos da nossa atenção. 

E, de facto, é precisamente essa a beleza que descubro ao visitar qualquer museu, isto é, a possibilidade de fixar os pequenos ou grandes detalhes de uma obra-prima ou, não sendo considerado como tal, uma qualquer pintura que prende a nossa atenção mais do que as outras por um motivo não necessariamente comum ao que as restantes pessoas possam ter sobre essa mesma pintura.

O que é igualmente fascinante, a meu ver, é a possibilidade de se conhecer também nestes mesmos espaços um pouco da história da própria humanidade, seja através das representações em cada quadro mas também porque estes espaços se encontram quase sempre organizados por épocas o que permite perceber o sentido da evolução da pintura e das referências estilísticas que a justificam em cada momento.

É também aqui que reside a riqueza destes espaços, ou seja, a convicção que nenhum dos seus visitantes tem a mesma percepção sobre cada quadro, pintor ou estilo, como se a história se tivesse encarregado de aleatoriamente a todos agradar sem jamais ser unânime.

Por isso mesmo, qualquer cidade que alberga um tal espaço fá-lo quase sempre com orgulho, consciente que dentro daquelas paredes se "escondem" as suas principais riquezas e uma parte representativa da sua cultura e da sua história, mesmo que os pintores representados não sejam necessariamente locais mas que, dessa forma, passaram a ser uma espécie de seus cidadãos honorários.

Nesta altura quem se tenha dedicado à leitura das linhas precedentes já terá percebido o contexto em que as mesmas são escritas e a meu ver as justificam.

Um país que tem na sua posse autênticos tesouros como aqueles que agora parecem fazer parte de um jogo político mesquinho e que pensa poder deles dispor como se de um qualquer bem móvel transaccionável se tratasse é um país que corre de forma acelerada para a sua própria perda de identidade que nenhum período de crise pode justificar.

Mas ainda que assim o fosse não é menos verdade que a cultura é um pólo fundamental de atractividade de um país, uma espécie de farol que movimenta milhões de pessoas e que justifica que essas mesmas pessoas se desloquem a um determinado país ou cidade para poderem desfrutar - pagando para tal - daquilo que melhor esses locais têm para "oferecer" do ponto de vista cultural.

Talvez por isso mesmo não hesite em afirmar que o prazer que tenho ao contemplar uma obra de arte não é tangível, porque nesse momento não deixa de ser relevante saber quanto paguei para dela poder desfrutar ou quanto terá custado para dela todos podermos usufruir. Assim vão as cousas.

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