domingo, 2 de janeiro de 2011

Back to basics

Zeca Afonso dizia "Só se lembra dos caminhos velhos quem tem saudades da terra".


De um país essencialmente dedicado à agricultura, Portugal passou num muito curto espaço de tempo a depender essencialmente das importações da generalidade dos géneros alimentícios que habitualmente consome, por ter deixado de ser auto-suficiente nos principais produtos que produzia anteriormente.

E porquê? Porque houve uma debandada associada à emigração nos anos 60 e 70 e houve uma “fuga” dos campos para as cidades, deixando os terrenos por cultivar ou por limpar, de onde tem resultado em parte um dos grandes males dos verões, isto é, os incêndios.

A falta de capacidade em produzir o suficiente para consumo próprio associado ao aumento e diversidade do produto vindo de outras regiões – por vezes a preços imbatíveis – proporcionou uma das últimas machadadas no sector agrícola.

Mas não foi este o único factor.

Devemos também recordar que durante largos anos, nomeadamente aqueles imediatamente após a adesão à então CEE, foram adoptadas políticas que não só não incentivavam à produção como promoviam a abstenção dessa mesma produção, através de subsídios dados ao abate de plantações, embarcações e não só.

Ou seja, tornou-se mais rentável não produzir…do que produzir (curiosamente com o alto patrocínio de quem hoje advoga aos “sete ventos” a necessidade de regresso ao mar como um desígnio nacional).

Os últimos anos têm, contudo, levado a uma inversão – lenta – desta “lógica”, essencialmente devido a dois factores bem distintos.

O primeiro resulta do facto de que Portugal para além do Turismo e da qualidade das suas terras pouco mais tem para oferecer em termos futuros, uma vez que a nossa actividade industrial ou o sector dos serviços, está mais do que visto, é manifestamente insignificante para ser atractiva ao investidor estrangeiro e mesmo nacional.

Assim sendo redefiniram-se as prioridades e começou a apostar-se bem e com qualidade em sectores específicos, como sejam os da olivicultura, do vinho e das nossas principais espécies autóctones, para além da já tradicional cortiça.

Esta realidade é hoje incontornável para quem viaje um pouco por todo o país. Onde antigamente havia extensos campos ao abandono vemos agora vastas plantações em regime de latifúndio.

A segunda razão para este “regresso” ao campo é, infelizmente, menos nobre e, julgo que para o bem e para o mal tenderá a acentuar-se no futuro próximo. Falo da necessidade extrema, ou seja, da necessidade pelo aumento dos casos de FOME.

A necessidade – diz-se – aguça o espírito e neste caso ainda fará mais sentido esta convicção.

A capacidade de gerar os próprios proveitos que a terra “dá” não é nova, nem constitui sequer uma invenção. É uma das mais primordiais tarefas do Ser Humano.

Por tudo isto este retorno, ainda que motivado pelos piores dos motivos, poderá levar a uma alteração dos nossos hábitos de vida, dando certamente mais valor àquilo que durante demasiado tempo se negligenciou.

O regresso às origens ou aos “caminhos velhos” de que o Zeca falava será uma necessidade, uma contingência, mas será também uma nova oportunidade. Assim vão as cousas.

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