Exmo. Sr. José Manuel Fernandes,
Sou leitor assíduo do jornal que Vexa. trabalha e no qual já desempenhou funções de direcção.
Tenho, contudo, reparado que Vexa. parece utilizar a coluna de página inteira que lhe está destinado para, semanalmente, fazer passar aquelas que são de forma bastante evidente as suas próprias convicções politicas.
Nem está em causa igualmente o direito à opinião que Vexa. como eu próprio dispomos de livremente expor as nossas opiniões.
Sucede porém que Vexa. não é um cidadão qualquer.
O senhor é um jornalista, com direito a uma coluna de opinião semanal no jornal que dirigiu no passado.
Diz-se (ou dizia-se) que o bom jornalismo é aquele que é por natureza isento.
Ora, constato que as crónicas de Vexa. nada têm de isentas.
Logo Vexa. que há não muito tempo falava em plena Assembleia da República em fenómenos de “constrangimentos” da liberdade informativa pelo actual Governo.
Admitindo que tal possa ser pontualmente verdade, parece-me que Vexa. é o exemplo acabado de alguém que utiliza em seu próprio proveito um espaço de opinião, sem qualquer forma de constrangimento.
Sem constrangimento e, acrescento, sem qualquer hipótese de contraditório.
Neste nosso país à beira-mar plantado sempre faltou o pudor de se assumir publicamente uma linha editorial mais ou menos ligada a um determinado partido.
Bem pelo contrário, invoca-se gratuitamente a independência jornalística para, não raras vezes, se agir de forma precisamente contrária a essa suposta independência.
Seria, portanto, bem mais claro aos olhos das pessoas – como eu – que semanalmente lêem a sua coluna que Vexa. assumisse de forma frontal o seu mais do que manifesto apoio ao actual líder da oposição.
Dessa forma evitar-se-ia sermos confrontados com crónicas que parecem fazer crer que o Dr. Mário Soares passou a ser apoiante do Dr. Pedro Passos Coelho.
De tanto procurar um mesmo objectivo Vexa. perdeu a objectividade.
Recuando um pouco mais no baú das minhas memórias, recordo-me também que Vexa. patrocinou a maior e mais mal explicada tentativa da nossa história contemporânea de colocar dois órgãos de soberania em rota de colisão.
Digo patrocinou porque o jornal que Vexa. dirigia nessa altura foi o veículo necessário para fazer passar a mensagem que o “dono” do Palácio de São Bento estaria a escutar o “dono” do Palácio de Belém.
Ajudou, portanto, a criar uma espécie de guerra palaciana.
Por isso digo e repito que Vexa. não é um cidadão qualquer.
Tudo junto permite dar razão a todos aqueles que entendem que a independência do “seu” jornal durante o seu “reinado” não era mais do que uma força de expressão sem qualquer significado prático perante uma linha editorial marcadamente anti-governamental.
Não julgue Vexa. que entendo que o “seu” jornal deveria enveredar por uma qualquer motivação seguidista. Não.
É igualmente criticável quem de forma indisfarçada pretende fazer-nos ver aquilo que mais ninguém parece ver
Não duvido, pelo sua experiência, que Vexa. ignore o poder que tem em mãos quando escreve os seus monólogos de sexta-feira e por isso mesmo não tenho qualquer sombra de dúvida que os mesmos são conduzidos de forma objectiva e premeditada.
Irei, como até agora, continuar a ser leitor do “seu” jornal, mas lamento informar que a sua última crónica (somadas à quase totalidade das anteriores) afastou irremediavelmente este “seu” leitor.
Ser independente do poder político é ser equidistante a esse mesmo poder. Não é de certeza agir sistematicamente contra ele, mesmo que pouco ou nada se possa dizer em seu abono. Assim vão as cousas.
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