A azáfama típica desse momento leva, normalmente, a uma tentativa - escusada, diga-se - de apressar o regresso, como se o objectivo fosse mais do que nunca regressar a casa, indiferentes a tudo aquilo a que os dias antecedentes haviam proporcionado.
Mas é também o momento do balanço desses mesmos dias, algo que a espera numa qualquer sala de aeroporto proporciona, após os inevitáveis olhares pelas lojas existentes nestes locais procurando uma compra de última hora, rapidamente se percebendo que o custo de qualquer artigo em tais lojas é consideravelmente superior àquele a que teria sido possível adquirir anteriormente o referido artigo mas que, por inconsciente decisão, se optou por diferir para momento posterior à sua compra.
Há, contudo, o outro lado da referida reflexão, o de "olhar" para o que representou a viagem.
Se receios havia antes da mesma, sobretudo devido ao preconceito que normalmente acompanha qualquer viagem para um destino "exótico", rapidamente esses receios foram desaparecendo à medida que se foi percebendo que muito para além de tudo aquilo que evidentemente colide frontalmente com os nossos (pre)conceitos de organização de uma sociedade está um país fascinante, capaz de mudar a nossa perspectiva sobre o referido conceito de sociedade e, nessa medida, tornar-nos pessoas de certa forma diferentes daquela que dias antes havia aterrado em solo indiano.
Um país com um nível de segurança assinalável (independentemente de não ser fácil passear isoladamente nas ruas, mas por motivos totalmente distintos), para o qual não é necessária qualquer vacina previamente à viagem, e onde as pessoas recorrente pedem para tirar connosco fotos ou as selfies da moda, sendo perceptível o gosto com que o fazem tornado impossível recusar tal pedido ainda que não seja perceptível a que título é que o fazem.
Não é o país onde se ouve o som celestial da cítara pelas ruas típico dos programas de viagem ou das pessoas a dançar com uma alegria e ingenuidade inusitada como nos filmes de bollywood.
É o país das pessoas comuns, de uma religiosidade profunda, do minúsculo comércio de sobrevivência, ou como diria o filósofo Epicteto pessoas que suportam a condição humana e inumana cultivando uma forma de indiferença a tudo o que não depende de si próprio.
A publicidade turística indiana anuncia o país como sendo a "Incredible Índia". E é isso mesmo, incrível.

É isto a Índia. A tal "Incredible Índia".
Agora, na hora do regresso, em que o desejo de rever aqueles que nos são mais próximos e voltar à normalidade das nossas vidas parece tornar-se cada vez mais realidade, é tempo olhar para trás e pensar: cumpri o sonho de ver o Taj Mahal, vi o nascer do sol sobre os Himalaias e presenciei o pôr do sol nas águas quentes da Goa "portuguesa".
Cansado? Não. A pergunta seria antes: posso repetir tudo já amanhã?
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