segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Índia - Dia 1 (Nova Dehli)

Imagine-se uma cidade que tem oficialmente 23 milhões de habitantes (não oficialmente serão mais...) e se não for exercício fácil fazê-lo então será, porventura, mais "simples" imaginar uma cidade onde cabe toda a população portuguesa...duas vezes e mais ainda algumas centenas de milhar e então passamos a ter uma (sucinta) imagem do que é Nova Deli.

Por felicidade do destino ou mera coincidência conforme a crença de cada um o dia de hoje corresponde a um feriado nacional indiano, aquele que assinala a data de nascimento do seu fundador e homem da paz, Mahatma Gandhi.

Por isso mesmo as ruas e os muitos parques que existem nesta cidade encontravam-se especialmente repletas de de famílias, visitando as principais atracções turísticas da cidade, em contraponto com o número de viaturas que circulava na estrada que, segundo nos informam, corresponderá apenas a 20% do trânsito "normal".

Deixo a cada um imaginar o que se será num tal dia "normal".

A este propósito é justo dizer que todo o preconceito que haja sobre a forma como se conduz na Índia é perfeitamente justo e adequado.

De facto reina um caos difícil de traduzir em escassas palavras, mais ainda se o referido epíteto for acompanhado por uma convicção de se tratar de um caos "controlado". Explicando melhor: não há acidentes.

Apesar de ninguém, mas literalmente ninguém, respeitar as mais elementares regras de trânsito, não se percebe que entre os milhares de tuk-tuk, motorizadas com duas ou três pessoas (sem capacete e levando quase tudo ao colo), pessoas que atravessam com as famílias inteiras a estrada em qualquer local e, claro, todas as outras viaturas, não se percebe que alguém perca muito tempo a assinar "declarações amigáveis".

A verdade porém é que também não seria justo afirmar que as viaturas estarão imaculadas no seu estado, porque facilmente se conclui que não haverá uma única que não tenha um qualquer sinal de colisão num dado momento da sua "vida".

Segundo se diz, quando o acidente ocorre, os automobilistas encostam as viaturas, o responsável pelos danos pede desculpas, o lesado aceita-as e segue cada um à sua vida. Tudo normal.

Como é que então se conduz por estes lados? É simples: com uma mão no volante e outro na buzina. Sim, buzina-se muito, por tudo e por nada e ninguém parece importar-se muito com isso. 

Normal também, mas chocante aos olhos de um ocidental é a extensa pobreza que se revela a cada passo ao longo das estradas. Famílias inteiras vegetam pelos parques, alguns apenas deitados junto a uma árvore ouros procurado vender algo batendo no vidro do carro.

No fundo o problema é sempre o mesmo, a procura desenfreada da grande cidade à procura de melhores condições de vida colide com a incapacidade dessa mesma "grande cidade" em proporcionar condições de vida e emprego para todos e daí à pobreza é um pequeno passo.

Todo este movimento humano tem, naturalmente, uma implicação imediata na mais do que evidente falta de higiene das ruas, perante uma total indiferença de quem passa.

O "segredo" de quem se aventura por estas paragens é, dessa forma, duplo: predisposição mental para entender esta realidade como natural e não julgar essa mesma realidade à luz dos nossos próprios conceitos. Quem não o fizer...mais vale não vir. 

Por outro lado e de um modo geral os indianos são afáveis e simpatizam bastante com os ocidentais, por isso mesmo é perfeitamente possível - e sucedeu mesmo - que um casal peça para tirar uma foto connosco e a sua família para posteriormente emoldurar e colocar em sua casa, como recordação de um dia em que estiveram com alguém que não conhecem mas que representará qualquer coisa se de importante  para eles próprios.

Da nossa parte não custa (literalmente) nada, e assim se faz a nossa boa acção do dia o que na Índia tem uma relevância transcendental.

Apesar de ser maioritariamente hindu a cidade de Nova Deli (tal como toda a Índia) tem marcas históricas que remetem sobretudo para o Islão, fruto da presença ancestral dos mongóis da cidade, sendo sobretudo relevantes os imponentes mausoléus entre os quais se destaca uma surpreendente réplica do Taj Mahal na cidade de Agra (com direito a dia próprio como não podia deixar de ser).

Desengane-se que espera encontrar riqueza decorativa no seu interior. Não, o interior está reservado para o túmulo (ou túmulos) daquele que escolheu aquele espaço e aquele edifício para o seu repouso eterno.

A beleza está, portanto, no exterior, na imponência dos edifícios, tudo impecavelmente arranjado nomeadamente os jardins, banhado por uma cor ocre, que resulta da combinação perfeita entre um sol que raramente se mostra e uma neblina permanente que transforma uma temperatura um pouco acima dos 30 graus numa sensação térmica consideravelmente superior devido a uma humidade superior a 90%....

Destacam-se ainda a bela estrutura de homenagem aos mortos indianos na guerra, a chamada Porta da Índia, e os imponentes edifícios governamentais, onde à distância (não é possível aproximar-nos) se percebe passearem livremente macacos.

Assim termina o primeiro dia, o jet lag começa a fazer-se sentir e amanhã é dia da primeira das grandes viagens de carro até Jaipur.




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