sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Índia - Dia 13 (Goa)

A opção pela extensão do programa de visita ao território de Goa revelou-se, independentemente do reduzido tempo de estadia, perfeitamente acertada.

Goa é uma zona da Índia absolutamente fascinante, com evidentes disrupções relativamente às restantes zonas visitadas mais a norte.

Mas, sobretudo, o que fica é a imagem da luxuriante vegetação, um povo que extravasa simpatia e com uma abordagem aos estrangeiros que possibilita um maior a vontade para quem passeia na rua, uma qualidade de vida claramente acima da média, bons restaurantes onde é possível, embora de forma não geral e com um custo "inflacionado", comer carne de vaca.

Contudo, aquilo que mais apela a visitar esta terra é a sua ligação histórica a Portugal.

Não tenho a certeza que as actuais novas gerações de goeses tenham noção dessa ligação e a razão pela qual os apelidos tradicionais indianos aqui são substituídos por Nunes, Sousa ou Costa (um sacerdote "lembrou-nos" que o actual primeiro-ministro de Portugal tem ascendência goesa...), e tenho ainda mais dúvidas que as futuras gerações consigam manter viva essa lembrança.

No entanto, tudo o resto esta lá há vários séculos para manter essa recordação dos tempos imemoriais da aventura de Portugal por mares tão distantes.

E essa imagem é, para um português, um motivo de grande orgulho, ao perceber que naquele território há monumentos que são património da humanidade da Unesco, que num país essêncialmenfe hindu ou muçulmano existem diversos espaços onde se erguem no topo cruzes, símbolo da religião cristã por via da influência portuguesa.

Assim, sucessivamente, os nossos caminhos e, diga-se, de bastantes indianos e pessoas de outras nacionalidade, cruzam-se com a magnífica Sé Catedral do século XVII, a basílica do Bom Jesus que remonta ao século XVI sendo a mais importante igreja de Goa, onde descansam os restos mortais de São Francisco Xavier,  ou a igreja de São Francisco de Assis igualmente do século XVII, a capela de Santa Catarina, construída no preciso ano da entrada na cidade de Afonso de Albuquerque e as ruínas da antiga igreja de Santo Agostinho, do início do século XVII, que impressiona pela percepção da monumentalidade que o espaço teria antes do desleixo, o vandalismo e até a decisão de demolição por parte do governo português em meados do século XIX a transformarem num vasto espaço arqueológico digno de ser visitado.

Eis a velha Goa.

É impossível não sentir uma sensação de orgulho profundo pela nossa história. Pela história de um pequeno território - incomensuravelmente mais pequeno do que a Índia - que um dia desbravou mares, cavalgou a ignorância, desafiou os medos, para descobrir e deixar a nossa marca em mundos tão diferentes daquele que nós próprios conhecíamos.

Mas para que não percamos a noção de que os tempos hoje são outros seguiu-se a visita a um dos mais importantes templos hindus dedicados à deusa Shiva, o Shri Manguesh Templo (o tal onde nos foi recordada a ascendência do PM), cujo interior ricamente decorado a prata é incomum pelo seu fausto, acedendo-se ao seu interior, como habitualmente, descalço, tarefa nada fácil tendo em conta o calor esmagador, que escaldava literalmente a planta dos pés.

Em seguida uma visita que se impunha na terra dos chás, uma espécie de jardim botânico onde imperam árvores ancestrais, plantas medicinais e especiarias, com direito a almoço e tudo.

O passeio por Goa terminaria com um fantástica vista sobre o mar e da respectiva costa a que se acede por uma marginal com o nome bem português de Dona Paula, para finalmente desfrutar de um passeio numa das mais frequentadas praias de Goa, a praia Miramar, onde dezenas de pessoas, famílias inteiras, passeavam pelo seu extenso areal.

O dia haveria de terminar com uma excelente amostra da gastronomia goesa, num restaurante junto à praia cujo proprietário apresenta orgulhosamente no cartão de visita o apelido Magalhães. Há dúvidas sobre o significado da nossa presença neste território?

Que outra forma poderia existir para marcar a despedida do maravilhoso país que é a Índia numa Goa cuja portugalidade nos anuncia que o regresso a Portugal está marcado para o dia seguinte, não sem antes aterrar, ainda que por pouco tempo, noutra cidade mítica na história de Portugal: Bombaim, hoje rebaptizada de Mumbai.

Por isso mesmo amanhã escrever-se-á o epílogo desta inolvidável viagem.







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