
Goa é uma zona da Índia absolutamente fascinante, com evidentes disrupções relativamente às restantes zonas visitadas mais a norte.
Mas, sobretudo, o que fica é a imagem da luxuriante vegetação, um povo que extravasa simpatia e com uma abordagem aos estrangeiros que possibilita um maior a vontade para quem passeia na rua, uma qualidade de vida claramente acima da média, bons restaurantes onde é possível, embora de forma não geral e com um custo "inflacionado", comer carne de vaca.
Não tenho a certeza que as actuais novas gerações de goeses tenham noção dessa ligação e a razão pela qual os apelidos tradicionais indianos aqui são substituídos por Nunes, Sousa ou Costa (um sacerdote "lembrou-nos" que o actual primeiro-ministro de Portugal tem ascendência goesa...), e tenho ainda mais dúvidas que as futuras gerações consigam manter viva essa lembrança.
No entanto, tudo o resto esta lá há vários séculos para manter essa recordação dos tempos imemoriais da aventura de Portugal por mares tão distantes.

Assim, sucessivamente, os nossos caminhos e, diga-se, de bastantes indianos e pessoas de outras nacionalidade, cruzam-se com a magnífica Sé Catedral do século XVII, a basílica do Bom Jesus que remonta ao século XVI sendo a mais importante igreja de Goa, onde descansam os restos mortais de São Francisco Xavier, ou a igreja de São Francisco de Assis igualmente do século XVII, a capela de Santa Catarina, construída no preciso ano da entrada na cidade de Afonso de Albuquerque e as ruínas da antiga igreja de Santo Agostinho, do início do século XVII, que impressiona pela percepção da monumentalidade que o espaço teria antes do desleixo, o vandalismo e até a decisão de demolição por parte do governo português em meados do século XIX a transformarem num vasto espaço arqueológico digno de ser visitado.
É impossível não sentir uma sensação de orgulho profundo pela nossa história. Pela história de um pequeno território - incomensuravelmente mais pequeno do que a Índia - que um dia desbravou mares, cavalgou a ignorância, desafiou os medos, para descobrir e deixar a nossa marca em mundos tão diferentes daquele que nós próprios conhecíamos.
Mas para que não percamos a noção de que os tempos hoje são outros seguiu-se a visita a um dos mais importantes templos hindus dedicados à deusa Shiva, o Shri Manguesh Templo (o tal onde nos foi recordada a ascendência do PM), cujo interior ricamente decorado a prata é incomum pelo seu fausto, acedendo-se ao seu interior, como habitualmente, descalço, tarefa nada fácil tendo em conta o calor esmagador, que escaldava literalmente a planta dos pés.
Em seguida uma visita que se impunha na terra dos chás, uma espécie de jardim botânico onde imperam árvores ancestrais, plantas medicinais e especiarias, com direito a almoço e tudo.
O passeio por Goa terminaria com um fantástica vista sobre o mar e da respectiva costa a que se acede por uma marginal com o nome bem português de Dona Paula, para finalmente desfrutar de um passeio numa das mais frequentadas praias de Goa, a praia Miramar, onde dezenas de pessoas, famílias inteiras, passeavam pelo seu extenso areal.

Que outra forma poderia existir para marcar a despedida do maravilhoso país que é a Índia numa Goa cuja portugalidade nos anuncia que o regresso a Portugal está marcado para o dia seguinte, não sem antes aterrar, ainda que por pouco tempo, noutra cidade mítica na história de Portugal: Bombaim, hoje rebaptizada de Mumbai.
Por isso mesmo amanhã escrever-se-á o epílogo desta inolvidável viagem.
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