domingo, 26 de abril de 2020

Diários de uma pandemia - 6ª semana

Muito se tem falado sobre as possíveis consequências ao nível psicológico devido ao tempo (excessivo) em isolamento social. Não sendo psicólogo de formação mas muito atento aos temas da psicologia dos comportamentos entendo que a questão faz todo o sentido, porque se baseia num pressuposto que é conhecido e reconhecido: o ser humano é por natureza social. Baseia as suas relações num contexto de comunidade. Não se trata de ter ou não um perfil numa rede social. É, antes de mais, perceber que a maioria de nós necessita do contacto com outros.

A questão é que isso, nos tempos que correm, não só não é aconselhável, como pode nem ser possível. O estado de emergência e o encerramento de grande parte de tudo aquilo que fazia parte das nossas rotinas criou uma disrupção abrupta para a qual não estávamos preparados, e mesmo que estivéssemos minimamente alertados para o que se poderia seguir, não há "treino" que resista ao perfeito desconhecido e ao avolumar de números dantescos de mortes e infetados, de novos desempregados, da necessidade de libertar presos, do aumento da violência doméstica que agora não se vê apenas se sente, dos idosos em lares que indefesos sucumbem ao vírus.

Não descobri e por isso não venho aqui anunciar a "cura" ou a solução para este problema, só posso ditar aquilo que me parece ser a opção "smart" ao longo destas semanas: manter as rotinas e criar pequenos planos por exemplo para o fim-de-semana.

Manter as rotinas significa reduzir o efeito de disrupção. Se normalmente entramos ao trabalho às 9h então que assim continue, se vamos entregar o euro milhões à terça-feira (ou noutro dia qualquer) então que se mantenha esse habito. Que se mantenham os contactos com os Clientes, as Seguradoras, os amigos a quem sempre se ligou (para não ser coisa de ocasião), os telefonemas à família que deixou de nos poder visitar (ou vice-versa), mas também aproveitar para ajudar - nem que seja apenas partilhando o assunto - nos temas de trabalho que invariavelmente acabam por ser partilhados de uma forma como nunca o foram no passado.

Ao final do dia vem o estudo da ultima disciplina do MBA que prolonga o dia de trabalho até perto da meia-noite quase todos os dias, logo a seguir ao jantar. Manter rotinas. Nada de novo. Igual ao anteriormente.

Se estas são as rotinas "boas" para a nossa sanidade mental, então que se alimente essa sanidade quebrando sempre que possível essas rotinas. Se não podemos planear para onde viajar, então que se planeie o que comer no fim-de-semana e que nos apetece afinal tanto, porque normalmente o fazíamos num qualquer restaurante. Ver um filme é o substituto do cinema agora fechado. Mas o melhor de tudo é mesmo planear o que iremos fazer depois da "tempestade" passar. Que viagens faremos? A que restaurantes iremos regressar? Pensar positivo ajuda a afastar todo a carga negativa do contexto.

A verdade é que as semanas parecem passar a correr, muito mais do que nos tempos de trabalho "normal". Não sei explicar o porquê? Será porque afinal se trabalha mais? Será porque se perde um pouco a noção dos dias? Tornou-se um pouco indiferente se estamos numa terça-feira ou sexta-feira. Deixou de haver motivos para resmungar com as segundas-feiras. Mas não podemos desesperar porque o fim-de-semana não será assim tão diferente dos restantes dias. O "segredo" é tentar mante-lo diferente.

Por aqui as rotinas são quebradas sobretudo ao fim-de-semana comendo uma boa da "carocolada" que agora voltou em força, ou mantendo hábitos de algum exercício físico, seja nas aulas de ginástica quase diárias da X. e da C. ou de uma corridas de curta duração nas redondezas, tornando aqueles 3,5kms uma prova de longa duração, a que nem o J. desta vez deixou de se associar.

Este mesmo regresso à escrita também é parte dessa nova rotina que nos mantém ocupados mentalmente e nos distrai de toda a informação negativa que invariavelmente as televisões passam a todo o momento ou até mesmo observar o desfilar de gatos e pássaros que todos os dias nos "visitam" por saberem que lhes daremos de comer, apesar de não termos qualquer retorno de empatia dos próprios nem que seja para uma pequena festinha na cabeça como se fosse a forma de nos agradecerem.

Temos de procurar fazer o bem, aos outros e a nós próprios. Melhores dias virão e anuncia-se a abertura progressiva, mas repleta de receios, da economia a partir de Maio, afinal de conta, esta foi a semana em que Portugal começou a ganhar a sua liberdade em 1974.

Neste dia 26 de Abril haviam 23864 casos registados e 903 óbitos.







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