domingo, 12 de abril de 2020

Diários de uma pandemia - 4ª semana

Vivemos tempos muito estranhos. Nada de novo, já o eram antes da pandemia, só se tornaram mais evidentes depois da dita. As pessoas deixaram de circular na rua, não se cumprimentam, não se encontram, tudo em prol da saúde pública. 

Resta saber como será depois de tudo isto passar isto no pressuposto mais assente numa esperança do que numa realidade prática que me leve a achar que o fim - no bom sentido, entenda-se - está próximo. Sejamos, pois, prudentes, que a coisa está para durar e já se fala, com elevada probabilidade tendo em conta quem o diz, que o estado de emergência nunca deixará de o ser antes do mês de Maio.

Esta semana é também aquela que acarreta pessoalmente uma maior carga simbólica, pois seria aquela onde parte dos planos para este ano se começariam a materializar, especialmente no que diz respeito ao ambicioso - e agora um mero sonho - de efectuar algumas viagens em família, um dos hobbies que mais apreciamos e mais gostamos de, sempre que possível, realizar.

Senão veja-se, desde logo em Abril, nesta mesma semana, deveríamos estar a caminho do Dubai para participar no Abu Dhabi World Youth Jiu-Jitsu Championship, desejo antigo da C. e de nós próprios, e com viagem até já reservada e paga e posteriormente cancelada, obrigado agora à penosa tarefa de pelo menos reaver o dinheiro, para que o prejuízo financeiro não se some ao prejuízo lúdico.

Seguidamente iríamos visitar um fim-de-semana a famosa Feria de Abril, em Sevilha, local no qual por coincidência e em trabalho havia estado no ano anterior e que despertou uma curiosidade suficientemente grande para ir lá de propósito para apreciar aquele ambiente festivo, colorido e bem bebido, sem os exageros da Oktoberfest de Munich.

Se o 25 de Abril seria em Sevilha já o ambicioso plano passava no 1º de Maio por ir 3 dias a Londres, aproveitando ao máximo o tempo disponível para ver tanto em tão pouco tempo, também cumprindo um desejo dos jovens ao qual nós claramente não nos opusemos, pois Londres será sempre Londres.

No mês seguinte seria um momento igualmente especial quando algures em meados desse mesmo mês iríamos a Washington receber das mãos do grande Jack Welch o certificado do diploma de MBA começado precisamente três anos antes, num momento muito especial na minha vida (tão especial que não cabe neste texto) e que culminará nesse mês. Contudo, este evento parecia já ensombrado por uma aura pouco propícia que, para quem nisso acredita, antecipava coisa pouco boa.

Desde logo a perspectiva de podermos passar o dia 13, dia de anos do meu pai, em Washington esfumou-se quando se percebeu que os meus sogros já haviam agendado uma viagem para essa mesma altura (entretanto também ela não confirmada, fruto das circunstâncias) pelo que alguém teria de ficar em casa a cuidar dos jovens. O segundo revés foi a notícia surgida durante o mês de Março do falecimento do próprio Jack Welch, com 84 anos, embora não relacionada com a pandemia que actualmente mata nos EUA mais do que em qualquer outro local no mundo.

O epílogo desta história triste foi o inevitável adiamento do evento para o Outono. Veremos se sim. Esperemos que sim.

Por cá os tempos correm com esta estranha normalidade. O trabalho segue o seu curso há medida que se percebe que muito antes de melhorar ainda há-de piorar, nomeadamente para as empresas, quem nelas trabalha o que necessariamente irá afectar a nossa própria operação, muito ligada ao crescimento ou retracção do mercado.

Em tudo o resto discute-se se a escola há-de recomeçar e de que forma, tendo as decisões tomadas, surpreendentemente do agrado de todos, dependente do evoluir da pandemia que permitirá ou o regresso faseado dos alunos que tinham previsto a realização de exames finais, particularmente relevante para o J. empenhado no acesso à universidade ao curso que escolheu.

Compreensivelmente a C. está mais impaciente. É menos dada a contemplações e por isso houve necessidade de dar espaço à criatividade oferecendo-lhe tudo aquilo que precisa para pintar, entenda-se o quadro, os pincéis e as tintas. O resultado promete. Eu não faria melhor. Eu nunca fiz melhor.

O tempo está como o vírus, não se percebe para onde vai. Tanto chove copiosamente como faz sol. O sol é a nossa praia e aproveita-se para o gozar, em que até os gatos parecem saborear esta estranha liberdade precária e também deu para assar uns frangos no churrasco, aproveitando o tempo favorável no fim-de-semana.

Desportivamente a X. e a C. vão alinhando nos treinos agendados pelo PT da empresa em formato digital tendo eu optado por começar a saltar à corda, até perceber rapidamente que me estava a dar cabo dos calcanhares de Aquiles, tornando evidente que se é para me magoar mais vale nada fazer. Não foi exemplarmente o caso pois voltei a dar umas pequenas corridas nas redondezas, breves 3 kms de desporto ou melhor ainda, 20 minutos de comprazimento ao ar livre. O regresso aos treinos de Jiu-Jitsu por parte do J. e da C. é, para já, uma miragem que facilmente se confunde com uma esperança.

Neste último dia da semana é também aquele em que os meus pais fazem 50 anos de casados. Infelizmente a distância e a necessidade de confinamento ainda mais agravado no período da Páscoa impediram uma reunião familiar todos juntos, como pertence. A opção mais "simples" e sobretudo mais atual foi o recurso às "novas tecnologias", juntando virtualmente o que o vírus insiste em distanciar (algo diferente de separar). Espera-se que daqui a um ano tudo isto seja apenas uma recordação distante de um tempo muito próximo. 

No final dessa semana, dia 12 de Abril, haviam 16585 casos confirmados e 504 óbitos.















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