Poderia achar-se que o famoso provérbio se aplica indistintamente da causa mas verdade é que a segunda semana chegou sem perspectivas optimistas quanto ao possível fim do confinamento social e menos ainda quanto à eventual redução da proliferação do vírus.
De Espanha e de Itália chegam todos os dias notícias impensáveis há 1 mês atrás para quem, como nós, vivia um momento de algum fulgor económico, boas perspetivas futuras mesmo que alguns arautos da desgraça anunciassem a mais do que previsível chegada de uma recessão, embora certamente os próprios estivessem longe de adivinhar que uma bactéria seria muito mais letal e rápida do que a usual ganância do homem que, de tempos a tempos, gera outro tipo de pandemias, de natureza financeira, quando se percebe que toda o sistema se alimenta muito mais de especulação do que de razão.
Os meus fundos de investimento que cresciam à ordem de uns galopantes 23% caiam agora a pique, não tendo sido pior o desastre porque no momento da declaração de pandemia pela OMS tive a decisão ajuizada de resgatar todos os fundos ainda positivos, recolhendo as possíveis mais-valias, deixando os restantes a aguardar melhores dias que, já se sabe, haverão de chegar.
Esta semana começa com uma espécie de sentimentos mistos, por um lado percebe-se claramente que as pessoas começaram a assimilar a "nova rotina", bastante visível no crescimento do volume de trabalho, seja através de e-mails ou de chamadas telefónicas o que pelo menos permite perceber que o mundo não parou e os negócios continuam a mexer. Por outro lado também passou a ser perceptivel que muitos desses negócios caminham a passo acelerado para um destino incerto, face aos problemas de tesouraria das empresas a quem, de um momento para o outro, deixaram de ter clientes e passaram a somar despesas.
Sucedem-se as medidas do governo, da UE, do BCE, do FMI, de tudo o que movimenta dinheiro no mundo, sobrando para mais tarde perceber quem e de que forma os Estados, ou seja, todos nós, iremos pagar a factura das maquinas de fazer dinheiro trabalharem agora imunes ao vírus. Em particular o lay-off passou a fazer parte do léxico comum o que naturalmente de uma forma ou de outra acabará por ter um crescente impacto no negócio da corretagem, pior ainda se se perpetuar no tempo.
Tirando isso mantivemos as boas práticas do regime de recolhimento, assegurando as mesmas rotinas de um qualquer dia normal de trabalho, que começa invariavelmente por volta das 9h da manhã, interrompe-se para a hora de almoço, recomeça das 14 horas e irá findar, às 18h da tarde. É importante manter tais rotinas não apenas para a nossa paz de espírito, eliminar falsas imagens de "férias prolongadas" e assegurar a normalidade possível aos Clientes, talvez mais do que nunca confiantes de que o seu parceiro corretor habitual não deixará de o apoiar nesta altura particularmente complexa.
O tempo lá fora está como o vírus, incerto. Tanto chove como faz sol. Se faz sol então o café a seguir ao almoço é tomado no jardim em frente à casa, com o sol pela cara, pequeno assomo de liberdade perdida, sem no entanto violar qualquer regra de confinamento.
Como em qualquer crise, particularmente esta que desaconselha deslocações, haverá sempre que tenha a arte e o engenho de adaptar a sua actividade às circunstâncias e, fazendo parte de uma comunidade relativamente pequena e de tendência rural onde (quase) todos se conhecem, tratámos de aproveitar o facto de os fornecedores habituais de carne, frutas e legumes fazerem serviço take-away, outra palavra que, mesmo já existindo passou a fazer parte do léxico comum, para nos abastecermos para os próximos dias, tendo constatado que sendo as encomendas tantas já não conseguem dar vazão a tantos pedidos, pelo que não foi de estranhar que num caso tivesse sido um táxi a fazer a entrega e noutro tivéssemos nós próprios de ir buscar ao local a encomenda de carne.
De resto a opção foi por ir aos supermercados do costume ao sábado de manhã para evitar filas, bem visíveis à distância devido ao condicionamento do numero de pessoas permitidas ao mesmo tempo no interior do estabelecimento, levando a que a dita fila se forme no exterior, com um espaçamento de pelo menos 1 metro, havendo quem use mascara e quem não a utilize, tema controverso até na "comunidade cientifica".
Ao ver esse cuidado das pessoas em assegurar a distancia entre uns e outros não posso deixar de me lembrar de certos filmes apocalípticos, onde impera sobretudo o medo. Veremos o que sobrará desse medo quando tudo finalmente passar.

Entretanto o J. começou a ocupar o tempo a fazer um puzzle de 2000 peças que supostamente deveria entretê-lo no mínimo durante 2 semanas mas que, talvez por uma questão genética, o próprio tratou de acabar numa única semana. Digo genética porque eu era precisamente igual. Desconfio que quando terminar a pandemia teremos de arranjar um espaço suplementar para arrumar os puzzles.
As redes sociais são, por esta altura, o foco onde tudo se passa, seja nas remas de mensagens via wattsup ou equivalente, onde pelo menos não faltam sinais da infindável imaginação do ser humano, desde logo motivadas por um estranho fenómeno que levou milhares de pessoas a colocarem a aquisição de papel higiénico à frente de outros bens essenciais, fenómeno esse que espero um dia venha a ser devidamente estudado e enquadrado do ponto de vista sociologico.

Mas se nessas mesmas redes sociais cai um volume considerável de informação útil e válida e até de entretenimento, também não é menos verdade que rapidamente se transformou numa espécie de pandemia paralela, onde a desinformação e as famosas "fake news" são recorrentes, umas fruto da ignorância de quem as veicula, outras manifestamente o resultado da mente perversa de quem, nestas alturas, pretende obter um ganho qualquer, mais ou menos evidente, seja ele politico ou meramente de causar alarme social.

Por isso mesmo e para bem da minha sanidade mental comecei voluntariamente a ocultar todas as notícias falsas ou de incentivo ao ódio colocando ao mesmo tempo os amigos que replicam tais mensagens, sejam eles mais ou menos chegados, numa quarentena virtual forçada de 30 dias, até lhes passarem os "sintomas".
O bom tempo de fim-de-semana permitiu o usufruto do quintal ou jardim, fazendo uso do barbeque e da possibilidade que nem todos têm de almoçar ao ar livre, ao som dos pássaros que, por esta altura e na falta do som dos carros e dos humanos, se fazem ouvir maravilhosamente.
No final dessa semana, dia 29 de Março, haviam 5962 casos confirmados e 119 óbitos.
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