domingo, 19 de abril de 2020

Diários de uma pandemia - 5ª semana

Faz esta semana precisamente um mês que fomos colocados em regime de tele-trabalho face ao agravar da situação e sobretudo aos receios do eventual impacto na operação da empresa no caso de um ou mais colegas ficarem infectados.

E se desde o primeiro momento a nossa missão era clara já a forma como podemos, individualmente, contribuir para diminuir as consequências do problema não é tão exacta, sendo que por um lado sentimos que contribuímos com o nosso isolamento e mantendo a empresa a funcionar o que já não é pouco, mas por outro pensamos sempre em que medida podemos fazer mais.

Da nossa parte a opção foi então de manter os compromissos que tínhamos antes com que sempre nos apoiou e que, por via da interrupção da actividade normal, se viram forçados interromper de todo essa mesma actividade, deixando de prestar o serviço habitual, seja a Academia de Jiu-Jitsu ou o ATL, os quais prontamente informaram que não iriam cobrar a mensalidade.


É aqui se coloca a questão da solidariedade e onde podemos de facto ajudar, pelo que sem excepção decidimos na primeira hora não aceitar tal disponibilidade, mantendo o pagamento das mensalidades tal como sucederia se nada se passasse de anormal nas nossas vidas. É este o contributo que podemos dar sem sair de casa, isto é, ajudar quem mais precisa a sobreviver a esta fase sem esperar nada em troca mais tarde. O mesmo se diga, claro está, ao assegurar o pagamento do salário da empregada doméstica, também ele suspenso, mas também o de dar preferência aos comerciantes do antes que queremos sejam os do depois.

A vida corre, pois, sem grandes sobressaltos. O estado de emergência foi prolongado até ao inicio do mês de Maio o que significa que estes diários semanais vão ter continuidade por mais algum tempo.

O tempo tem estado incerto onde não faltou uma granizada valente que temi pudesse destruir a minha produção de ameixas, logo agora que parecem destinadas a ser colhidas em bom numero este ano. Não foi o caso felizmente, embora tenham deixado algumas marcas.

O J. terminou mais um puzzle de 1500 peças na semana em que retomaram as aulas, sem que se perceba muito bem o que é que restará deste ano lectivo, em particular daqueles que estão em vias de ingressar na universidade. Falar-se no regresso presencial durante o mês de Maio. Veremos.

Também em Maio está previsto o retomar de uma certa "normalidade" na economia talvez mais por se perceber que corremos sérios riscos de não morrer da doença mas ficar definitivamente paralisados com os cuidados primários, posto que a cura não parece chegar tão cedo.

À falta de uma máquina de cortar relva a X. e a C. puseram mãos à obra e fizeram uma espécie de corte de cabelo à pastagem à custa de bolhas nas mãos. O fim-de-semana serviu também para matar saudades de um prato típico do norte, a francesinha, encomendado lá está no comerciante onde habitualmente vamos beber o café ao fim-de-semana.

Em vésperas de semana comemorativa do 25 de Abril há que pensar nos seu princípios, desde logo a solidariedade que este mundo cada vez mais individualista e exposto a populismos grotescos parece potenciar, sem que se perceba bem onde poderá acabar. Talvez seja como a musica cantada na voz do Chico Buarque "andamos a carregar pedras para construir tenebrosas catedrais".

Neste dia 19 de Abril haviam 20.206 casos registados e 714 óbitos.





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