terça-feira, 7 de abril de 2020

Diários de uma pandemia - 3ª semana

Se alguma expectativa houvesse sobre a possibilidade do atual estado de coisas se resolver em 15 dias, rapidamente se percebeu que, bem pelo contrário, a confinamento está reservado para um tempo indeterminado e nem se diga que as notícias que se vão ouvindo permita perceber que, tal como diz a famosa expressão também aqui já se vê "uma luz ao fundo do túnel".

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Por volta das 12 horas passou a haver uma espécie de novela contemporânea onde a directora da Direcção Geral de Saúde e a Ministra da Saúde, ou o seu ministro adjunto, nos colocam a par dos mais recentes números que mesmo não sendo ao nível da catástrofe que se vai vivendo noutros países, não deixa de ser alarmante.

O trabalho vai correndo no dia-a-dia dentro de uma estranha normalidade a que até pode parecer mas não nos conseguimos habituar e ajuda a colocar as coisas em perspectiva e, mesmo que trabalhar a partir de casa implique também algum acréscimo de qualidade de vida a verdade é que facilmente se compreende que provavelmente até podemos aceitar regressar ao stress do dia-a-dia uma vez que esta nova qualidade de vida acarreta uma incerteza futura demasiado pesada para podermos achar que é preferível à certeza dos dias anteriores à pandemia.

As comunicações entre a equipa são todas por escrito com raras excepções, uma vez por semana, em que agendamos uma reunião por zoom, que invariavelmente corre para uns em pleno, para outros sem imagem e, por fim para outros sem uma coisa e outra, mas pelo menos dá para perceber que lá vamos estando animados, embora não se fale propriamente de trabalho.

As escolas encerradas há duas semanas estão agora oficialmente suspensas por férias da Páscoa sem certezas sobre a sua reabertura futura e sem certezas qual a forma de ensinar e cumprir o período final do ano lectivo. Se até aqui ainda tinham uma ocupação diária agora nem isso e por isso tendem a resignar-se às suas próprias rotinas ao computador ou ao telemóvel, dado que não parecem haver grandes condições para efectuar treinos de Jiu-Jitsu ainda que Mestre António Neto tenha ensaiado um treino virtual via Zoom que não se revelou efectivo, apesar da boa vontade do J. e da C. em estarem equipado a rigor à hora agendada para o dito treino.

As compras necessárias voltaram a ser feitas na manhã de sábado, aproveitando o menor fluxo de pessoas. Acompanhando as boas recomendações só um de nós fica na fila e o outro aguarda no carro, se bem que nem o tempo parece disposto a dar algum alento pois ao sol dos dias anteriores sobrou uma chuva intensa que ditou o adiamento de mais uma "churrascada", desta vez de frango convenientemente adquirido nesse dia para esse mesmo propósito.

Lamentavelmente não foram essas condições atmosféricas que obstaram a poder tratar do jardim, cuja relva cresce a olhos vistos uma vez que por coincidência do destino a máquina de cortar resolveu avariar ao fim de 14 anos de uso, pelo as boas intenções de tratar de alguns temas sucessivamente adiados se ficou pela limpeza do quintal enquanto se fazem planos de substituir algumas árvores por duas árvores de fruto. Talvez o resultado mental do confinamento leve a pensar meios de subsistência de cultivo próprio.

Infelizmente não poderei fazer com a relva o que fiz com o cabelo uma semana antes e cortar a direito com a máquina em pente curto, rezando para que também ela não avariasse e de um momento para o outro ficasse com um corte típico de alguém com um problema mental grave.

No final dessa semana, dia 5 de Abril, haviam 11279 casos confirmados e 295 óbitos.

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