No filme “Melancolia” de
Lars von Trier as personagens do drama familiar que aí se desenrola são
confrontadas com a colisão eminente de um planeta – cujo nome corresponde ao
título do filme – com o planeta Terra.
Não sendo meu propósito efectuar qualquer crítica cinematográfica à referida película nem tão-pouco remeter para profecias atribuídas a civilizações desaparecidas, interessa-me, antes de mais, extrair do mesmo duas “licções” que são possíveis tirar e, partir de então, dar o mote para a presente dissertação.
A primeira “licção” é a da nossa própria significância perante um evento de natureza literalmente esmagadora ou como é corrente dizer-se, de proporções bíblicas.
No fundo – e esta percepção é muito nítida no filme – a nossa capacidade de reacção a um tal fenómeno é totalmente nula, pelo que a única possibilidade viável que restaria é aceitação de um facto consumado e aguardar o momento da nossa própria extinção, que em tais circunstâncias passaria a ter data e hora marcada.
A segunda “licção” resulta do facto do final do filme ser previamente anunciado no seu início, isto é, o espectador conhece desde o primeiro momento que o destino da Terra é aquele e não será qualquer outro, mesmo que ao longo dos seus 136 minutos de duração possa “esperar” e, sobretudo, "desejar" outro final para um planeta que, afinal de contas é aquele em que vivemos, não se conhecendo outro com condições para tal.
Como qualquer licção que se preze também estas têm um ensinamento incluso que remete precisamente para o espírito com que conduzirei seguidamente as próximas linhas.
O primeiro ensinamento resulta da convicção pessoal que de certa forma o Planeta Terra vive em termos reais com uma situação cuja analogia à componente catastrófica do filme “Melancolia” é por demais evidente.
Este pequeno Planeta é,
em bom rigor, uma "aberração cósmica, pela nada despiciente circunstância
de não se conhecer ainda qualquer outro que tenha sequer condições aproximadas
para a criação e desenvolvimento de condições de vida.
Ora, tal só acontece
porque esta pequena bola se encontra situada no único ponto do Universo
(conhecido) em que essas condições seriam possíveis face ao posicionamento do
Sol, tendo em conta a inclinação do planeta, do qual resulta que nem é
suficientemente quente nem suficientemente frio para impedir a vida humana.
Em qualquer outro local
estas condições por e simplesmente não existem.
Daqui resulta uma
elevada fragilidade às “ameaças externas” que podem não assumir a forma de
planeta como no filme mas podem resultar – como já sucedeu no passado – do
impacto de outro tipo de objectos “espaciais”, nomeadamente meteoritos ou até
da violência menos conhecida acção da exposição aos raios solares dos quais se
conhece unicamente a “parte bonita” em forma de aurora boreal.
Em função da sua
dimensão e imprevisibilidade a nossa capacidade de defesa a tais ameaças poderá
não ser diferente da verificada no filme e, nesse caso, as consequências serão
certamente as mesmas.
Mas se existem as
referidas “ameaças externas” não é menos verdade que também podemos falar de
verdadeiras ameaças internas (propositadamente sem aspas) e este é, desta
forma, o fio condutor do segundo ensinamento.
Mais do que os factores
externos que possam constituir uma séria ameaça, é precisamente com os factores
internos que necessitamos, cada vez com mais sentido de urgência, de nos
preocupar.
Sinal disso mesmo e o
facto de, ciclicamente, alguns Estados e Organizações se encontrarem em
reuniões de dimensão global para falar de temas relacionados com a
sustentabilidade do meio-ambiente, redução da emissão de poluentes, diminuição
do chamado “efeito-estufa”, etc.
Contudo, não obstante
esta manifestação de preocupação – que se presume séria – por um tema de
importância vital, quase sempre estes encontros redundam em acordos de
princípio que, mesmo assumindo a forma de compromisso comum, raramente vinculam
de forma inequívoca ou sequer penaliza, aqueles que precisamente mais
contribuem para o motivo que está subjacente a tais reuniões.
Por isso mesmo o
ambiente passa por ser um tema permanentemente adiado o que não significa outra
coisa que o problema se vai agravando.
Ou seja, parecemos andar
todos um pouco a desejar – mais do que procurar – encontrar um final feliz para
uma História relativamente à qual, e tal como filme “Melancolia”, todos nós já
conhecemos previamente qual será o respectivo final, apenas não queremos é
reconhece-lo e se de facto queremos evitá-lo. Assim vão as cousas.
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