Recentemente, logo pela manhã, ouvia uma noticia na rádio sobre uma idosa de 94 anos descoberta morta em casa após 9 anos, período durante o qual ninguém se terá preocupado em saber do seu paradeiro.
À hora de almoço, na televisão, a senhora afinal "tinha" 87 anos (eram de facto 94 anos) e parece que sempre tinha havido gente que, ao longo dos ditos 9 anos, tinha de facto tentado entrar em casa da senhora mas infelizmente, já todos o sabemos, sem sucesso. Comprova-se que para entrar em casa de alguém sem autorização não há melhor do que a nossa máquina fiscal.
Não querendo nesta dissertação abordar em concreto a infeliz história desta senhora, retenho sobretudo a forma como a opinião das pessoas é condicionada pela forma mais ou menos criteriosa com que as notícias são transmitidas.
No exemplo que ocupa o inicio deste texto somos confrontados com uma sensação de raiva pela desumana familia da falecida para, mais tarde e depois de melhor conhecidos os factos, virarmos a nossa atenção para as falhas do sistema. E porquê? Porque a nossa capacidade de julgar está directamente ligada à forma como nos colocam no papel de receptor das notícias.
Temos assistido a outras situações de natureza semelhante. Lembro-me por exemplo do casal McCann. De país extremosos a pais desnaturados, bastou uma viragem da bússola noticiosa.
Damos por nós a tomar posição de desagravo ou o seu contrário em processos dos quais nada conhecemos ou sobre pessoas das quais nunca ouviramos falar, como se fossemos os seus confidentes de longa data.
O poder da notícia é este: o de dirigir as massas num sentido ou no outro. Mas este é também o seu maior desafio, pois este poder é potencialmente demasiado esmagador para ser controlado.
A vulgarização dos canais noticiosos (na rádio, televisão, etc) alargou o espectro unívoco da forma como a informação nos era anteriormente transmitida. Mas esta "democracia" tem os seus perígos, sendo o maior deles o de vulgarizar a propría notícia.
Atente-se, por exemplo, no que sucede no tratamento que é dado à informação que passa diáriamente em oráculo nas televisões, normalmente repleta de erros ortográficos grosseiros e propositadamente simplificada para proporcionar uma leitura imediata ao espectador.
Só o rigor e o profissionalismo poderão contrariar estes modelos noticiosos feitos à medida para uma sociedade que cada vez mais vive e pensa ao ritmo e estilo de um sms. É necessário obrigar as pessoas a reconhecerem a necessidade própria de tomarem consciência da natureza das posições que assumem.
Não representa nenhum estágio de evolução passar de uma sociedade de ignorantes para uma sociedade de néscios. É que bem vistas as coisas pelo menos a primeira das duas tem desculpa. Assim vão as cousas.
domingo, 20 de fevereiro de 2011
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