domingo, 13 de fevereiro de 2011

Job wanted

Porque é que há uma taxa de desemprego tão elevada em Portugal? Certamente que a resposta mais evidente será aquela que relaciona este preocupante facto à crise internacional e às pouco prolificas politicas governamentais em resposta a essa mesma crise.

Mas a resposta não será assim evidente, nem simplesmente justificável à luz do turbilhão em que vive a Europa (e os EUA) desde o ano 2009.

Portugal era, até ao 25 de Abril de 1974, um país que vivia essencialmente da agricultura, fundalmentamente numa perspectiva de consumo próprio, isto é, sem ambições de expansão. O abandono dos campos e a consequente fuga para as grandes cidades, aliado ao fim dos grandes grupos económicos ligados às familias dominantes anteriores à revolução, levou ao exodo de muitos portugueses para paragens mais distantes, à procura de uma melhor sorte.

O país perdeu nesse altura muita da sua mão-de-obra, embora grande parte dela não pudesse de forma alguma ser caracterizada como especializada. O regresso de muitos portugueses provenientes das ex-colónias apenas permitiu amenizar a carestia de mão-de-obra capaz para trabalhar em sectores emergentes num país até então estagnado. 

A mudança para outros sectores em franco e acentuado crescimento, nomeadamente da construção civil e serviços, possibilitou a manutenção durante vários anos de uma economia de pleno emprego.

O "boom" da construção dos anos 80 levou à necessidade da alteração de um certo paradigma, ou seja, Portugal passou de um país de onde se emigrava para um país acolhedor de emigração, nomeadamente proveniente da Europa de Leste e do Brasil.

É aqui que entendo se começa a desenhar parte dos problemas que hoje vivemos. Essencialmente o português, apesar do seu nivel médio de formação se situar abaixo dos seus novos parceiros europeus, aumentou significativamente o seu nivel de exigência, abandonando as principais fontes de emprego existentes, as quais ficaram precisamente vagas para as novas vagas de emigrantes recém-chegadas ao nosso país.

Contudo, o referido aumento de expectativas não foi acompanhado por um aumento das competências próprias nem tão pouco da capacidade de inovar, criando dessa forma um fosso de competitividade entre as nossas empresas e das principais economias europeias.

O problema é que em momentos de crise esta divergência acentua-se, sendo particularmente gravosa para as economias menos competitivas, como é infelizmente o nosso caso. Assim, não é de estranhar que muitas empresas tenham sucumbido ou se tenham procurado adaptar à nova realidade começando por adaptar as respectivas estruturas de recursos humanos, isto é, despedindo.

Mas é também por aqui que se avalia a nossa maior ou menor capacidade de resistência. Despedir será a mais "fácil" das medidas, o problema é que tudo o resto fica por fazer, ou seja, a modernização das empresas, a formação de quadros qualificados e a rotura com uma certa cultura de subsidio-dependência do Estado, também ele cada vez mais incapaz de responder às suas responsabilidades mais essenciais.

É portanto mais do que certo afirmar que muitas empresas portuguesas estarão hoje nos "cuidados intensivos", e que boa parte delas não aguentará uma segunda "vaga" desta crise. Resta-nos esperar que as demais, o Estado mas sobretudo os portugueses tenham dela sabido retirar as necessárias ilações. Assim vão as cousas.





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