Uma semana depois do
último escrutínio popular ocorrido em Portugal tendo por pano de fundo as
denominadas eleições autárquicas, nas quais o PSD "registou enquanto tal uma derrota eleitoral
nacional." (Pedro Passos Coelho dixit)
surgem cada vez mais vozes - umas com mais rosto do que outras - a
"exigir" um Congresso Nacional Extraordinário (CNE).
Parece-me,
pois, oportuno expressar a minha opinião sobre esta espécie de concílios
partidários que, por vezes e de acordo com esta
mesma nomenclatura marcadamente eclesiástica, assumem a forma de
conclaves.
Retenho
a este propósito uma expressão utilizada em seu tempo por um ex-professor de
Ciência Politica, o Dr. Fernando Seara (curiosamente um dos grandes derrotados
da noite eleitoral) que, a propósito destes congressos, dizia que os mesmos já
se encontravam decididos mesmo antes de começarem.
Confesso
que, desde então, não consigo afastar esta expressão da minha cabeça cada vez
que "olho" para um qualquer Congresso partidário, seja ele ordinário
ou extraordinário.
No
essencial e sem que alguma vez tenha tido a possibilidade de participar em tal
evento - algo que dificilmente alguma vez virá a suceder - a verdade é que
parece tratar-se de um exercício de puro masoquismo aquele que os
congressistas se submetem durante as habituais 48 horas do evento, com os
"trabalhos" a começarem normalmente cedo e a terminarem quase sempre
"noite dentro".
Mas o
que sucede, afinal, durante este período de especial "agitação"
partidária?
Aparentemente
tudo mas, em termos práticos, nada.
Aquilo
que parece suceder são verdadeiras maratonas de discursos que a história
-com raríssimas excepções - jamais lembrará, em que os oradores
inscritos falam para uma plateia que invariavelmente os aplaudirá, com mais ou
menos entusiasmo.
De
resto e de congresso para congresso aquilo que parece mesmo mudar é o
respectivo pano de fundo e, naturalmente, os oradores.
Ora,
sobre aquilo que não há nada a dizer torna-se dificil aos jornalistas - e são
normalmente muitos - exercer o respectivo trabalho, o que vale por dizer
"arranjar" matéria que justifique uma "entrada em directo"
ou um mero tema de conversa.
Por
isso mesmo o interesse jornalístico tende a recair sobretudo
sobre aqueles oradores que, de alguma forma, quebram uma espécie de unanimidade
que tende a instalar-se nos Congressos e decide fazer o chamado discurso
"polémico" que, também ele, será aplaudido mesmo que seja efectuado
em manifesto antagonismo com os seus precedentes e os seus subsequentes.
Mas a
atenção recai normalmente também sobre um ou outro congressista que, saindo do
anonimato - inclusive dentro do seu próprio partido - se destaca
dos demais, não necessariamente pelo conteúdo do seu discurso ou do
carácter inovador das suas ideias, mas pela forma "pouco ortodoxa"
com que as exprime perante os seus correlegionários.
Tirando
isso resta, quase sempre, esperar pelo discurso inicial e pelo discurso final
do líder partidário, que pode até nem ser o mesmo caso o Congresso se
destine - como por vezes acontece - a eleger um novo líder.
Mas
também aqui é raro haver surpresas em linha, aliás, com o que afirmava o Dr. Fernando
Seara.
É que
ou essa eleição já está decidida por ter sido precedida de
um escrutínio distrital do partido ou a disparidade de forças entre o
candidato favorito e os demais é tão evidente que o acto eleitoral em si mesmo
não é mais do que um mero exercício de legitimação da liderança com
uma oposição interna meramente aparente.
Terminado o Congresso o
partido que o promoveu alude ao sucesso do mesmo e ao "profundo debate de
ideias" que dele resultou ao mesmo tempo que os convidados dos outros
partidos remetem quase sempre para o seu oposto, isto é, a "falta de ideias".
Arrumam-se as mesas e as
cadeiras e tudo aquilo que por ali se passou será igualmente
"arrumado", condenado a um inexorável esquecimento. Venha,
portanto, o próximo porque nestas coisas dos Congressos o que
os políticos verdadeiramente gostam é de se ouvir a eles próprios.
Assim vão as cousas.
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