Na
(quase) interminável saga do improvável herói da escritora J.K. Rowling - o
feiticeiro Harry Potter - quando os jovens estudantes das artes de feitiçaria
se referiam ao principal vilão do enredo nunca o faziam pelo seu próprio nome,
com receio dos males que daí adviriam para os próprios ao evoca-lo.
Ora,
esta forma de abordar um assunto quase tabu é, no essencial, uma forma de
diplomacia, uma vez que revela um uso formal de um determinado tom com o
objectivo claro de não causar danos colaterais ou uma situação de evidente
incómodo para as partes directamente envolvidas.
Por
isso mesmo, não me resta outra possibilidade que não seja de utilizar este
mesmo expediente para, através das linhas seguintes, abordar um tema “na ordem
do dia”, socorrendo-me precisamente das mesmas “ferramentas” que os jovens feiticeiros
utilizavam para não causaram prejuízos a eles próprios.
Falo,
em concreto, de um determinado país africano que
não deve ser nomeado que
decidiu unilateralmente e sem uma justificação compreensível pela generalidade
das pessoas suspender a “parceria estratégica” com Portugal.
Ao fazê lo
dessa forma criou uma evidente situação de mau estar nos seus parceiros – pelo
menos até essa data – e, como não podia deixar de ser, “alimentou” uma série de
suspeitas sobre a verdadeira natureza de uma tal decisão, a qual não pode
deixar de se considerar como gravosa para os interesses de Portugal numa altura
em que o investimento estrangeiro é um dos motores da estratégia de recuperação
da nossa economia.
Tais
rumores surgem essencialmente em resultado de uma determinada posição assumida
pelo ministro dos negócios estrangeiros português durante uma visita ao país que nós sabemos que gerou uma “onda” de reacções por
parte dos partidos da oposição mas igualmente por parte da própria
magistratura, fruto da convicção que tal posição não apenas configurava uma
evidente submissão da soberania portuguesa mas, sobretudo, uma intromissão
grave do poder politico na esfera do seu poder “gémeo”, isto é, o poder
judicial, em clara violação do principio da separação de poderes.
Na base
do referido pedido de desculpas estará então – ao que parece – umas
investigações em curso em Portugal sobre personalidades ligadas ao governo do
país cujo nome não deve ser
pronunciado e que, pela
proximidade às cúpulas de poder e em função do interesse “estratégico” de ambos
os países deveriam, aparentemente, beneficiar de uma presuntiva imunidade.
Sucede,
porém, que as sociedades democráticas não funcionam bem assim e, por isso
mesmo, percebe-se que estes valores são facilmente confundíveis em países como aquele que nós sabemos, onde
vigora para todos os efeitos um sistema que apenas na aparência é democrático,
dominado por uma espécie de nepotismo de vocês
sabem quem.
Este
domínio tem vindo aliás e de forma progressiva a estender-se – qual polvo -
para dentro de outros países (incluindo, naturalmente, Portugal), sob a força
incontornável do respectivo poderio financeiro e das suas riquezas naturais,
ainda que dessa força não resulte a nível interno uma qualquer melhoria do seu
próprio bem-estar social mas, pelo contrário, o agravamento da distância entre
essa mesma riqueza e o desenvolvimento humano, efeito aliás comum em regimes de
natureza ditatorial.
No
fundo as relações diplomáticas entre os Estados de matriz democrática e quaisquer
outros sem essa mesma “configuração” parecem assentar numa espécie de lógica
dos “três macacos”, isto é, aqueles – para quem não sabe – que não vêm, não
ouvem e não falam.
A
questão é que a ausência de sentidos não altera a realidade.
O que
essa realidade nos demonstra é que, pelos vistos, uma das partes da suposta
parceria “estratégica” teria muito mais a perder do que a outra e, por isso
mesmo, estará disposta a tudo fazer para evitar o seu fim, nem que para isso
tenha de abdicar dos seus mais elementares princípios de soberania. Assim vão
as cousas.
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