Quando visitei o Brasil pela primeira vez no inicio dos anos 80, nomeadamente a cidade do Rio de Janeiro, ignorava - fruto da minha "tenra idade" - que, nessa mesma altura, este imenso território, "descoberto" pelos portugueses mas colonizado por outras potências mundiais ao longo dos séculos e até à independência em 7 de Setembro de 1822, se encontrava num processo de transição de um regime ditatorial militarista para uma sociedade de matriz democrática.
Por isso mesmo, ignorava igualmente que um dos países com maiores condições naturais do mundo para ser considerado uma potência económica mundial vivia, nessa mesma altura, uma situação de intervenção externa por parte do FMI, que impunha regras denominadas de "ortodoxia económica", ou seja, a habitual receita desta instituição internacional para "ajudar" um qualquer Estado necessitado a sair de uma crise financeira.
A situação económica do Brasil - necessariamente demasiado complexa para tão breves linhas - resumia-se a uma total estagnação económica, com níveis de inflação elevadíssimos (hiperinflação), fruto de uma política económica que, basicamente, suportava a dívida externa com recurso à emissão forçada de moeda, aumentado a dívida pública interna.
Não faltaram, nessa ocasião, planos económicos - normalmente titulados pelo nome do seu "criador" - que, sucessivamente, haveriam de fracassar, determinando que a década de 80 tenha ficado conhecida como a "década perdida" ao nível económico, do crescimento e do desenvolvimento.
A juntar a este "cenário" havia igualmente uma situação social absolutamente confrangedora onde, por exemplo, menos de 15% das crianças frequentavam a escola e onde a pobreza era, para muitos, a face visível de um país e as suas "famosas" favelas (e a violência que lhes é associada) a imagem-tipo de uma cidade brasileira.
Com o fim da ditadura, precisamente no final da referida década, o país entrou num processo de estabilidade política que, simbolicamente, haveria de levar ao poder, num tempo mais recente, um dos principais rostos da luta popular no período da ditadura e do movimento dos "sem-terra", o presidente Lula da Silva.
Voltando ao presente e mais consciente do "mundo que me rodeia", detenho-me a meditar sobre o motivo pelo qual o mesmo país descrito nas linhas anteriores e que se tornou em poucos anos na sétima maior potência mundial - com perspectivas de crescimento nesta "hierarquia" - atravessa actualmente uma profunda crise social, com sucessivas manifestações de protesto de rua, independentemente daquela que seja a perspectiva de cada um relativamente à natureza dos protestos por parte alguns dos manifestantes.
É este mesmo país que desenvolveu uma industria pujante nos principais sectores tecnológicos, incluindo a engenharia aeroespacial, que é líder na produção de biocombustível e que se pode orgulhar de ser praticamente auto-suficiente no domínio das suas necessidades petrolíferas sendo ainda um dos lideres mundiais na produção energética.
Mas então, somados estes vectores a muitos outros (por exemplo na agricultura e no turismo), como justificar a actual situação social?
A razão é, aparentemente, uma só, a mesma que propositadamente omiti na breve análise à situação do Brasil nos anos 80 como na actual situação e que se reconduz, antes como agora, a uma situação de generalizada corrupção, nomeadamente no sector político, essa "doença" invisível que, afectando tanto corruptor como corrompido, não aparenta ter "cura" pelo simples facto de que dela muitos beneficiam e, por isso mesmo, poucos dela se queixam .
Contudo, algo mais mudou na sociedade brasileira.
É que, neste último quarto de século, verificou-se igualmente uma redução substancial do índice de pobreza e de analfabetismo de grande parte dos seus cidadãos, ficando, dessa forma, claramente demonstrado que só uma sociedade consciente dos seus direitos se encontra em condições de exigir uma sociedade com menos desigualdade e sobretudo mais transparente. E esta é também uma lição para os restantes países, incluindo Portugal. Assim vão as cousas.
É este mesmo país que desenvolveu uma industria pujante nos principais sectores tecnológicos, incluindo a engenharia aeroespacial, que é líder na produção de biocombustível e que se pode orgulhar de ser praticamente auto-suficiente no domínio das suas necessidades petrolíferas sendo ainda um dos lideres mundiais na produção energética.
Mas então, somados estes vectores a muitos outros (por exemplo na agricultura e no turismo), como justificar a actual situação social?
A razão é, aparentemente, uma só, a mesma que propositadamente omiti na breve análise à situação do Brasil nos anos 80 como na actual situação e que se reconduz, antes como agora, a uma situação de generalizada corrupção, nomeadamente no sector político, essa "doença" invisível que, afectando tanto corruptor como corrompido, não aparenta ter "cura" pelo simples facto de que dela muitos beneficiam e, por isso mesmo, poucos dela se queixam .
Contudo, algo mais mudou na sociedade brasileira.
É que, neste último quarto de século, verificou-se igualmente uma redução substancial do índice de pobreza e de analfabetismo de grande parte dos seus cidadãos, ficando, dessa forma, claramente demonstrado que só uma sociedade consciente dos seus direitos se encontra em condições de exigir uma sociedade com menos desigualdade e sobretudo mais transparente. E esta é também uma lição para os restantes países, incluindo Portugal. Assim vão as cousas.
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