Na passada quinta-feira, os EUA recordaram, uma vez mais, as vitimas do atentado do 11 de Setembro, no qual perderam a vida cerca de 3000 pessoas, em nome de um ódio presumivelmente religioso, mas com raízes profundamente (des)humanas.
Este macabro aniversário ocorre precisamente numa semana em que os "tambores de guerra" voltaram a fazer-se ouvir com a ameaça de uma intervenção em território Sírio como resposta a uma ofensiva a todos os títulos cobarde sobre cidadãos inocentes com recurso a armas químicas, da qual resultaria uma provável reacção em cadeia por parte de grupos extremistas, para além da incerteza da reacção dos indefectíveis aliados do regime Sírio, nomeadamente a Rússia, a China e o Irão.
Creio, de acordo com a minha interpretação, que é possível extrair diversas conclusões - de certa forma ligadas entre si - sobre tudo aquilo que se tem vindo a "assistir" à volta de um foco de instabilidade sobre a paz mundial que parece não ter fim à vista.
A primeira grande conclusão é que, aparentemente, as mais de 100000 vitimas mortais que já tinham sido registadas anteriormente ao ataque com as armas químicas - que se estima tenham vitimado cerca de 1300 pessoas - e os quase 2000000 de refugiados não terão sido, por si só, motivo bastante para uma reacção internacional, como se houvesse uma espécie de "guerra ética" que distingue a forma "adequada" de morrer num conflito armado.
A segunda conclusão - e que resulta necessariamente da primeira - é a constatação da paralisia da comunidade internacional e, em particular, do Conselho de Segurança das Nações Unidas para agir em tempo e de forma concertada a qualquer novo conflito, situação que beneficia em grande medida os regimes beligerantes que se "aproveitam" da incapacidade dos presumíveis defensores da paz para manter vivo o seu esforço de guerra.
Seguindo o alinhamento de conclusões que é possível extrair do conflito na Síria - embora pudesse ser noutra qualquer geografia - é que parte desse mesmo conflito é precisamente "alimentado" pelos referidos "guardiões da paz" que - de um lado e de outro - vão financiando - uns e outros - com os meios necessários à sua tenebrosa subsistência.
Talvez por isso mesmo - e está é, também, uma conclusão possível - o mundo voltou a "assistir" a um reacender da "lógica" de diálogo de surdos entre as grandes potências mundiais, fazendo lembrar os tristemente célebres tempos da "guerra fria", como se tudo se reconduzisse a uma esgrima entre dois interesses permanentemente distintos, antagónicos e inconciliáveis.
Mas foi por aqui mesmo - nova conclusão - que aquilo que parecia inevitável, isto é, uma intervenção armada do "mundo ocidental" na Síria se tornou - pelo menos por agora - numa inevitabilidade adiada, sob o "manto" protector da diplomacia, com a conivência - pelo menos aparente - do próprio regime Sírio.
As eventuais incertezas sobre a verdadeira origem do ataque químico e as suspeitas de envolvimento dos terroristas da Al-Qaeda no terreno ao lado dos rebeldes terão "pairado" - é possível concluir - sobre a soma dos interesses em conflito.
No meio de tudo isto fica a certeza (também ela uma conclusão) que, como sempre acontece nestas circunstâncias, a mera probabilidade de conflito determina imediatamente o crescimento do preço do barril de petróleo, em beneficio daqueles que parecem sempre ser os verdadeiros vencedores de qualquer conflito sem, contudo, terem tido a necessidade de disparar um único tiro.
Para o final fica a conclusão que o mundo de hoje reage de forma perfeitamente distinta aos habituais "tiques" belicistas dos EUA e dos seus principais aliados, mas também que o "gigante russo" está novamente vivo, ao contrário de uma América e de um Presidente Obama que (pelos visto) não perceberam os custos reais para o seu próprio país das intervenções recentes no Iraque e no Afeganistão.
No meio de tudo isto ficam necessariamente os milhares de inocentes que diariamente "alimentam" as estatísticas da guerra e que, a cada dia que passa, parecem ver as suas esperanças diminuir, seja pela força das armas, seja pela incapacidade da diplomacia. Assim vão as cousas.
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