Nota prévia ao que se há-de
seguir: não nutro qualquer espécie de simpatia pelo sindicalista Mário Nogueira
que, no essencial, entendo representar a vertente mais politizada do
sindicalismo, confundindo demasiadas vezes a justiça da luta de qualquer classe
de trabalhadores pelos seus direitos com a luta a favor de uma causa de
natureza meramente partidária.
Dito isto, não alinho
com a ideia que o exercício do legitimo direito à greve deve ser limitado em
função dos prejuízos que essa mesma greve causa para terceiros que, via de
regra, não se encontram envolvidos na luta pelas mesmas causas.
Qualquer greve, independentemente
das suas motivações e maior ou menor fundamento, tem sempre como objectivo
causar uma perturbação do normal funcionamento de qualquer serviço levando,
dessa forma, o poder político a rever o seu posicionamento relativamente a uma
determinada classe e em particular ao motivo propulsionador dessa mesma greve.
Este principio é valido
em Portugal ou em qualquer outro local do mundo, nomeadamente em países onde funcione
um regime de natureza democrática no qual, por definição, o direito à greve se
encontra devidamente consagrado com força constitucional.
Acontece que, no caso
vertente dos professores, apenas é concebivel que aqueles que são directamente
afectados sejam precisamente os alunos e, apenas e forma indirecta, os pais e
encarregados de educação.
Assim sendo, o
"discurso" de retórica que normalmente acompanha as afirmações de
quem aceita o direito à greve mas que se opõe aos efeitos da mesma sobre os
alunos, apenas o fará por mera conveniência política para não dizer mesmo de
pura demagogia, como por exemplo a patética tentativa de Passos Coelho de fazer
com que a greve fosse adiada para o dia da futura greve geral.
O resto é a
"história" do costume, resultado de um discurso de intransigência
bilateral que, mais do que aproximar as partes, as afasta irremediavelmente,
tornando inevitável a acção grevista e, por arrastamento, as suas
consequências.
O que é também
particularmente recorrente é o esgrimir do verdadeiro impacto de qualquer greve
o que, no caso vertente, determinou a circunstancia de ambos os lados
"cantarem" vitoria.
Os professores dirão que
90% dos seus pares aderiram à greve, remetendo para segundo plano o impacto
directo que tal facto teve no número real de exames por realizar.
O Governo dirá, por seu
turno, que 70% dos alunos fizeram os testes, procurando diminuir a relevância
da significativa adesão à greve por parte dos professores.
De acordo com a minha
interpretação, contudo, creio que, no imediato, todos perderam.
Os alunos porque não
puderam, em número significativo, fazer o exame em condições de igualdade e
equidade com os demais.
Os professores porque
aos olhos de parte a população passaram a imagem de insenbilidade social, à luz
da convicção que a defesa dos seus interesses prejudicou os presuntivos
direitos dos alunos.
O ministro Nuno Crato
perdeu porque "comprou" uma guerra com uma classe com
um forte pendor corporativo, guerra essa que o próprio Nuno Crato e que
nunca esteve em condições de vencer por manifesta intransigência negocial, tal
como sucedeu, aliás, anos antes com a ex-ministra María de Lurdes Rodrigues.
Mais cedo ou mais tarde
Nuno Crato sairá do Governo, vergado pela necessidade de encontrar um novo
interlocutor que, mais do que dividir, possa criar pontes de entendimento e
novas formas de dialogo, isto é, precisamente aquilo que nenhuma das partes
teve, nesta circunstancia, vontade de construir. Assim vão as cousas.
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