domingo, 23 de junho de 2013

Exame final

Nota prévia ao que se há-de seguir: não nutro qualquer espécie de simpatia pelo sindicalista Mário Nogueira que, no essencial, entendo representar a vertente mais politizada do sindicalismo, confundindo demasiadas vezes a justiça da luta de qualquer classe de trabalhadores pelos seus direitos com a luta a favor de uma causa de natureza meramente partidária.

Dito isto, não alinho com a ideia que o exercício do legitimo direito à greve deve ser limitado em função dos prejuízos que essa mesma greve causa para terceiros que, via de regra, não se encontram envolvidos na luta pelas mesmas causas.

Qualquer greve, independentemente das suas motivações e maior ou menor fundamento, tem sempre como objectivo causar uma perturbação do normal funcionamento de qualquer serviço levando, dessa forma, o poder político a rever o seu posicionamento relativamente a uma determinada classe e em particular ao motivo propulsionador dessa mesma greve.

Este principio é valido em Portugal ou em qualquer outro local do mundo, nomeadamente em países onde funcione um regime de natureza democrática no qual, por definição, o direito à greve se encontra devidamente consagrado com força constitucional.

Acontece que, no caso vertente dos professores, apenas é concebivel que aqueles que são directamente afectados sejam precisamente os alunos e, apenas e forma indirecta, os pais e encarregados de educação.

Assim sendo, o "discurso" de retórica que normalmente acompanha as afirmações de quem aceita o direito à greve mas que se opõe aos efeitos da mesma sobre os alunos, apenas o fará por mera conveniência política para não dizer mesmo de pura demagogia, como por exemplo a patética tentativa de Passos Coelho de fazer com que a greve fosse adiada para o dia da futura greve geral.

O resto é a "história" do costume, resultado de um discurso de intransigência bilateral que, mais do que aproximar as partes, as afasta irremediavelmente, tornando inevitável a acção grevista e, por arrastamento, as suas consequências.

O que é também particularmente recorrente é o esgrimir do verdadeiro impacto de qualquer greve o que, no caso vertente, determinou a circunstancia de ambos os lados "cantarem" vitoria.

Os professores dirão que 90% dos seus pares aderiram à greve, remetendo para segundo plano o impacto directo que tal facto teve no número real de exames por realizar.

O Governo dirá, por seu turno, que 70% dos alunos fizeram os testes, procurando diminuir a relevância da significativa adesão à greve por parte dos professores.

De acordo com a minha interpretação, contudo, creio que, no imediato, todos perderam.

Os alunos porque não puderam, em número significativo, fazer o exame em condições de igualdade e equidade com os demais.

Os professores porque aos olhos de parte a população passaram a imagem de insenbilidade social, à luz da convicção que a defesa dos seus interesses prejudicou os presuntivos direitos dos alunos.

O ministro Nuno Crato perdeu porque "comprou" uma guerra com uma classe com um forte pendor corporativo, guerra essa que o próprio Nuno Crato e que nunca esteve em condições de vencer por manifesta intransigência negocial, tal como sucedeu, aliás, anos antes com a ex-ministra María de Lurdes Rodrigues.

Mais cedo ou mais tarde Nuno Crato sairá do Governo, vergado pela necessidade de encontrar um novo interlocutor que, mais do que dividir, possa criar pontes de entendimento e novas formas de dialogo, isto é, precisamente aquilo que nenhuma das partes teve, nesta circunstancia, vontade de construir. Assim vão as cousas.

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