domingo, 16 de junho de 2013

Encruzilhada

Há algum tempo atrás um amigo meu colocou-me a questão de como é que eu me imaginava daqui a 20 anos.

A resposta a esta questão levou-me a uma reflexão pessoal que se esconde por detrás de uma tal questão, aparentemente tão simples na sua formulação.

A complexidade da mesma não se prende com a reconhecida impossibilidade de recurso a quaisquer dotes de adivinhação ou mesmo a qualquer espécie de falta de convicção quanto às perspectivas pessoais para um tão largo espectro temporal. 

O problema é que esse período de tempo tem igualmente implicações que se reflectem noutros e não apenas em mim próprio.

De acordo com a minha percepção da vida, todos nós começamos a morrer quando aqueles que nos rodeiam morrem de facto.

É como se uma parte de nós deixasse de existir, pelo simples facto de não podermos partilhar qualquer novo momento da nossa vida com essa mesma pessoa.

Esta é, claro está, a inexorável realidade com que todo e qualquer ser vivo se confronta desde o início dos tempos e o Homem, apesar de uma imensa capacidade de se superar, não foi ainda tão longe ao ponto de criar para si próprio o dom da imortalidade.

Ora se esta é a provável realidade com que cada um de nós se depara até chegar ao momento presente, essa mesma realidade acentua-se de forma dramática a partir de determinado momento, com a aproximação da etapa das nossas vidas em que, num misto de felicidade e profunda tristeza, alguns daqueles que mais amamos realizam alguns dos seus sonhos (porventura coincidentes com os nossos), mas também aquela em que outros por quem nutrimos esse mesmos sentimento nos “abandonam” para sempre.

E isso é particularmente evidente, de acordo com uma certa ordem natural das coisas (que a Natureza “insiste” por vezes em desrespeitar), relativamente àqueles de quem descendemos ou dos nossos amigos, de quem não imaginamos nunca a possibilidade de nos separar fisicamente, independentemente das distâncias que por vezes nos separam (também elas cada vez maiores).

Esta inevitabilidade é precisamente aquela que configura a minha incapacidade pessoal de lidar com tal perspectiva, de forma racional.

Por isso mesmo, quando o meu amigo me pergunta como me imagino daqui a 20 anos, a minha resposta, tão consciente como por mero impulso, foi “Não. Não quero imaginar.” Assim vão as cousas.

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