Em tempos não muito distantes mas não
suficientemente para ser esquecido, o imaginário português foi “invadido” por
uma expressão que imediatamente a associava aos movimentos de emigração de
portugueses nos anos 60 e parte da década seguinte.
Nessa altura, seguimos os passos de uma
emigrante que haveria de fazer carreira em França mas que, anos antes, saíra do
país levando unicamente consigo uma mala de cartão, a tal expressão que
marcaria toda uma geração de pessoas que procuravam para si e para as suas
famílias um futuro melhor “fora de portas”.
O enquadramento social em que tal
movimento de desenrolou é, hoje em dia, sobejamente conhecido e amplamente
estudado quer do ponto de vista sociológico quer do ponto de vista histórico,
face ao distanciamento temporal que estas coisas das épocas habitualmente
requerem, e remete para um país essencialmente rural, com reduzidos índices de
alfabetização e, sobretudo, submerso num regime de natureza ditatorial.
O objectivo das pessoas que então
abandonaram o país era, claramente, o de procurar melhores condições de vida
para si e para as respectivas famílias para além de, naturalmente, igualmente
fugir a uma guerra da “autoria” do regime de então.
As consequências demográficas dessa
“razia” foram, como não podia deixar de ser, o progressivo abandono do interior
do país – aliado à migração para as grandes cidades – e o envelhecimento
precoce do país, não apenas fruto da emigração mas igualmente em resultado da
morte precoce de muitos jovens na referida guerra.
Os anos 80 e seguintes “assistiram” a
uma inversão deste movimento, não necessariamente pelo regresso dos emigrantes
mas pela alteração dos pressupostos do modelo de sociedade que, de um momento
para o outro, transitou entre um país “exportador” de cidadãos para um
território propenso a receber cidadãos de outras paragens, fruto da escassez de
mão-de-obra para fazer face ao crescimento acentuado que imergiu da entrada no
espaço da União Europeia.
Deste facto resultou um repovoamento do
espaço geográfico português, embora não necessariamente uniformemente,
acentuando a tendência para a “fuga” do interior, mas igualmente uma tendência
de “rejuvenescimento” geral da população devido à baixa média de idades destes
novos emigrantes, mas também dos filhos que entretanto haveriam de nascer por
cá.
Os tempos mais recentes vieram,
contudo, inverter uma vez mais esta tendência, sobretudo em função de um
crescente desemprego que “democraticamente” afectou tanto os que por cá
“moravam” anteriormente como aqueles que haviam decidido (re)fazer as suas
vidas neste “jardim da Europa à beira-mar plantado”.
A questão é que o país de outrora,
analfabeto e parco de competências, havia-se entretanto tornado num país de
matriz europeia, com índices escolaridade e de especialização incomparavelmente
superiores aos que existiam a geração dos seus avós.
E é agora esta mesma geração que,
aparentemente, volta a deixar o seu local de nascença, naquilo a que,
curiosamente, se passou a designar de “fuga de cérebros”, o correspondente a
uma emigração em massa de indivíduos com aptidões técnicas ou conhecimentos resultantes
da sua formação universitária.
O “custo” para o país de uma tal
situação é evidente, não apenas ao nível económico tendo em conta a diminuição
do número de potenciais contribuintes, mas igualmente ao nível social tendo em
conta que estes novos emigrantes vão colocar em prática a sua formação de base
noutro território que não aquele que havia precisamente investido nessa mesma
formação, o que configura um exemplo flagrante de desperdício de recursos.
Mas tem também um custo demográfico,
expresso na diminuição acentuada de nascimentos em cada ano face ao número de
óbitos nesse mesmo período e é precisamente nesta vertente que reside a maior
ameaça. É que, tal como sucedeu a muitos daqueles que daqui partiram na década
de 70, não haverá o correspondente movimento inverso de regresso, ou se tal
vier a acontecer, será apenas para um dia morrer na terra que os viu nascer.
Assim vão as cousas.
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